
Elias de Lemos (Correio9)
Você já participou de alguma atividade da APAE Nova Venécia? Se não, o que está esperando para conhecer melhor o trabalho dessa instituição que há 47 anos faz a diferença na vida de tantas pessoas de toda a Região Noroeste?
Nem todos têm conhecimento do que a APAE faz, tampouco da importância desse trabalho na vida das famílias e das pessoas com necessidades de auxílio no desenvolvimento intelectual ou de alguma limitação física e de reabilitação.
A APAE é uma associação beneficente que oferece gratuitamente serviços de saúde, educação e assistência social que realmente são essenciais para a qualidade de vida e inclusão social.
Desde sua fundação, a APAE Nova Venécia conta com pessoas realmente dedicadas e capacitadas para o desempenho de suas funções. Hoje a instituição conta com 47 funcionários entre administrativos, operacionais e especialistas nas mais diversas áreas da educação e da saúde. Trata-se de uma equipe multifuncional engajada na missão de prestar assistência a centenas de pessoas. Apenas na educação são 140 alunos que dependem desse projeto.
A reportagem do Correio9 visitou a instituição e viu de perto a abrangência do trabalho. De acordo com o presidente da entidade, Carlos Augusto Fernandes, a unidade conta com atendimentos em áreas como fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional, pediatria, ortopedia entre outras.

Na área educacional tem a parte da educação com atividades pedagógicas e oficinas. Para se ter uma ideia da dimensão do trabalho, a APAE atende a 14 municípios da região Noroeste. Além de Nova Venécia, são encampados Boa Esperança, Vila Pavão, Ponto Belo, Mucurici, Montanha, Pinheiros, São Mateus, entre outros.
E a variedade de serviços oferecidos é grande: reabilitação física, intelectual, uma pessoa que sofre um acidente de carro ou de trabalho, pessoas com Mal de Parkinson, AVC (Acidente Vascular Cerebral) entre outros casos que exigem reabilitação física ou intelectual. “Não tem limite de idade, temos a escola especializada e uma equipe preparada”, explica Carlos.
É uma grande estrutura, que para funcionar, depende de muita gente; é mantida pelo Estado, pelo município, por organizações sociais e pela comunidade.
Segundo ele, há um protocolo de atendimento: “O protocolo busca identificar aquelas pessoas que atendem e se enquadram dentro do nosso protocolo. A pessoa que precisar do nosso atendimento procura as redes de saúde do seu município, aí se for constatado que tem a necessidade do atendimento, de lá é feito encaminhamento para cá. A necessidade é detectada lá no local onde a pessoa reside; tem casos que o diagnóstico não é fechado, como, por exemplo, a situação de criança autista; mas tem a suspeita, assim ela é encaminhada para cá porque aqui tem os especialistas que prosseguem a investigação e chega a um diagnóstico”.
É importante frisar isso: “Tudo vem pelas unidades de saúde; por exemplo, você mora em Boa Esperança e tem um filho que tem alguma suspeita de autismo; você aciona o sistema de regulação e o sistema é que encaminha. Na Região Noroeste só tem a APAE Nova Venécia que oferece essa gama de atendimento. Se você mora em São Gabriel da Palha, vai para Colatina”, disse.
Se por um lado a entidade está preparada e decidida a oferecer os serviços, de acordo com seu presidente, atualmente a maior dificuldade é na contratação de profissionais especializados: “Não temos aqui nenhum problema muito sério; aqui nós temos problemas, por exemplo, na contratação de fonoaudiólogo. Agora isso, também, não acontece só aqui; todas as unidades do Estado enfrentam o mesmo problema devido à demanda de profissionais que aconteceu durante e depois da pandemia”.
Além da crescente demanda por profissionais, para completar, aumentou a procura por atendimento na APAE. Um a ser destacado é de casos com sequelas da Covid-19 que são muitas e variadas.

“Fora isso, o resto a gente consegue e administra, a gente pede, recorre a pessoas mas não é por falta do recurso, é por causa da escassez de profissionais, são muitos casos: AVC, mal de Parkinson, Alzheimer, também, que necessitam de especialistas específicos”, completou.
Carlos esclareceu que o prazo de duração do tratamento não é o mesmo: “Não tem um prazo porque cada caso é um caso; quando conclui aqui – se necessário – o paciente é encaminhado novamente para o seu município por causa da dificuldade de ficar indo e vindo. Aí dá continuidade lá mais próximo de onde mora”.
“Às vezes as pessoas que procuram a APAE têm pouco recurso e ela chega no momento de muita fragilidade, ela chega aqui nutrida de esperança e aí a pessoa fica procurando um auxílio. Muitas pessoas ficam perdidas e aqui tá tudo concentrado, ela sabe que vai ter atendimento humanizado, que vai ser acolhida”.
Abnegação e desprendimento
Carlos falou, também, sobre o significado que o trabalho representa: “Exige muito desprendimento, tem que ser desprendido de tudo e dedicação total e ter muita vontade para contribuir com a melhoria da vida do outro. A gente não pode pensar em si, é pensar em quem chega. Quem faz o trabalho social tem que ter disponibilidade e gostar, não se faz para preencher ego, não se faz como trampolim político. Não se faz de cabide de emprego.
Trabalho social é um trabalho que só se pensa no outro porque se misturar os dois, não vai dar certo. Aqui nós podemos pedir, nós podemos cobrar, mas a partir do momento que tivermos associados a alguma vertente política – ou a algo parecido – nós perdemos essa condição porque o outro já passa a olhar de modo diferente e graças a isso a APAE é muito respeitada pela comunidade. Você não tem noção da satisfação que as pessoas têm quando chegam aqui e começam a ver os resultados”.
Dayane Morais Lemke Nunes tem um casal de filhos atendidos pela instituição. Uma menina que faz acompanhamento neurológico e psicológico. Já seu filho teve diagnóstico prévio de “retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, TDH evoluindo durante a infância com transtorno comportamental e de conduta. Já usou diversos medicamentos, mas não se adaptou. Agora, faz uso de um remédio específico para controle da agressividade e agitação psicomotora.
Ele foi encaminhado para a APAE, onde, segundo ela, encontrou o amparo necessário à realização do acompanhamento: “Eu pensava que já não tinha mais solução; foi quando eu procurei a APAE e ela me abraçou.

Todos que trabalham naquele lugar são excelentes profissionais! Excelente atendimento! A gente como mãe se sente acolhida e os nossos filhos também; fico até sem palavras para falar sobre a APAE, sobre todos que trabalham ali naquele lugar. São amorosos, são pessoas que nos ajudam e eu posso falar que nos ajudam em qualquer momento; em qualquer circunstância. Só tenho a agradecer, a todos; são excelentes trabalhadores.
Todos que chegam lá são abraçados! É um lugar de respeito, de amor. É um lugar de alegria onde a gente se sente bem, eu só tenho que agradecer primeiramente a Deus e depois a todos eles, profissionais que fazem a APAE acontecer”.
Autismo: um desafio para mães e pais
A palavra-chave é humanizar: “A humanização do atendimento é elementar; ainda mais quando se trata de filhos porque hoje uma preocupação muito grande dos pais é ter um filho autista, por exemplo. Acontece que o autismo não é mais um problema. Autismo não é uma doença, é uma condição; o autismo tem vários graus, tem várias etapas. O negócio é respeitar as particularidades deles e atuar na inclusão. Uma das dificuldades dos pais que têm filhos autistas é a socialização e o preconceito que é enfrentado. Aqui a gente pede às famílias, aos pais para divulgarem, para conversarem sobre isso para que possa ampliar a conscientização sobre o que é o autismo. Essa é uma visão mesquinha porque ninguém sabe como é ter um filho autista, quem não tem não sabe”, disse Carlos.
O presidente explica sobre preconceitos que a própria APAE já passou: “Durante muito tempo a APAE era considerada um lugar para ‘gente que tem problema, lugar de doido’, as pessoas tinham essa visão. E a pessoa tinha um filho, e outra dizia: seu filho é caso para a APAE e, inclusive, era motivo de piada. Agora se coloque no lugar de um pai ou uma mãe que passa pelo desafio de cuidar e, ainda, ouve esse tipo de comentário ardil”.
Plano de expansão está em curso
“Hoje a APAE é uma instituição nacional. No estado do Espírito Santo são 47 unidades. Tem, também, a Sociedade Pestalozzi – as duas são irmãs e são reconhecidas pelo trabalho social que é muito importante para toda a sociedade. Nós temos o maior prazer que as pessoas venham conhecer para saber o que é feito aqui. Outra coisa importante do trabalho é a transparência em relação aos recursos”.
E a APAE Nova Venécia via crescer ainda mais. Há um projeto a ser realizado para a construção de um centro educacional. A expansão se dará em uma nova área com mais de 5.000 metros quadrados, que será uma extensão da APAE. O presidente disse que a atual estrutura continuará, não vai mudar, vai ser um centro de educação e de assistência também: “Essa central que temos hoje, nós queremos transformar numa central de saúde e a nova área no centro de educação, então, vai ampliar os serviços da APAE tanto na educação quanto na saúde. Agora nós estamos batalhando para tornar esse novo projeto uma realidade, mas vai ser tudo APAE. O nosso desejo é colocar oficinas, piscinas, equoterapia e fornecer atendimento completo”, finalizou.
OUTRAS FOTOS:




Comente este post