Elias de Lemos (Correio9)
Lugar de mulher é “na” cozinha… Não, não é! Nathane Cadorini Fabem, 31 anos, também conhecida como Nath Fabem, é uma dessas mulheres que provam o contrário. Centroavante da equipe feminina do Atlético Mineiro, o Galo, onde está na disputa do Campeonato Brasileiro, ela demonstra que lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive no campo de futebol.
Ela nasceu na vizinha cidade de São Mateus, mas como sua família é quase toda de Nova Venécia, Nath sempre teve um pé aqui.
Ao contrário do que acontece no futebol masculino, no qual os meninos são estimulados desde a infância, com as mulheres as coisas são bem mais difíceis. O que deveria ser motivo de orgulho se traveste em preconceito. Mentes arcaicas ainda acreditam que “futebol é coisa de homem”. Assim, além da habilidade com a bola, elas convivem com comentários maldosos e piadas de mau gosto. Quem pensa assim vai se surpreender com essa história!
Nath começou aos 18 anos. Segundo explicou ao Correio9, o interesse surgiu porque o pai dela levava o irmão para jogar futebol e ela ia junto, com isso, foi se familiarizando com a bola e hoje é atleta profissional destacada no mundo.
Ela narra que o início foi difícil, afinal, o futebol é um esporte muito masculinizado. Seus primeiros dribles foram na cidade de São Mateus em um projeto da Prefeitura, que incluía meninas no futebol.
Depois foi parar no futsal. Em seguida recebeu convite para jogar em São Paulo, de lá, em 2009, foi para Minas Gerais onde se integrou ao Atlético Mineiro: “Foi quando comecei a jogar em campo e fui pegando gosto pela coisa e assim me firmei”.
Nathane jogou no Iranduba, de Manaus, e entre 2017 e 2018 esteve no Flamengo onde disputou o Campeonato Brasileiro ficando na terceira colocação. Em 2019 foi para o Ferroviário de Araraquara, interior de São Paulo. Lá, conquistou o Campeonato Brasileiro e depois a Libertadores e, de quebra, foi a artilheira da competição das Américas.
O voo da águia
Desde então, ela não parou mais e alçou voo para o mundo. Em 2020 Nathane foi para a Coreia do Sul onde permaneceu por um ano. Ao voltar, foi para o Grêmio. Onde permaneceu até 2021, quando retornou para o Galo.
Mas, se por um lado, a jogadora hoje colhe os frutos de sua dedicação e determinação, nem sempre foi assim.
Ela enfrentou os preconceitos inerentes ao futebol: “Ouvi muitas piadas, pois falam que o futebol é masculinizado. Mas é um esporte como qualquer outro e cabe mulher, a mulher pode também. Independente do esporte que está se praticando, não tem esse negócio de homem ou mulher. Os dois podem. Esse preconceito é muito ruim, então, a minha maior dificuldade foi o preconceito”.
Nathane define o futebol como “tudo” na sua vida: “Foi o futebol que me deu tudo, que me mantém, que me proporciona conhecer lugares, pessoas e fazer amizades: conheci vários estados brasileiros, culturas e costumes. O futebol me levou à Coreia, China, Rússia… E minha trajetória alegra e orgulha minha família, meus amigos e minhas amigas”.
Na Seleção Brasileira, ela disputou o Campeonato Mundial e o mundial de futebol universitário, pela qual foi campeã: “É importante ressaltar a importância do futebol feminino. Aconteceu um caso em que uma menina de doze anos disputou o Sub-13 do Botafogo e lá no Rio de Janeiro tem uma lei que permite incluir meninas junto com meninos nas equipes. E espantosamente, os pais dela ficaram nas arquibancadas xingando a garota porque ela estava no meio dos meninos. Aqui no Espírito Santo, uma menina de dez anos quis jogar, mas, foi impedida. É preciso entender que o futebol feminino garantiu seu espaço e tem muito a crescer. Seria importante criar as categorias de base como acontece no masculino”, destaca Nath.
“Aqui (no Brasil) o futebol masculino tem campeonatos para crianças de cinco anos. Enquanto isso não tem nenhum incentivo para as meninas. Se eu comecei com 18 anos, as meninas precisam começar aos dez anos. Assim, vamos desenvolver muito mais o futebol feminino”.
Ela fala do progresso adquirido pelo futebol feminino: “Hoje a gente tem o Campeonato Sub-17, o Sub-20 e o adulto, mas, antes nem isso tinha. Era só o Sub-23 e o adulto. Ainda não é tudo, mas, é um avanço”.
“É preciso superar a gente mesmo, não ouvir o que falam e ir em frente. Eu já joguei em estádio com 5 mil pessoas, em outra ocasião eram 19 mil torcedores nas arquibancadas e eu fiz um gol: cara, é surreal!”, e sua expressão não esconde a satisfação que sente ao se lembrar disso. É contagiante!
E a renúncia que a carreira exige? Ela, também tem: “Longe da família, dos amigos… A gente perde velórios de familiares, datas especiais… A gente tem que renunciar a muita coisa… Mas faz parte da luta para vencer”.
Como todo apaixonado por esporte, ela também tem seus ídolos; no futebol feminino ela destaca a admiração que tem pela Cristiane Rozeira, atacante da Seleção Brasileira. Já no masculino ela faz mistério e disse que não poderia responder. No entanto, logo começou a “rasgar” elogios ao, também, atacante do Atlético Mineiro e da seleção masculina, o jogador Hulk.
Em tempo: craque é um substantivo masculino no singular, mas, também é um substantivo feminino no singular. O termo é usado para definir alguém que tem talento e se destaca em algum esporte. Se o Hulk é um craque, Nathane é uma craque!
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