Elias de Lemos (Correio9)
Esta semana a reportagem do Correio9 esteve no Bairro Aeroporto 2, em Nova Venécia, onde encontrou pessoas vivendo em situação de extrema pobreza. São muitas famílias que dependem da solidariedade alheia.
O bairro não tem nenhuma infraestrutura. Ruas esburacadas, lama ou poeira fazem parte do dia a dia de quem vive ali. São pessoas humildes, que vivem uma vida difícil, mas não lhes faltam solidariedade. É um ajudando o outro!
A maioria das casas não têm reboco e quase todas possui algum defeito e precisam de reparos. Ninguém tem cama!
A primeira casa visitada possui dois cômodos pequenos. Em um deles funciona a cozinha e no outro, a sala/quarto. Lá vivem seis pessoas: um casal, Jean de Jesus Santos e Celia Santos de Souza, ambos com 26 anos, e seus quatro filhos, uma pequena de sete meses e os demais com 3, 6 e 8 anos. Jean estudou até a 8ª série e Celia parou na 7ª.
Eles são provenientes de Ponto Belo e estão em Nova Venécia há três anos. A casa onde moram foi emprestada por uma senhora. Não pagam aluguel, mas isso não é sinônimo de vantagem: não pagam porque não podem.
Mas, a dona da casa está precisando do imóvel e eles precisarão desocupar em até quinze dias. Desempregados e sem dinheiro, eles não sabem para onde ir. “Minha maior preocupação hoje é um lugar para ficar”, falou Jean.
A residência não possui móveis, nenhuma cama, nenhum banco para sentar, tampouco uma mesa. O telhado é de amianto e o teto da cozinha corre risco de cair. Para prevenir, Jean improvisou uma escora que fica bem no meio do cômodo. “Quando chove é um tormento, a gente tem que ficar de pé, molha tudo”, disse ele.
Os pertences da família se resumem a poucos objetos, utensílios domésticos e roupas, que na ausência de um armário, são guardadas em trouxas.
O cuidado com os filhos pequenos exige a presença constante de um adulto, normalmente a mãe. Assim, Celia não tem como trabalhar fora de casa e Jean está desempregado e faz “bicos”. Ele já trabalhou quatro anos como ajudante de pedreiro, mas na falta de emprego, faz o serviço que aparecer.
A menina de sete meses está doente, tossindo muito e com “chiado” nos pulmões. Ela foi levada ao posto de saúde do Bairro Aeroporto, porém, lá só atende por agendamento, independente da gravidade do caso. Os pais da menina foram orientados a voltarem para casa e retornar na próxima terça-feira.
OBS: ATUALIZAÇÃO (17/12/2021, às 16h20m) – Depois que nossa reportagem questionou as autoridades, a família foi visitada e a criança foi levada ao Hospital São Marcos, em Nova Venécia, onde foi diagnosticada com pneumonia. Em seguida, foi transferida para o Hospital Roberto Silvares, em São Mateus, onde está internada desde a última quarta-feira.
As crianças possuem poucas roupas e nenhum brinquedo.
Perguntado sobre quais as maiores dificuldades que enfrentam, Jean disse: “De tudo um pouco, o pior é a falta de feira (não poder comprar alimentos), gás…”. E carne? Ele responde: “Ah, carne aqui é ouro, pra gente comer carne dá trabalho, é difícil”.
De acordo com ele, por causa da filha mais nova, não pode faltar leite: “Eu dou meus pulos, qualquer coisa que eu faço e ganho alguma coisa, eu corro e compro leite, ela (apontando para a criança deitada em um pano no chão) não pode ficar sem”.
Em outra rua, num cômodo construído em meio lote, mora Joseli da Cruz Santos. Ela vive com o marido e uma filha. O local foi doado pelo irmão do marido dela. “Meu marido vai começar a trabalhar e nós estamos na expectativa de conseguir juntar um dinheirinho para fazer mais um cômodo porque um só está muito apertado”, disse.
Roseli tem 39 anos e veio da Bahia para se casar na próxima quarta-feira (22). Ela sempre trabalhou em “casa de família”, mas está sem ocupação desde que chegou a Nova Venécia.
Quais são as suas principais necessidades? Ela responde: “Uma cama e alimentos são os mais urgentes, quem está nos ajudando é aquele senhor lá (apontando para um homem do outro lado da rua), mas a condição dele também é fraca. Ele vive com muita luta. Tem dois meses que estou aqui e fui bem recebida e acolhida, desde então vivemos de ajuda”.
A criança não tinha biscoito, nem brinquedo. Em cima de um armário, uma lata de leite em pó e outra de Mucilon, que ela havia ganhado de um vizinho. A criança tem um brinquedo: um pequeno pote de desodorante.
Joseli se queixou de problemas de saúde decorrente da diabetes, cujo controle é feito à base de medicamento: “Eu não posso ficar sem e às vezes não tenho como comprar”.
Ela tinha uma pouca quantidade de arroz e feijão que foram ganhos. E carne? “Só quando aparece, mas também a gente passa um aperto danado por causa do gás; direto a gente fica sem gás”, disse. Ela faz uma pausa e continua: “A situação é esta que vocês estão vendo: é muito difícil!”.
Andando mais um pouco, a reportagem encontrou mais uma moradia com um cômodo onde moram um casal e uma criança. A moradora é Elaine Lima de Oliveira, de 37 anos. Ela sofre de pressão alta e, com isso, os efeitos decorrentes desse problema.
A casa possui um armário, um sofá, um colchão e um fogão. Boa parte dos utensílios domésticos fica armazenada em um grande balde de plástico.
Quais são suas necessidades mais prementes? “Uma cesta básica, roupas para minha filha, para mim, meu esposo e um chinelo para mim porque não tenho o que calçar”.
Saindo da casa da Elaine, a reportagem foi abordada por Cristiane Lacerda Souza. Ela estava sentada em um banco bordando ponto-cruz, enquanto o filho de três anos e dois meses brincava próximo a ela. Com um largo sorriso, cumprimentou a equipe e pediu: “Queria pedir um favor para vocês: tentem conseguir uma cama para mim, estou precisando muito de uma cama de casal”.
Cristiane relatou que não estava faltando comida porque havia ganhado quatro cestas básicas. “Eu ganhei, mas tenho vizinhos que não tinham, então eu doei duas, uma para cada vizinho. Eu não podia ficar com tudo sabendo que duas famílias estavam precisando”, disse ela.
Além de bordar, ela é cozinheira e cuidadora de idosos. “Quero muito arrumar um trabalho, mas está muito difícil encontrar, e olha que tenho procurado”, disse.
Ela e o marido pagam aluguel pela pequena casa de dois cômodos onde moram. A residência apresenta problemas em uma parede do banheiro, que ameaça a cair e está escorada: “Precisamos consertar esse banheiro urgente, porque estamos correndo perigo do jeito que está, mas falta dinheiro”, desabafou ela.
Cristiane tem um telefone simples, e sonha em comprar um aparelho de celular um pouco moderno para poder acessar redes sociais e divulgar seus bordados. Segundo ela, viu um no valor de R$ 400: “Isso para mim é muito caro, eu não tenho como arranjar esse dinheiro”.
Secretarias de Saúde e Ação Social fazem o que podem
O Correio9 procurou a Secretaria de Saúde e a de Assistência Social para questionar a situação dos moradores do Bairro Aeroporto 2 e sobre o não atendimento à criança doente, mencionada no início dessa reportagem.
A Secretaria de Saúde enviou uma nota: “O atendimento de pediatria disponibilizado pela Secretaria Municipal de Saúde de Nova Venécia conta com o quantitativo de cerca de 170 consultas semanais disponíveis para atendimento eletivo (ou seja, por agendamento nas unidades Central Angelo Piassaroli, ESF Geraldo Lubiana Aeroporto e Jacinto Mota Rúbia por escala). As urgências pediátricas são encaminhadas ao Hospital São Marcos para realização do procedimento e averiguação das necessidades, visto que, se necessário a intervenção de um pediatra, a Secretaria Municipal de Saúde está à disposição para intervenções e condutas especializadas mostrando-se disponível para um correto diagnóstico e conclusão do caso”.
Muitas crianças estão raquíticas e em todas as casas os pequenos estão com a imunidade baixa por causa da nutrição fraca. Já os adultos se queixam de depressão.
Já a secretária de Assistência Social, Herileny Teresa Pratte do Nascimento Borges, falou ao Correio9, por telefone. De acordo com ela a situação das famílias em vulnerabilidade é monitorada pelo CadÚnico. No entanto, afirmou que as famílias não mantêm a atualização do cadastro e por isso fica difícil detectar.
Ainda, segundo ela, a Secretaria não conta com equipes de abordagem, o que é feito pelo CRAS.
Em se tratando da criança doente, ela disse que na Assistência Social não poderia interferir em outra área. Que isso seria pela Secretaria de Saúde. No entanto, ela se comprometeu a telefonar para o Conselho Tutelar: “Vou acionar o Conselho porque eles têm autonomia para exigir o atendimento”.
Em uma segunda ligação, Herileny informou que verificou a situação de Jean e Célia e disse que a família recebe cesta básica, mas explicou que a pandemia agravou muito a condição das famílias que vivem em vulnerabilidade:
“Muitos já estavam desempregados e com a pandemia a situação se agravou muito porque outros perderam os empregos e, além disso, tem a alta de preços que afeta muito, principalmente as pessoas mais pobres. Alimentos estão subindo demais, tem o preço do gás”.
Não se trata de casos pontuais
Percorrendo pelo bairro, a constatação é de que se trata de uma situação de abandono. Perguntados se algum vereador ou alguém da Assistência Social já apareceu por lá, os moradores disseram que nunca viram um vereador no bairro.
Uma senhora afirmou: “Aqui nunca veio vereador não. Na época da eleição apareceram uns candidatos pedindo voto, depois disso, nunca mais apareceu ninguém”.
Já em relação à Assistência Social, afirmaram que foi feito um cadastro. Porém, nem todos recebem cesta básica.
Correio9 faz campanha de arrecadação de cestas básicas
O jornal Correio9 está realizando uma campanha de arrecadação de alimentos para famílias que vivem passando esses apertos em Nova Venécia. Para isso, está contando com parcerias e a solidariedade dos venecianos.
Cestas básicas têm sido entregues na Redação do jornal, e quanto mais, melhor. No entanto, roupas de crianças e adultos, calçados e brinquedos também foram pedidos à equipe de reportagem, portanto, são bem-vindos.
Existem várias formas de contribuir.
CONTRIBUIÇÃO:
– PIX: 24.768.808/0001-81 (Editora Correio9 Ltda)
– As cestas básicas podem ser entregues na Redação do Correio9, no endereço: Rua Aymorés, 243- Bairro Filomena – Nova Venécia – ES (atrás da Veneza)
OBS: Os nomes dos colaboradores aparecerão na Edição Especial de Natal, que circulará no dia 24/12/2021.
PARCEIROS:
A campanha conta com boas parcerias: Rádio Cidade FM; Eletromil; Gráfica Real; Grupo Colombi Mineração; Clínica de Olhos Cricaré; 2J Pimenta, Café e Cacau; Gran Reino Especiarias do Brasil, Cuniã Corretora de Seguros e MDC Couriers Ltd.
Seja mais um parceiro deste projeto! Mais informações pelos telefones: (27) 99978-9200 ou (27) 99782-9296.
Comente este post