
Viva Santo Antônio, São Pedro e São João! Não é carnaval. É o forró junino que invade e contagia. Não tem circuito, mas tem folia. Do primeiro ao último dia… Durante o mês inteiro, mas depois, também, continua. Assim é o Grupo de Cultura Junina Arraiá Di Venézia. Um grupo de quadrilha, de Nova Venécia, que se encarregou de iniciar a folia bem antes de junho, e, não faz nenhuma questão de terminar no final do mês. Quando junho chega, o grupo dança exibindo um belo colorido nas indumentárias típicas da tradição, mas, esta é apenas uma parte.

A formação atual do grupo começou a ser construída, no ano de 2009, com o resgate do evento junino, a partir da reunião de grupos de escolas da cidade. Naquele momento foram formados grupos de dança junina. Mas foi a partir de 2011, no Fórum Nacional de Cultura Junina, realizado em Aracaju, pela Confederação Nacional de Quadrilhas, Conaqj, que se estabeleceu uma nomenclatura única a ser adotada nacionalmente. Desde então a popular “quadrilha” passou à denominação de “Grupo de Dança Junina”.
Naquele ano, de 2011, o grupo contou com a participação de quinze bairros da zona urbana de Nova Venécia e mais dois assentamentos da zona rural. Até 2012 a gestão, a preparação e a manutenção eram vinculadas à administração pública do município. Porém em 2013 aconteceu a grande virada. Foi quando o Grupo de Cultura Junina Arraiá Di Venézia ganhou vida própria e se apresentou de forma independente, tendo repetido o feito no ano seguinte.

Mas em 2015 veio um “banho de água fria”, quando, sem incentivo, e sem condições de se autofinanciar, o grupo paralisou, voltando a se constituir em 2016. Para isto, passou a contar com o apoio do deputado padre Honório, através do projeto “Interagir para Construir”.
O coordenador do grupo, Francislei da Rocha Ferreira, o Duda, explicou, ao Correio9, que a partir do Fórum, além da nomenclatura padronizada, o Arraiá Di Venézia introduziu um elemento novo: da quadrilha tradicional, o grupo evoluiu para a estilização das performances. Com isso, o figurino, também, evoluiu, mas não perdeu a essência.

O passo seguinte foi a introdução de temas sociais, dentro do contexto da dança. Com esta nova característica, a dança tradicional passou a debater questões sociais. Neste ano o tema em questão é “Sem preconceito di Venézia traz igualdade e respeito nas noites de São João”. O enredo aborda as discriminações religiosas, de gêneros, cor, classe, raça e social.
A quadrilha estilizada permanece, e dentro dela surgem os casais destaques que desenvolvem o tema: noivo e noiva, rei e rainha, senhor e sinhazinha e o casal tema.
Atualmente, o grupo conta com 36 integrantes, com idades entre 14 e 30 anos. Os ensaios acontecem no período de março a maio e as apresentações, nos três meses seguintes: junho a agosto, lembrando que durante os meses de apresentações, também existem ensaios.
Os “shows” são levados a todo o Estado do Espírito Santo, e neste ano já são 22 apresentações agendadas, incluindo a capital, Vitória.
Oficinas de costura fazem parte da preparação
Nem só de dança vivem os foliões do Arraiá Di Venézia. Além dos ensaios, os integrantes assumem a tarefa de preparação do próprio figurino.
Cinco pessoas trabalham na organização do grupo: o coordenador Duda, Otamir Carloni, Uelder Marbak, a instrutora de bordado Francislayne da Rocha Ferreira e a instrutora de costura, Zilma Estevão da Rocha Ferreira.
Primeiro é escolhido o tema a ser abordado. Em seguida vem a idealização do figurino correspondente ao tema e a cultura junina, para depois começar a confecção.
Escolhido o tema e o figurino, vem o momento das oficinas de costura para a preparação das roupas. Duda explica que tudo é confeccionado pelos próprios integrantes, bem como os recursos para custear as vestimentas.
Com este trabalho, os membros participam de todo o processo de construção da quadrilha: do início ao fim. Além deles as famílias participam incentivando de forma integrada ao grupo, o que o torna um movimento tanto cultural como social.
Tradição junina tem origens remotas
Os organizadores e integrantes explicam que a cultura junina vem de longe. Acredita-se que estas festas têm origens no século XII, na região da França, com a celebração dos solstícios de verão (dia mais longo do ano, 22 ou 23 de junho), vésperas do início das colheitas.
No hemisfério sul, na mesma época, acontece o solstício de inverno (noite mais longa do ano). Como aconteceu com outras festas de origem pagã, estas também foram adquirindo um sentido religioso introduzido pelo cristianismo, trazido pela igreja católica ao Novo Mundo. A comemoração das festas juninas é certamente herança portuguesa no Brasil, acrescida ainda dos costumes franceses que a elas se mesclaram na Europa.
No início era uma atividade exclusiva para a nobreza. Mas a tradição religiosa incutiu a homenagem, aos santos, como forma de agradecer pelas colheitas.
O ciclo das festas juninas gira em torno de três datas principais: 13 de junho, festa de Santo Antônio; 24 de junho, São João e 29 de junho, São Pedro. Durante este período, o país fica praticamente tomado por festas. De norte a sul do Brasil comemoram-se os santos juninos, com fogueiras e comidas típicas.
É interessante notar que não apenas o dia, propriamente dito, mas todo o mês, é considerado como tempo consagrado a estes santos no Brasil e, principalmente, às vésperas, que é quando se realizam os sortilégios e simpatias, a parte mágica da festa típica do catolicismo popular. Inúmeras adivinhações a respeito dos amores e do futuro (com quem se vai casar, se se é amado ou amada, quantos filhos se vai ter, se se vai morrer jovem ou ganhar dinheiro etc.) são feitas nas vésperas do dia dos santos, em geral de madrugada.
A primeira das festas do ciclo junino é a de Santo Antônio, o “santo casamenteiro”. À véspera deste dia, significativamente, foi escolhida oficialmente como dia dos namorados, no Brasil.
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