Elias de Lemos (Correio9)
Resgates em acidentes de carro e de moto, combate a incêndios e queimadas em vegetação, salvamentos aquáticos, socorro a pessoas com surtos psicóticos, às que sofrem quedas da própria altura, com esquizofrenia, acidentes de trabalho e em tantas outras situações.
Esses são apenas alguns exemplos do trabalho diário da 2ª Companhia do Corpo de Bombeiros Militar de Nova Venécia, que não mede esforços para atender à região, 24 horas por dia, sete dias da semana. Salvar vidas diz muito sobre a missão que os militares do Corpo de Bombeiros se propõe todos os dias a realizar.
Nesta quinta-feira, 15, a 2ª Companhia completa 10 anos de atuação na região. Ela faz parte de um conjunto de três unidades que atendem a 13 municípios, sendo um PA (Posto Avançado inaugurado em 2016), em Barra de São Francisco, subordinado à 2ª Cia de Nova Venécia, que por sua vez, se subordina ao 2º Batalhão de Bombeiros Militares de Linhares.
As cidades atendidas são: Nova Venécia, São Gabriel da Palha, Mucurici, Água Doce do Norte, Ecoporanga, Pinheiros, Ponto Belo, Montanha, Águia Branca, Vila Valério, Boa Esperança, Vila Pavão e Barra de São Francisco.
A reportagem do Correio9 entrevistou o comandante da 2ª Cia, tenente BM Cássio Lucas da Mata, que falou do trabalho desenvolvido pela equipe em Nova Venécia e região.
Para o tenente da Mata, ser bombeiro é “gostar de ajudar as pessoas, seja qual for a situação”. “Eu sempre falo que é a vontade de estar no lugar certo. Todos os dias aqui são diferentes! A sensação de poder socorrer as pessoas em momentos tão difíceis e de ajudar a proteger o meio ambiente não tem salário que pague”, disse ele.
Viver sob a pressão de salvar vidas e de correr contra o tempo é algo comum para esses socorristas
Por envolver tantos municípios – que somam uma população aproximada de 284 mil pessoas – muitos atendimentos exigem grandes deslocamentos. Com isso, é correria por todos os lados. Os militares se equipam, embarcam em veículos de resgate, camionetes ou caminhões e, em questão de minutos, saem prontos para prestar atendimento!
No entanto, às vezes, as distâncias desfavorecem uma das principais exigências para o trabalho das equipes: a rapidez do atendimento.
O comandante cita o exemplo de um eventual chamado da cidade de Ponto Belo, a mais longe da 2ª Cia: “Por exemplo, se acontecer um incêndio em uma residência lá em Ponto Belo e a guarnição for acionada, até chegar lá, já queimou tudo”, disse.
A rotina da equipe é feita de trabalho em escala ininterrupta. O trabalho depende da demanda, ou seja, de acordo com as ocorrências; isso quer dizer, que não há possibilidade de planejamento, tudo depende do que acontece do lado de fora. São situações completamente fora do controle da instituição.
Normalmente, são usados três veículos: o caminhão, a viatura de resgate e uma camionete. A equipe do caminhão faz a retirada de vítimas de acidentes; o resgate realiza os primeiros socorros e a camionete, por sua vez, é utilizada para chegar a locais de difícil acesso aonde o caminhão não chega.
Nessa correria, há situações difíceis, como a ocorrência de acidentes com vítimas encarceradas (presas às ferragens). Na semana passada, por exemplo, três pessoas ficaram presas aos destroços de um carro, depois de um acidente na rodovia que liga São Gabriel da Palha a Nova Venécia. Todas foram retiradas com vida.
Por outro lado, o comandante lamenta que há situações em que a equipe encontra as vítimas já sem vida: “Aí não há o que fazer, é isolar a área e esperar a perícia”.
Aliás, acidentes são recorrentes em toda a região, principalmente aqueles que envolvem motocicletas. Em 2019, foram registradas 1056 ocorrências envolvendo motociclistas, o que corresponde a 35,2% dos chamados, quando comparadas as dez maiores demandas. Em seguida estão os acionamentos para combater incêndios em vegetação e, também, para socorrer pessoas com mal súbito, que, geralmente, são surtos psicóticos.
O tenente destacou a questão de incêndios florestais, os quais, segundo ele, vêm ocorrendo deste o início do ano: “Normalmente, de agosto a novembro, a incidência é maior, mas, este ano isso tem se estendido e tornado mais rotineira”, disse ele.
Nesse ponto ele destaca as dificuldades de combate a incêndios florestais e em vegetação. Uma dessas barreiras é o acesso, que nem sempre é fácil para bombeiros e veículos e outra é a indisponibilidade de água em muitos locais.
Os combatentes, normalmente, fazem uso de abafadores e de bombas, que são levadas nas costas, cada uma com capacidade de 20 litros. A água é aplicada no resfriamento da atmosfera para permitir a aproximação daqueles que usarão abafadores.
Em algumas situações, é feito o uso de pinga-fogo que consiste na aplicação de algumas técnicas para prevenir e combater incêndios, esta envolve usar o fogo contra o fogo. Na prática, o fogo queima pequenas faixas do terreno para eliminar a vegetação que é combustível para incêndios. Assim, quando os focos chegam a essa faixa queimada, não há mais combustível, e o incêndio é contido. A faixa queimada serve como asseiro, na contenção do fogo.
Como a população pode ajudar
O comandante da 2ª Cia falou sobre como a população pode ajudar. De acordo com ele, o quartel recebe muitos trotes: “E não são vozes de crianças não, são pessoas adultas que fazem isso”. O problema dos trotes é o desperdício de tempo e dinheiro.
Quando a equipe recebe um falso chamado, há deslocamento de bombeiros e veículos. Enquanto averiguam denúncias falsas, correm o risco de deixar de atender a situações em que pessoas correm risco.
Sobre a incidência de incêndios, ele recomendou à população para evitar o uso de fogo para limpar terrenos: “A população não deve usar a prática do fogo para limpeza de terreno, porque sai de controle. Limpezas de terrenos baldios ou pastagens devem ser feitas sem o uso de fogo. Além disso, a fumaça é a principal transmissora de calor; ela própria pode provocar outros incêndios”, disse.
Para agilizar os atendimentos, o comandante destacou que ao ligar para os bombeiros (telefone 193), a pessoa deve passar a maior quantidade possível de informações como, por exemplo, o estado da vítima, se é possível ver alguma fratura, sangramento, o endereço e ponto de referência.
Ele ressaltou que ser bombeiro não é uma profissão, e sim, um estado de espírito: “Somos bombeiros 24h por dia, estando de serviço ou não. A base do Bombeiro Militar é o treinamento. Treinamos como cortar uma árvore com segurança; como atender uma vítima de acidente para diminuir sua dor e não agravar seus ferimentos; como salvar um animal em perigo sem assustá-lo; como apagar um incêndio mais rápido para causar o menor dano possível e o que podemos fazer para prevenir qualquer catástrofe. Nosso principal objetivo é atender à população da melhor maneira possível,” finalizou o comandante Cássio Lucas da Mata.
Quando acionados, os bombeiros militares saem preparados e equipados para o pior. Para eles, quando se trata de risco à vida vale toda precaução e seriedade.
Corpo de Bombeiros no Espírito Santo
A primeira iniciativa voltada ao combate a incêndios no Espírito Santo foi feita em 29 de setembro de 1862, quando o Chefe de Polícia, Antonio Gomes Villaça, baixou uma resolução determinando certas providências em caso de incêndio. No ano seguinte, em junho, ocorre um incêndio na Casa de Comércio de Antonio de Almeida Coelho, sediada em Vitória. Provocado por uma faísca de uma bomba, este é o primeiro grande sinistro registrado em território capixaba. Em novembro de 1906, acontece o primeiro incêndio em uma loja de fogos de artifício, inaugurando uma série de acidentes com esse tipo de comércio que perdura até os nossos dias.
Em 1912, atendendo a uma demanda da sociedade, o, então presidente do Estado do Espírito Santo, Marcondes Alves de Souza, sanciona a Lei nº. 874, de 26 de dezembro, determinando a criação do Corpo de Bombeiros. Essa é a certidão de nascimento da corporação. No entanto, essa lei não foi executada. Somente no ano seguinte, em 13 de novembro de 1913, com a publicação da Lei nº. 920, o Estado implanta a primeira estrutura de combate a incêndios e outras catástrofes. Essa lei estabelece a criação de uma Seção de Bombeiros, dentro do efetivo da Polícia Militar, composta por um cabo e 12 soldados, comandados pelo 1º tenente Ignácio Pinto de Siqueira. Mas, com a criação da Guarda Civil, em 1917, os bombeiros passam a fazer parte de sua estrutura.
Dessa forma, a corporação fica desvinculada da Polícia Militar até 1920, quando a Guarda Civil, que executaria os serviços de combate a incêndio além do patrulhamento da capital capixaba, é anexada ao Corpo Militar de Polícia, assim como os bombeiros. Ou seja, durante esse período, a atividade de bombeiro foi exercida por uma instituição civil.
Corpo de Bombeiros no Brasil
No Brasil, a história do Corpo de Bombeiros começa em 1856, no dia 2 de julho. O Decreto, assinado pelo Imperador Dom Pedro II, instituiu o Corpo Provisório de Bombeiros da Corte, no Rio de Janeiro. Foram reunidas as seções de Bombeiros que existiam para o serviço de extinção de incêndios na Casa do Trem (Arsenal de Guerra).
O primeiro serviço contra incêndios era responsável por orientar medidas de socorro, cabendo a equipe técnica a supervisão dos trabalhos de salvamento e extinção do fogo. Apesar dos equipamentos utilizados serem rudimentares, a cidade não se mobilizava desordenadamente. Aos poucos, ia-se organizando o núcleo oficial do Corpo de Bombeiros.
Os arsenais deixaram de ser os únicos responsáveis pelos incêndios, embora contassem com melhores equipamentos e pessoal mais especializado, possuíam a colaboração da Repartição de Obras Públicas e de funcionários da Casa de Correção.
Naquela época, o sinal de fogo era dado por tiros de peças do Morro do Castelo, onde uma bandeira vermelha era içada. Em seguida, o toque era convencionado do sino da igreja de São Francisco de Paula, indicando o lugar do sinistro.
Em 1880, a Corporação passou a ter organização militar e, foram concedidos postos aos seus componentes. Com o passar dos anos, equipamentos mais sofisticados foram fornecidos e viaturas mecânicas passaram a ser utilizadas.
Curiosidade
Entre as patentes militares, pelo menos uma chama a atenção pela denominação recebida, a patente das “praças”, afinal, por que praça? Normalmente, incluem-se na categoria das praças os militares com as graduações de soldado e de cabo. Nas forças armadas, os sargentos e suboficiais também estão incluídos na classe das praças.
Em alguns países, a classe de militares correspondente à de praças é designada com termos diversos, tais como: “tropa”, “outros postos”, “alistados” ou – no âmbito naval – “marinharia”.
No passado, o termo “praça de pré” referia-se ao militar que não tivesse patente de oficial e pertencesse a hierarquia militar inferior.
Na Idade Média, o serviço militar era uma obrigação prestada pelo vassalo ao senhor feudal, pois todos compartilhavam dos mesmos infortúnios advindos da guerra. Porém, com o tempo, a atividade militar passou a exigir a profissionalização de seus integrantes e o termo “praça” passou a designar os efetivos permanentes das guarnições das praças de guerra.
Atualmente, no Brasil, praça é a classe Militar constituída pelos Alunos Oficiais, suboficiais, sargentos, cabos e soldados e recrutas.
A principal atribuição de quem está no quadro de praças é o serviço operacional, principalmente nas Polícias Militares, sendo assim, os oficiais ficam responsáveis pelo gerenciamento da instituição, e as praças ficam em sua maioria nas ruas fazendo a segurança pública. Analogicamente o termo “praças” se refere às praças que são guarnecidas por militares. No caso dos bombeiros, é o pessoal da linha de frente de resgates.
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