
Na véspera do dia em que se comemora Internacionalmente o dia das lutas femininas, o professor doutor Weverton Pereira do Sacramento lança a edição História da sexualidade e das relações de gênero na Revista Rumos da História com o objetivo de ir além das homenagens através dos artigos que visam incentivar o debate sobre temas atuais como a sexualidade e as relações de gênero e estabelecer o entrelaçamento de como elas influenciam e são influenciadas pelo contexto histórico.
Acredita o professor, autor e editor desta edição da Revista, prof. Weverton, que é preciso muito mais do que homenagens, para o professor é fundamental que a sociedade discuta de maneira aberta e sincera a condição das mulheres e das minorias buscando entender porque se estabeleceu o preconceito contra a mulher que vai desde os salários mais baixos para desempenhar mesma função até a violência física e psicológica.
Para ele é preciso compreender como estes valores foram construídos historicamente, qual o mecanismo usa para se perpetuar, pois só assim seremos capazes de construir novos valores e atitudes que superem o machismo, a misoginia, a homofobia e todas as formas odiosas de julgar os outros que esquecem o respeito pelo próximo e a nossa condição humana que nos torna a todos, sem distinção, de filhas e filhos do mesmo Criador.
A edição da revista que pode ser acessada gratuitamente em https://www.rumosdahistoria.com/edio-atual traz seis artigos, o primeiro escrito pelo prof. Weverton “História e representações sociais da sexualidade” apresenta um breve resumo da história da sexualidade, numa abordagem que busca evidenciar a influência da propriedade privada e das relações de poder nas construções e nas representações sociais da sexualidade.
O segundo artigo “O espelho obsceno: perfis e condutas femininas indecentes na Fortaleza oitocentista” de Nicodemos Zacarias da Silva, mestrando na UFCE, analisa como os discursos narrativos presentes nos documentos judiciais de Fortaleza, entre 1840 a 1890, baseados em valores religiosos, estabeleceram normas de feminilidade que transformaram em transgressão da lei práticas e experiências comuns do cotidiano. Evidencia as relações de poder entre os gêneros com clara imposição de submissão do feminino ao masculino e o poder da religião sobre o Estado.
O terceiro artigo “A infidelidade feminina nos processos de desquite (Porto Alegre, década de 1930)” de Amanda Carlo Ramos, mestranda na UFRGS, analisa como a construção do conceito de infidelidade feminina sofreu influência de gênero produzindo um discurso que possibilita vigilância e controle da sexualidade e dos corpos femininos por parte da sociedade.
O quarto artigo “Masculinidades, Terrorismo de Estado e a lógica do butim de guerra” de Emerson Flores Gracia, mestrando na UFRGS, analisa como as Ditaduras de Segurança Nacional no Cone Sul: Brasil, Uruguai, Chile e Argentina, forjaram um estado de guerra para combater os ideais de esquerda destacando como as concepções de masculinidade e feminilidade dos policiais e militares fizeram com que a repressão à mulher fosse ainda mais severa.
O quinto artigo “Por uma metodologia feminista: pensando textos da prosopografia e da micro história a partir de uma perspectiva de gênero” de Augusta da Silveira de Oliveira, mestranda na UFRGS, problematiza as categorias fixas de sujeitos canonizados pelos estudos historiográficos como se esses precisassem apenas ser descobertos pelos historiadores, da mesma forma questiona a suposta imparcialidade do historiador. Evidenciando a necessidade de uma prosopografia que considere o gênero e suas relações nas narrativas dos fatos históricos.
O sexto artigo “ Será a senhorita tão severa em relação a seu próprio sexo” (?): Sociedade, Família e Casamento em Orgulho e Preconceito de Jane Austen (1775-1817)” de Marina Pereira Outeiro, mestranda na UFRGS, apresenta a ascensão do romance como gênero literário e como casamento, família e felicidade são abordados na obra Orgulho e Preconceito de Jane Austen, destacando as relações de gênero da sociedade inglesa do século XVIII. O leitor tem à disposição seis artigos dos quais, um apresenta um breve histórico sobre a sexualidade destacando as representações sociais sobre homossexualidade e a estreita relação com a representação das feminilidades, quatro focam nas questões femininas, o que era de se esperar já que a discussão sobre gênero surge exatamente da demanda feminina por reconhecimento de sua contribuição para a construção da humanidade, um artigo aborda a construção das masculinidades, não por a caso esse artigo é contextualizado em ambientes militares e situações de conflitos, em guerras simbólicas contra ideologias não hegemônicas onde se evidenciou adotar estratégias similares às de guerras bélicas tradicionais situações em que se verifica exacerbação das características da masculinidade hegemônica.
Uma excelente homenagem às mulheres e consequentemente a toda a sociedade é estudar para que ocorra verdadeira mudança de atitude superando a homenagem verborrágica e hipócrita.
Parabéns a todas as mulheres que ousaram!
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