Por Elias de Lemos – eliasdelemos@correio9.com.br
O trabalho dos historiadores será difícil no futuro. Eles terão certa dificuldade para falar dos fatos que ocorreram durante as eleições em 2018. Foi o processo eleitoral mais conturbado e bizarro da história eleitoral em períodos democráticos no Brasil. As surpresas vieram de todos os níveis políticos. As novidades emergidas desta eleição mudarão, indelevelmente, a maneira de fazer campanha política para as próximas eleições.
Os dois pontos mais marcantes desta eleição foram o protagonismo, de um lado, de um preso-candidato a presidente liderando as pesquisas de intenção de votos. De outro lado, um capitão da Reserva do Exército Brasileiro, em segundo lugar. Este, sem estrutura partidária, sem coordenação de campanha, com pouco dinheiro para financiar os gastos eleitorais e com as mídias nacional e internacional contra a sua candidatura.
Lula foi candidato de dentro da prisão. Depois, não pôde ser candidato, mas, mesmo assim, comandou – de lá – a campanha do seu substituto, Fernando Haddad. E, mesmo Haddad, sendo, até então, um desconhecido, chegou ao segundo turno.
Ironicamente, o Brasil tem 30 facções criminosas espalhadas pelas 27 unidades da federação. Todas elas são comandadas de dentro de presídios.
O partido de Lula e Haddad (o PT) está com a pecha de ser o mais corrupto da história política brasileira. Se isto é verdade, só a história poderá mostrar. Porém, com Lula condenado e preso na Polícia Federal em Curitiba, a maneira como o PT entrou, e ‘subiu’, na campanha eleitoral de 2018 foi algo ambíguo. Como isso é possível?
O antagonista dos petistas – o candidato-presidente-eleito – Jair Bolsonaro (PSL) se lançou sozinho ao mar. Bolsonaro contava com uma base de apoio muito simples, pequena e sem criatividade, composta pelos seus filhos, e um pequeno grupo (mas da elite) dos militares.
A campanha de Bolsonaro pode ser analisada a partir da facada. Ele andava tão desprovido de segurança, que seus acompanhantes não foram capazes de impedir que ele levasse uma facada.
A partir da facada, temos outro ponto esquisito: se, antes, havia um candidato preso, agora, passa a existir, também, um candidato-não-candidato; hospitalizado, fragilizado, fora do campo de campanha, mas mantendo o ritmo e a estabilidade de votos.
Na reta final da eleição, começaram os movimentos #elenão e #todoscontrabolsonaro. Na última semana, o resultado ‘parecia’ indefinido. No meio da manhã do dia 28 de novembro, eu conversei com a articulista do Correio9, Eliana Maria Lemos. Ela estava trabalhando na pesquisa de boca de urna, em São Paulo, para o Instituto Ipsos. Ela me disse: “Bolsonaro vai ganhar”.
Por que Bolsonaro ganhou? Por que, contra tudo e contra todos, ele foi eleito com uma vantagem de mais de 10 milhões de votos?
Bolsonaro é tachado de tudo, por seus oponentes. Alguns o consideram um “burro”, mas se isso é verdade, só o tempo poderá mostrar.
Acontece que, a partir da Lava Jato, do impeachment da ex-presidente Dilma, da frustração do governo Temer e da prisão do ex-presidente Lula, houve uma vacância de poder no país. Com tanta corrupção – por todos os lados – a população percebeu que a ladroagem é geral. Daí, o país ficou sem liderança política. Foi neste vácuo que Bolsonaro entrou.
Quando percebeu o quanto vem sendo roubada, a população ficou desiludida. Qualquer pessoa que já sofreu um assalto sabe o quanto isto é angustiante (eu já passei por oito). Os eleitores de Bolsonaro se apegaram naquele que apresentou ficha-limpa, prometendo acabar com a corrupção.
Bolsonaro assusta e agrada pelo mesmo motivo. Ele assusta, porque é autêntico: não tem medo de falar; não fala para agradar; fala o que pensa; doa a quem doer; não fica mentindo como os outros. Ele agrada pela mesma razão: não tem medo de desagradar; pode, até, falar sem pensar, mas sustenta o que fala; não fica negando o que disse, nem o que fez; não fica mentindo como os outros.
Bolsonaro desagrada e agrada porque é verdadeiro!
Para seus eleitores, não importa se Bolsonaro entende de economia, ou de qualquer outra coisa. O que importa é que eles confiam no que ele diz, porque, até agora, ele não foi apanhado em nenhum delito ‘grave’.
Aliás, todo mundo sabe que Itamar Franco (quando substituiu Collor, em 1992) não entendia muita coisa. Uma de suas primeiras medidas foi a proposta da volta da fabricação do Fusca. Na época, apareceu um ditado popular: “que Itamar Franco queria a volta do Fusca, porque não sabia dirigir Brasília”, em alusão ao modelo de carro (Brasília).
Pelo menos Bolsonaro está propondo a conclusão da usina Nuclear de Angra 3, algo tecnológico e não retrógrado. Se Itamar não sabia dirigir – sequer – uma Brasília, Bolsonaro se apresenta capaz de comandar uma usina. O problema pode ser a radiação!
O ‘Top 5’ da Eleição
O professor e consultor de marketing digital Marcelo Vitorino fez uma pesquisa em seu blog e reuniu os cinco momentos mais bizarros da eleição presidencial de 2018.
5. Candidato esfaqueado
Em 2014, tivemos um candidato que foi vítima de acidente aéreo, Eduardo Campos. Nesta eleição tivemos um presidenciável esfaqueado, o que ocorreu com Jair Bolsonaro, ainda no primeiro turno, o que o tirou das ruas e dos debates.
4. O apoio amigo de Cid Gomes à Haddad
Constrangedor é um termo que não se explica ao que aconteceu durante um evento em favor de Haddad, no segundo turno. Nele, Cid Gomes resolve manifestar seu apoio de forma crítica e contundente. Ao responder a um militante, sobrou até para o ex-presidente Lula: “O Lula tá preso, babaca”. Imperdível.
3. O (des)preparo de Álvaro Dias para os debates
Os debates televisionados representam os momentos mais delicados de campanhas majoritárias. O realizado pela Globo é, sem dúvida, o mais importante do calendário dos debates. Ao ser convidado a fazer uma pergunta ao candidato Henrique Meirelles, o presidenciável Álvaro Dias começou a ‘tietar’ o apresentador e se esqueceu do tempo. Ao iniciar a pergunta, foi interrompido e o apresentador convidou Meirelles a responder a pergunta que não foi feita.
2. No meio do caminho havia um monte
Se a eleição foi, completamente, surreal, uma figura ímpar tomou conta das conversas de bar: Cabo Daciolo, presidenciável que logo nos primeiros debates acusou Ciro Gomes de ser fundador do Foro de São Paulo e de fazer parte da Ursal – sabe-se lá o que isso quer dizer. ‘Glória a Deuxx”, se tornou um bordão.
1. Candidato preso
Sim, o poço tem um fundo. E nós chegamos a ele. Se você que está lendo é eleitor de esquerda, vai discordar disso, mas, reflita e faça-se uma pergunta, esquecendo o caráter ideológico: “É considerado normal ter uma candidatura, cujo cabeça de chapa está preso?”
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