OPINIÃO
* Billy Baldo
O céu parecia azul quando os novos vereadores, prefeito e vice-prefeito tomaram posse em janeiro de 2021, em Nova Venécia. No entanto, prestes a completar sete meses de mandato, parece que a realidade é bem diferente da teoria dos discursos de campanha.
Inicialmente, a nova legislatura parecia um bloco único com ideias para o município, disposto a arregaçar as mangas e agir. Porém, pouco mais de um mês de iniciados os mandatos, com a apresentação do projeto que permite a contratação de parentes de doadores de campanha, apareceu a primeira polêmica. A proposta encurralou vários vereadores que se viram obrigados a retroceder.
Posteriormente, a indicação para retirada das pilastras da antiga ponte sobre o Rio Cricaré foi uma arapuca que caiu sobre todos os 13 representantes da Casa. Novamente, vários voltaram atrás. Até aqui tudo bem.
Porém, a votação desta semana – que revogou a proibição de contratação de parentes de doadores de campanha para cargos comissionados no serviço público municipal – demonstrou a tendência do posicionamento dos vereadores daqui adiante.
Normalmente, em votações comuns, o presidente não vota. Desse modo, dos 13, restam 12 votantes e, em caso de empate, como aconteceu, o presidente tem o voto de minerva. E o resultado da votação quer dizer muita coisa.
A sessão foi tensa e o debate intenso. Ao fim, seis vereadores de cada lado. E nesse ponto é preciso observar as motivações de cada bloco. Quem votou a favor, o fez por quê? E os contrários votaram por quais motivos?
“O voto do vereador é inviolável”, com esta frase, alguns parlamentares justificaram seus posicionamentos favoráveis. E eles mesmos explicaram o uso da frase: de que foram eleitos e por isso decidem como votar.
Já os discordantes apresentaram muitos questionamentos e explicações para a aprovação do parecer da Comissão Permanente de Constituição, Justiça e Redação Final, que foi pela rejeição da proposta.
Essa história do “voto inviolável” foi a explicação enviada à população indignada com a questão em pauta. Se é inviolável, cabe ao vereador e a mais ninguém a decisão de ser contra ou a favor.
Por outro lado, o grupo que votou contra levou em conta o apelo popular. Votou em consonância com o desejo da população.
São estas duas maneiras de encarar a forma de votar que rachou a Câmara e deixa transparecer a conduta do Legislativo daqui para frente.
Cada bloco teve uma motivação para votar. Na votação dos opositores a ideia parece mais compreensível, pois em várias ocasiões têm seguido a mesma postura, procurando manter a sintonia com a vontade de quem os elegeu: o povo veneciano.
Por outro lado, não estão claras as intenções dos nobres edis que votaram contra tudo e contra todos. Pela revolta causada na cidade, pelo estardalhaço nas redes sociais, com memes e áudios circulando como rastilho de pólvora, não seria exagero dizer que, apenas, os sete consideram a proposta necessária e importante para o município.
É difícil entender o benefício desse projeto quando mais de 50 mil pessoas são contra ele. Além dos vereadores que estão sendo chicoteados, quem mais pode usufruir de alguma benesse disso? A dedução é que esses vereadores têm muita gente a empregar na Câmara e na Prefeitura ou existem outros interesses nisso, os quais ainda não apareceram.
Se o interesse é dos vereadores favoráveis, eles demonstram que enganaram a população. Se existir outro mérito, não muda nada: enganaram do mesmo modo. Mas, isso só será possível saber mais à frente, quando o projeto 2/2021 começar a ser colocado em prática e os beneficiários começarem a ser nomeados.
De uma forma ou de outra a sessão de terça-feira deixou claro com quais deles a população pode contar, pode reclamar e sabe que será ouvida.
Esclareceu, ainda, que há sim na Câmara um grupo de parlamentares que está fazendo ouvidos moucos. Que não está nem aí para os apelos que ouvem. Esse filme não é antigo e daqui a pouco mais de três anos os venecianos terão a oportunidade de reescrever este triste roteiro.
* O autor é diretor do Jornal Correio9
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