Uma indicação da Câmara de Vereadores, ao prefeito de Nova Venécia, André Fagundes (PDT), promete tirar o sossego do poder Legislativo nas próximas semanas. Trata-se da indicação 88/2021 que solicita a retirada dos pilares da velha ponte de madeira sobre o Rio Cricaré, ao lado da atual Ponte Christiano Dias Lopes, no Centro da cidade.
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Sem nenhum estudo técnico que justifique a medida, nem cálculos do custo da operação, o documento em tramitação foi assinado pelos 13 vereadores.
Tão logo a indicação foi divulgada, defensores da memória e do patrimônio histórico do município entraram em cena e já começaram uma mobilização contrária a ideia.
A justificativa contrária a destruição e remoção dos pilares de pedra da velha ponte de Nova Venécia é que eles foram construídos entre 1924-1926 e fazem parte da história veneciana. Para o historiador Rogério Piva, a iniciativa é “mais uma ideia estapafúrdia defendida, como podem ver, por todos os vereadores dessa legislatura”.
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Segundo Rogério, em 2015 a Câmara levantou essa ideia e na época houve uma grande movimentação contrária. Na ocasião, o saudoso Geda Coser foi uma das vozes discordantes.
Rogério argumenta que pelo menos três grandes intervenções nas imediações da ponte não tiveram nenhum estudo e colaboram com a ocorrência de enchentes: “Eu gostaria de ver um estudo técnico com um laudo de um engenheiro afirmando que os pilares são a causa das enchentes na cidade de Nova Venécia. Na verdade, para mim, a mudança na ponte Christiano Dias Lopes Filho, o aumento da represa da Cachoeira Grande (feito pela Cesan em 1997) juntamente com o muro de arrimo da Praça Adélio Lubiana são elementos de um processo de urbanização descontrolada, sem planejamento, que geraram uma situação anormal como aquela enchente de 2013. Os pilares sempre estiveram ali e nunca causaram nenhum problema”.
O historiador é membro titular da Câmara de Memória e Patrimônio Cultural Material e do Conselho Municipal de Política Cultural de Nova Venécia (CMPC-NV) e está solicitando que seja feita uma audiência com o prefeito para que seja discutida a importância das ruínas da antiga ponte. “São vestígios que identificam a Nova Venécia de hoje com a Nova Venécia do passado”, disse Rogério.
“Eu nasci aqui, tenho minha família, meu filho aqui e é muito triste ver vereadores que não fazem nada pela cultura, que não levantam uma vírgula pela cultura local e pela memória do município terem uma iniciativa dessa. E reparem que a indicação é assinada por todos os vereadores”, desabafou Rogério que, desde a infância, trabalha pela cultura e história do município.
Ele falou das construções irregulares dentro do rio e defendeu o tombamento das ruínas como patrimônio histórico de Nova Venécia.
Defensores da preservação estão se mobilizando para convencer os vereadores, que para Rogério, não estão enxergando a importância da conservação da história. “Ninguém quer briga, nem polêmica, mas a polêmica já foi gerada. Me parece que a indicação vai ser votada na sessão da próxima terça-feira (27) e eu gostaria muito de que, antes disso, os vereadores reconhecessem o tamanho do equívoco que estão cometendo e que retirassem a ideia de pauta, antes da votação. Todo mundo gosta de olhar as fotos antigas, então, por que não preservar, em vez de ficar lembrando por fotos?”, finalizou.
SOBRE A HISTÓRIA DA PONTE, ORIGINALMENTE PUBLICADA NO BLOG PROJETO PIP-NUK EM 2015
UMA PONTE TAMBÉM FAZ PARTE DA HISTÓRIA…
Fonte: MENSAGEM FINAL apresentada pelo Exmo. Snr. Presidente do Estado do Espírito Santo, Dr. Florentino Avidos, ao Congresso Legislativo, a 15 de Junho de 1928. Foto impressa em papel couchê entre as folhas 220 e 221.
Esta foto apresenta a outrora “Villa” de Nova Venécia em 1925. O objetivo era mostrar a “nova” ponte que o Governo do Estado fez construir com pilares de alvenaria de pedra e sobre estrutura de madeira, com cerca de 106 metros de comprimento sobre o rio São Mateus.
Em 1928 a MENSAGEM FINAL (uma luxuosa publicação, espécie de relatório da gestão do presidente do estado “Florentino Avidos” apresentou aquela que ao que parece é a primeira imagem fotográfica de Nova Venécia. A legenda traz o ano de 1925, porém é provável que a foto seja de 1926 ou até 1927.
Esta ponte aqui em Nova Venécia, marcou a intensificação da colonização ao norte do rio Cricaré (braço sul do rio São Mateus). Somente a partir de sua construção é que regiões como o Córrego da Areia ou do Refrigério serão desbravadas.
Ela faz parte de um conjunto de obras governamentais que também engloba a famosa ponte Florentino Avidos em Colatina, e outra de mesmo nome ligando a ilha de Vitória ao continente construídas na mesma época. Em Nova Venécia os antigos a conheciam como ponte do Lolô, uma referência a Eleosippo Rodrigues da Cunha, filho do Barão de Aymorés, que era presidente da Câmara Municipal de São Mateus (o que na época equivalia ao cargo de prefeito hoje) e executou a obra para o governo estadual. O fato gerou o equívoco de muitos pensarem que a ponte foi construída por ele com recursos próprios. Acreditamos também que não se fez força para divulgar que era uma obra com recursos do governo estadual. Coisas da política, vejam que nada é novo.
A obra teve início em 1924 antes de findar o governo do coronel Nestor Gomes (1920-1924) que foi sucedido por Florentino Avidos (na época a posse era no dia da colonização do solo espírito santense – 23 de maio). Antes de findar o mandato de Florentino (1924-1928) a ponte foi concluída mas parece que sofreu danos devido a uma enchente entre 1926 ou 1927. Nos anos 1940, 1950 e 1960, a velha ponte de madeira já não possuía mais seu corrimão. Em 1968 com a inauguração da nova ponte Christiano Dias Lopes Filho, o então governador, a ponte foi abandonada e lhe retiraram a estrutura de madeira restando somente os pilares feitos com pedra e cimento, que são contemporâneos a Casa de Pedra do Battista Perletti (que funcionou como pila de café com máquina a vapor) e a saudosa EFSM – Estrada de Ferro São Matheus, cuja estação foi inaugurada em 1929. Destes somente velhas fotos, a casa de pedra e os antigos pilares sobreviveram às gerações como marcas da evolução urbana de Nova Venécia.
Os pilares da velha ponte fazem parte da nossa paisagem urbana e como tal devem ser preservados como testemunho físico de nosso passado. Construídos na década de 1920 relembram aqueles anos “loucos” ou “felizes” do pós-guerra onde a conquista do norte capixaba foi alavancada.
Louco ou melhor “ignorante” no sentido de que “ignora” nosso passado é aquele ou aqueles que articulam a destruição desse PATRIMÔNIO CULTURAL VENECIANO.
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