Elias de Lemos (Correio9)
Há muito tempo que as bicicletas deixaram de ser brinquedos de criança. Elas estão cada vez mais presentes nas grandes cidades, onde facilitam os deslocamentos e ajudam a fugir dos garrafões que são os trânsitos em muitas delas. No entanto, além de meio de transporte, a bike é uma excelente opção para a prática de esporte e aventura.
Problemas como sobrepeso, colesterol e dores nos ossos podem ser reduzidos diante de uma rotina com uma bicicleta. E ajudam a combater aquelas dores nas costas, que incomodam demais e, quando vão embora, não deixam saudades.
É que, pedalar envolve esforço físico, equilíbrio e foco. Porém, não é por isso que deixa de ser divertido. Seguindo um ritmo adequado, é possível acelerar aos poucos até que o praticante identifique suas próprias condições e se sinta capaz e em liberdade.
E Nova Venécia possui uma gama de pedaleiros, com aproximadamente 200 praticantes, que se espalham em grupos cuja turma não para de crescer. Eles realizam aventuras em trajetos locais, mas, também aceitam e enfrentam desafios como pedalar quilômetros indo e vindo, apenas, pelo prazer que sentem sobre as “magrelas”.
A reportagem do Correio9 conversou com alguns desses apaixonados por bicicletas, que relataram suas experiências, aventuras e o que os levaram à adoção da rotina sobre duas rodas.
Um deles é o policial militar Uberacy (Bira) Oliveira Costa, de 59 anos, um dos pioneiros do movimento, tendo começado há mais de 20 anos, e que não dispensa uma aventura de bicicleta. Em novembro de 2023, ele pedalou de Nova Venécia, passando por São Mateus, Conceição da Barra e Itaúnas, totalizando um percurso de 230 quilômetros (km) entre ida e volta. Um detalhe: ele ficou apenas meia-hora no destino e em seguida, tomou o caminho de volta.
Segundo ele, não há um padrão para a prática do ciclismo em Nova Venécia: “Cada um tem um ritmo, uma vontade, condições físicas diferentes… Os desafios mais longos, por exemplo, exigem mais. Mas, há muitos praticantes que se valem das bicicletas para a prática e exploração de locais por aqui mesmo, em trechos mais curtos. Eu não dispenso uma volta de bike para visitar lugares nas redondezas e no interior de Nova Venécia”.
Bira falou do Desafio 200zTÃO, em que ele, Camila e Nina participaram e, apenas os três, em Nova Venécia, têm certificado dessa prova.
Desafios sucessivos
No primeiro fim de semana de março (2024) um grupo se impôs a mais um desafio, saindo de Nova Venécia, passando pelos municípios de São Gabriel da Palha, São Domingos do Norte e Águia Branca, incluindo as localidades de Boa Vista, Guararema, Cedrolândia e Cristalina, para retornar ao ponto de partida. Foi um desafio de nada mais, nada menos, 164 quilômetros. Haja fôlego!
Mas, a turma tem fôlego! No último fim de semana o destino foi o município de Jaguaré, pedalando 110 km, entre ida e volta.
A próxima jornada já está na agenda: no próximo domingo (17 de março), a aventura tem Itaúnas como destino. Quatro “bicicleteiros e bicicleteiras” já confirmaram: sendo Bira (que não perde uma), Nina, Jhemily e Goiano (Valter Virgulino da Silva).
Depois, no dia 6 de abril, os pedaleiros vão fazer o “Desafio da Fé”, saindo de São Gabriel da Palha, rumo ao Convento da Penha, na cidade de Vila Velha, para homenagear Nossa Senhora da Penha, a Padroeira do Estado do Espírito Santo.
O desafio até ao Convento compreende um percurso de 257,6 km e, até agora, estão confirmadas as participações de seis pedaleiros: Bira, Nina, Camila, Jhemilly, Daniela e Goiano.
Ciclista e preparador
Danilo Vieira da Silva é outro que faz parte da turma do pedal. Ele já participou de muitas provas e desafios pessoais. Já foi de Nova Venécia a Vitória, pedalando, e voltou em menos de 24 horas. É um campeão que já ganhou provas de 12 horas. Além de pedalar, e muito, ele atua na preparação de atletas.
De acordo com ele, a preparação é feita com formato de assessoria e mentoria no esporte, por meio de programas de treinos montados de acordo com a necessidade de cada atleta e com base na individualidade biológica de cada um.
Ele ressalta que para quem tem constância na prática, a preparação é contínua, porém, muitos dos que praticam o esporte, fazem sem acompanhamento, sem seguir uma preparação específica.
Ele explica como são feitos os programas: “No caso de pessoas que buscam um profissional para montagem de um programa de treino, são exigidos alguns testes de esforço físico e, anualmente, é importante fazer testes na esteira, com o acompanhamento de um cardiologista para verificar o estado de saúde desse atleta”.
Danilo explica que existem várias formas de desafio: “Por exemplo, existe o passeio: o cara sai daqui (Nova Venécia) e vai até Vitória, pedalando, mas, sem se preocupar com o tempo, sem se preocupar com nada; ele vai se arriscando, se aventurando. Esse é um desafio pesado para quem não está preparado, mas, é menos preocupante do que um desafio maior, como participação em prova, por exemplo. Porque existe prova que dura sete dias de mountain bike, ou que dure um dia só, mas, com a duração de tempo bem grande, percurso pesado e com intensidade. Tem tudo isso. Porém, a grande maioria dos ciclistas de nossa cidade (Nova Venécia) não é de competidores. Os competidores formam um grupo pequeno que treina de forma correta, porque visam competições. Essa galera que faz desafios, como ir a Vitória pedalando, corre o risco de se lesionar, de gerar uma sobrecarga maior”.
Mountain Bike (MTB)
Nina Pettene, a popular Nina da Bike, também faz parte da turma do pedal. Ela disse que não é fã de fazer trilha, mas, é apaixonada por mountain bike.
“Eu sempre gostei de exercício físico, pratico academia há mais de 20 anos e no decorrer da minha vida conheci várias pessoas no esporte. Uma delas pedalava como passeio até a Gameleira. Um dia fui convidada a ir de bike. Fui e gostei! Comecei com uma bike de entrada e logo me apaixonei pelo esporte. Assim, fui investindo mais no esporte e na bike”, disse ela.
Nina participa de desafios há aproximadamente 7 anos. Ela ressalta a participação no desafio dos 200Ztão, promovido pelo grupo Guerreiros das Montanhas. E no mês de abril vai integrar o grupo que vai ao Convento da Penha.
De acordo com ela, o ciclismo é um “esporte maravilhoso pela sensação de liberdade que a gente tem, nós conhecemos lugares lindos, isso nos traz uma sensação muito boa. Pedalamos na maioria das vezes por diversão. Frequentemente saímos com hora de saída, mas sem hora para voltar. É um esporte leve que proporciona leveza à alma e por mais quilômetros que fazemos, a sensação é de que chegamos mais leves em casa. Digo que o ciclismo MTB é um exercício para a alma e, por consequência, temos contribuição para a saúde mental e física”.
Um esporte viciante
Camila Frisso Callegari Delevidove é outra pedaleira. Ela está no esporte há, aproximadamente, 10 anos: “Já participei de algumas competições, porém, na pandemia eu parei de treinar e estamos voltando com mais frequência do ano passado pra cá. Pois, para competição, tem que se dedicar muito tempo e dedicação para os treinos.
A reportagem do Correio9 perguntou a ela o que despertou o interesse pelo esporte: “Na verdade, eu pratico esportes desde a infância, ando de bicicleta desde os 10 anos de idade, quando ganhei uma bicicleta do meu avô. É importante ressaltar que andar de bicicleta de vez em quando é diferente de praticar ciclismo. O ciclista tem a preocupação de usar todos os equipamentos e acessórios necessários para a segurança no pedal. Por exemplo: capacete, luvas, óculos, lanterna, pisca alerta (para o pedal à noite), roupa apropriada para ciclismo, entre outros acessórios. Nesse caso, eu andava de bike, mas, não era ciclista (risos)”.
Camila explicou, ainda: “O meu irmão começou a pedalar primeiro, eu também já conhecia alguns ciclistas, daí, comprei uma de segunda mão e comecei a pedalar com o pessoal fazendo o percurso da Gameleira, sempre às segundas-feiras, e até hoje tem esse grupo do pedal do incentivo, que tem como idealizador o Fabiano Sarinho. Assim, comecei a evoluir no pedal e a gostar cada vez mais e estou, até hoje, pedalando com a Equipe do Bike Saúde Elefante Club, que conta sempre com o incentivo do nosso amigo esportivo, o Bira. Desde então, sempre organizamos pedal com a turma, inclusive, com equipes das cidades vizinhas também”.
“São lançados, também, alguns desafios, como o Pedal do 200zTÃO, no qual o ciclista tem que fazer o percurso em 24 horas e, a maior parte, deve ser feita em estrada de chão e, também, o pedal para Vila Velha (Desafio da Fé), quando haverá a união de ciclistas de vários municípios”.
Ela encerra sua fala ao Correio9 com um incentivo: “Para finalizar, minha opinião particular é que o pedal preserva a saúde, é um ‘remédio’ saudável sem contra-indicações e o efeito colateral é que pode ser viciante e você não vai querer parar. Além de fazer bem para o físico, faz bem para a mente”.
Kassio Toneto de Oliveira é outro que faz parte da trupe. Ele entrou no movimento há aproximadamente cinco anos, pensando em melhorar os cuidados com a saúde em primeiro lugar. Pedala por diversão, mas, também, encara desafios.
Ele lembra que “é sempre bom elevar os limites e ver como está o condicionamento físico”, mas, destaca que tudo dentro dos limites, sem esforços que possam prejudicar, em vez de ajudar.
De acordo com ele, hoje em dia, não faz acompanhamento com profissionais da área de orientação, mas, “antigamente, tinha acompanhamento com nutricionista e preparação física em academia”.
Questionado sobre o que significa o pedal para ele, Kassio é direto: “Cara, o melhor de andar de bike são as amizades que a gente encontra. É muito divertido!”.
E o Kassio tem estrada, ele já fez três vezes o trajeto até a Lagoa Juparanã, em Linhares. São 111 km.
Participou uma vez do Brasil Ride Warm UP Linhares; Brasil Ride, Arraial d´Ajuda, Bahia; desafio Nova Venécia a Vitória e vários pedais regionais: São Gabriel da Palha, Boa Esperança, Pinheiros, Montanha e foi sozinho a Vitória.
Pedal do incentivo
O movimento dos pedaleiros não tem restrição e os que já têm experiência atuam no estímulo aos interessados em começar. Todas as segundas-feiras tem o “pedal do incentivo”.
O “pedal do incentivo” é para iniciantes de todas as idades, com percurso máximo de 20 km, tendo como ponto de encontro a Praça do Imigrante (praça do Banestes), sempre às 18h30m, com destino à Gameleira.
Um esporte para todas as idades
Outra coisa: para o pedal, não tem idade! Antônio Bellucio, mais conhecido por Nico, é um pedaleiro de 74 anos que deixa muitos jovens no “chinelo”. Ele pedala em média 400 km por mês. E quando não vai de bicicleta, vai a pé: “Os dias que não pedalo, faço 7 km de caminhada”.
Nico revelou à reportagem do Correio9 que praticava futebol: “Eu jogava bola, mas, comecei a sentir problemas nos joelhos, artrose, que me impediram de continuar. Daí, para não ficar parado, comecei a pedalar. Aderi à bike em 2010 e não parei mais. É apaixonante!”.
Ele disse que não participa de competições, nem desafios. Porém, é por simples modéstia, pois, frequentemente encara a estrada e vai a Guriri e volta sobre sua bicicleta. Quer desafio maior para um “jovem” de 74 anos?
De acordo com ele, seu principal objetivo no esporte é a manutenção das saúdes física e mental: “pedalar contribui para a manutenção do vigor físico, e me traz muita paz. É excepcional!”.
Ele disse que não escolhe, nem tem rotas específicas, anda muito pelo interior do município de Nova Venécia e, como todo bom pedaleiro, a rota da Gameleira é indispensável.
Segundo Nico, ele costumava pedalar “muito com galera”, depois da pandemia tem andado sozinho.
Se por um lado a prática esportiva contribui para a saúde, por outro, as condições físicas contribuem para o exercício de bicicleta. Neste sentido ele faz um check–up uma vez por ano.
Se você ainda não pedala, está aí uma boa chance de se aventurar, sair da zona de conforto e perceber que a aventura está sempre no desconhecido, onde não se sabe o que há, naquele lugar cheio de incertezas, que outras pessoas não experimentaram e não podem dar um testemunho.
A aventura não está naquilo que é conhecido de todos, que todos estão acostumados. Não há aventura em ir a Guriri de ônibus ou de carro, mas, de bicicleta…
Aqueles que nunca viajaram de bicicleta poderão experimentar uma experiência agradável e para começar, o “pedal do incentivo” está aí.
E você, quer se aventurar de verdade? O que está esperando?
Algumas trilhas na região de Nova Venécia
Gameleira
Trilha do Elefante
Km 41 (Nestor Gomes)
Vila Pavão
Patrimônio do Bis.
Córrego do Refrigério
Cachoeira
Zumbi dos Palmares
Rampa do Véinho
Veja imagens da turma do pedal:
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