Elias de Lemos (Correio9)
Uma boa cerveja deve combinar aroma, sabor e amargor. Para tanto, a produção deve harmonizar todo o processo desde o início até à finalização e clarificação da bebida. Essa combinação, cheia de detalhes, levou a Douger Cervejaria Artesanal a produzir verdadeiras especiarias que conquistam o paladar dos cervejeiros que apreciam as bebidas especiais.
A Douger está instalada, há pouco mais de um ano, no município de Vila Pavão. A fábrica surgiu da vontade dos amigos Douglas Matheus e Gerson Reblin. Eles contam que se conheceram na Escola Técnica de São Mateus, onde se tornaram amigos. Ambos foram trabalhar na indústria, mas queriam deixar de depender de patrão: “Queríamos alçar um voo próprio, mas faltava alternativa. Naquela época (2011) o petróleo estava em alta, então pensamos em um posto de combustíveis, mas faltava o principal, o capital. Aí o Gerson falou: eu estive lendo que cerveja é um negócio que está crescendo e vai ser assim até 2030. Aí decidimos o que fazer, unindo o útil ao agradável”, explicou Douglas.
Mas, não foi só decidir e começar. Se hoje a Douger está consolidada e em expansão, ela começou há sete anos com produção em panelas, na cozinha de casa no município de São Mateus, tudo na base do improviso, sendo eles as cobaias.
Os dois descobriram que em Arraial d’Ajuda, no município de Porto Seguro (BA), são vendidos kits de produção de cerveja artesanal. Assim, os amigos partiram para lá e começaram a profissionalizar a produção: “Produzíamos e colocávamos em um galão de 20 litros e sem resfriador, usávamos a geladeira”, explicaram.
No início, eles não puderam se dar ao luxo de abandonar seus empregos. Com isso, a produção ocorria nos períodos de folga, e virava a madrugada. Douglas explicou que tinha horários mais flexíveis, portanto mais tempo para se dedicar ao negócio. Enquanto isso, trabalhando embarcado, Gerson pesquisava sabores pelo mundo afora para comparar com as que estavam fazendo: “Muitas vezes eu chegava e dizia: olha, essa daqui não chega nem perto de tal cerveja”, explicou ele.
Produção
De lá para cá, se passaram sete anos produzindo a própria cerveja e lucrando com isso. Gerson explica que o processo de produção de uma nova cerveja é um exercício de percepção e paciência: “As receitas são feitas em um processo de tentativa e erro: “Não se pode esperar que vai dar tudo certo na primeira vez. Os ingredientes da fórmula vão sendo combinados e o resultado vai sendo experimentado e corrigido e isso pode se repetir até dar certo. Então é preciso paladar apurado para a experimentação e paciência para corrigir a receita”.
Quatro ingredientes são necessários para a produção de cerveja artesanal: água, malte, lúpulo e levedura, que é o fermento. Eles afirmaram que usam materiais da melhor qualidade, inclusive importados da Alemanha.
Com a receita em mãos, primeiro os ingredientes passam pelo triturador, depois para o processo de mostura (processo enzimático), clarificação, fervura, resfriamento, fermentação e maturação.
Gerson explica que a fermentação ideal leva em média 35 dias: “Esse processo depende do tipo de cerveja. Estou falando do tempo ideal para fazer uma bebida de primeira. Entre os 12 tipos que produzimos, a que leva menos tempo é a Weiss que é fermentada em sete dias, e gasta mais oito para a maturação”.
Em pouco mais de um ano de instalação da fábrica, a Douger se espalhou pela região Noroeste do Estado e já é consumida em cidades como Conceição da Barra, São Mateus, Barra de São Francisco, Nova Venécia e outras cidades da região.
Eles explicam que os primeiros consumidores foram os amigos, estes mesmo manifestaram o desejo de beberem na fábrica (que fica situada à margem da rodovia ES 220, a aproximadamente 3 Km antes da sede de Vila Pavão).
Foi então montado um ponto de atendimento com materiais improvisados, cujo resultado final é um local rústico, confortável e muito agradável, além do atendimento impecável.
“Não tínhamos a menor intenção de instalar esse ponto aqui, mas foi por livre e espontânea pressão, eles (os amigos) diziam: a gente vai experimentar aqui, vocês vão deixar. Com isso fizemos e está sendo bom porque muitas pessoas têm curiosidade e querem conhecer a cerveja aqui”, revela Gerson.
O plano da dupla é montar dois centros de distribuição, um em Vila Pavão e outro em São Mateus. De acordo com eles, a escala de produção ainda não permite essa expansão: “Estamos produzindo em torno de 6 mil litros por mês e não estamos conseguindo atender à demanda. Nem propaganda nós fazemos porque se fizermos estardalhaço em redes sociais, não teremos como atender”, explicaram. Prudentes, esclareceram que dão “um passo de cada vez”.
Por que Vila Pavão?
Gerson explica que poderia ser ao acaso, mas um conjunto de fatores favoreceu a escolha. Um deles foi o fato de ele ser morador de Vila Pavão, onde possui o terreno em que está a fábrica. Somam-se a isso a qualidade da água do lugar – que é extraída de um poço – e a localização estratégica do município: “A água daqui é excelente, da melhor qualidade. E a localização é perfeita visto que estamos no centro da região Noroeste, que é também a rota dos mineiros que frequentam o litoral da região; então, não foi por acaso, mas a junção de vários elementos que contribuíram”.
Tudo Regularizado
Douglas faz questão de frisar que a empresa entrou em operação com todas as questões legais resolvidas, como licenças ambientais, municipais, do Ministério da Agricultura e com todo o processo dentro das normas.
Ele cita que o fluxograma começa na recepção das matérias-primas, que é feita em uma sala, depois o processamento e beneficiamento. Os barris que chegam sujos são depositados na sala de sanitização, onde é feita a esterilização.
Depois são levados para a sala de barris limpos onde ficam depositados e logo passam pelo processo de envasamento. “Não há fluxo cruzado, para não comprometer a segurança sanitária, afinal, a cerveja é um produto alimentício”, esclareceu Douglas.
Equipamentos
Engana-se quem pensa que eles foram muito longe para adquirir os equipamentos da Douger. Gerson disse que todos os equipamentos foram comprados na cidade de Santa Teresa, na Região Serrana do Espírito Santo.
“Qual a referência em cerveja artesanal hoje no nosso Estado, Domingos Martins ou Santa Teresa, excluindo a capital (Vitória)? Ele responde: os dois estão na briga e produzem excelentes cervejas, por isso é importante colher experiência com os produtores de lá”, explicou Gerson.
Eles se orgulham ao dizer que suas cervejas receberam elogios de tarimbados produtores de Santa Teresa.
De acordo com eles, o investimento realizado até agora gira em torno de aproximadamente R$ 600 mil, incluindo terreno, edificação e equipamentos.
Se você leu esta reportagem até aqui é porque é um cervejeiro e gosta do assunto. Então, vai uma dica: a Douger é uma ótima opção para quem aprecia uma cerveja especial com opções variadas para tomar na hora ou levar para casa. Conheça sabores únicos, especiais! Conheça a Douger!
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