Bruno Gaburro (Correio9)
A cada era da história humana, foram desenvolvidas novas práticas e habilidades diferentes, tudo através de suas necessidades. Diante das adversidades mais variadas, foi preciso que o ser humano se reinventasse e produzisse algo novo, capaz de diminuir ou mesmo liquidar aquele problema que enfrentava.
De alguns anos para cá, os problemas que vêm preocupando a humanidade em geral, são os impactos ambientais, causadas pela ação antrópica, ou seja, a ação do ser humano sobre o meio ambiente.
A relação do homem com o meio onde vive vem sendo por muitos anos, predatória, acelerando a degradação da natureza, desencadeando problemas socioambientais das mais diversas formas no planeta. Mais recentemente, temos acompanhado esforços que são adotados para frear de alguma forma essa ação nociva e tentar reverter a situação.
Com um objetivo de conscientização e responsabilidade ambiental, uma nova maneira de empreender tem ganhado destaque nos últimos anos: o empreendedor sustentável, que é aquela pessoa que de alguma forma busca ganhar a vida a partir de processos humanizados e que respeitam o meio ambiente.
A veneciana Markiana Oliveira Santos é um destes belos exemplos. Sempre usou da sua criatividade mesclada à sustentabilidade, reaproveitando certas coisas que iriam para o lixo, transformando em objetos úteis no dia a dia. Um belo dia, quando estava sem emprego, percebeu que precisava usar dessa sua inventividade e criar algo que lhe gerasse alguma renda. Seu desejo, como todo empreendedor, era de inventar algo útil a toda a sociedade, abrangendo todas as idades.
Estudando possibilidades para um novo negócio, ela se deparou com diversas ideias, até que percebeu que, um simples lápis, teria grande potencial para vendas. Mas não seria qualquer lápis. Seriam lápis sustentáveis, utilizando matéria-prima reciclada, e com algo a mais.
Markiana decidiu criar lápis feitos com o corpo de papel reciclado, mais especificamente, de jornais reciclados. Junto a isso, ela teve a ideia, a partir de uma referência na China, de colocar sementes na parte de cima dos lápis, para que, quando as pessoas terminassem de utilizá-los, pudessem “plantar o lápis”.
“Quando o lápis vai se desgastando e chega ao fim, a pessoa enterra o lápis de cabeça para baixo, com a cápsula que abriga as sementes, enfiada na terra. Na primeira rega, o invólucro, que é feito de gelatina, irá se dissolver, e dessa forma, as sementes, que são acompanhadas de adubo orgânico irão entrar em contato direto com a terra, e dessa forma, germinarão. Caso a pessoa não regue a terra ao colocar o lápis no solo, existe um umidificador na cápsula que fará o serviço, e assim, após uns três dias, a semente, totalmente orgânica e de alta qualidade, germinará de qualquer maneira”, explica ao Correio9.
Buscando um projeto realmente sustentável, Markiana precisou escolher bem criteriosamente os materiais que utilizaria em sua produção. Até mesmo a cola é específica. É produzida a partir de um gel de linhaça, em vez de conter produtos químicos, como nas colas comuns. O grafite utilizado não passa por processos químicos, dessa forma, não elimina rejeitos nocivos ao meio ambiente.
Ao produzir o primeiro lote de lápis e publicar em sua rede social, Markiana recebeu um convite da Rededots – empresa que valoriza talentos da economia criativa – para participar de um concurso, onde recebeu um registro por ter promovido uma ideia sustentável.
Após ter participado deste concurso, muitas pessoas demonstraram interesse na ideia, e a idealizadora já recebeu vários convites para participar de sociedades e desenvolver o projeto de forma mais institucionalizada, porém, nunca aceitou devido questões pessoais. Assim, ela continua com o seu trabalho, sozinha, e envia seus lápis para diversas escolas do país, que fazem encomendas.
O kit atualmente é vendido a R$ 3, sendo composto pelo lápis, sementes identificadas e um folder, explicando como a pessoa deve proceder com o plantio, e podem ser adquiridos diretamente com a responsável pela produção, através do telefone: (27) 99627-1388; ou pelo e-mail: ecokolt@gmail.com.
É possível perceber a importância do trabalho de Markiana, já que todos nós utilizamos lápis diariamente, e parece ser um objeto bastante inofensivo. Mas agora, imagine o número de lápis produzidos diariamente em escala global. São poucas as empresas com consciência ambiental e muitas usam de madeiras de origem florestal, obtendo-as através do desmatamento ilegal, gerando consequências desastrosas ao nosso meio ambiente. Isso sem falar no uso das máquinas usadas na produção dos lápis, que através da queima de combustíveis fósseis liberam grande quantidade de dióxido de carbono e afetam a atmosfera de forma negativa.
A partir da reutilização de jornais, a veneciana traz uma nova perspectiva na fabricação de lápis, mas, mais importante que isso, ela traz respostas para questões importantes, provando que é possível reinventar objetos pensando ecologicamente, colaborando na preservação do nosso planeta e incentivando outras pessoas a adotarem novas práticas.
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