Dois dias depois de sofrer um grave acidente de moto, o jovem veneciano Jadson Tomazini, de 23 anos, foi a óbito na sexta-feira (02). Na quarta-feira (30), ele atropelou um pedestre próximo a uma oficina no Bairro Bonfim, em Nova Venécia.
Após a ocorrência, Jadson foi socorrido pelo SAMU e saiu do local intubado e foi levado direto para o Hospital Roberto Silvares, na cidade de São Mateus, onde permaneceu por dois dias na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). Desde o primeiro momento do acidente, começou a angústia de familiares e amigos.
Apesar da gravidade do estado do rapaz, a família manteve as esperanças de que ele sairia daquela difícil situação: enquanto existir vida, há esperança.
No entanto, algo chamou a atenção desde que um vídeo sobre o acidente começou a circular nas redes sociais. O tal vídeo é uma constatação do que é recorrente na cidade de Nova Venécia: a imprudência, especialmente de motociclistas. Nossos leitores sabem o quanto o Correio9 bate nessa tecla.
Mas, este editorial se volta para uma outra reflexão: a falta de empatia e o “poder julgador” de internautas que não pensaram nos familiares dele, nem nos amigos e muito menos pensaram que nos dias atuais, seus filhos, irmãos e amigos também estão suscetíveis a esse tipo de malefício.
Muito ódio foi destilado nas redes sociais, muitos comentários que beiram à perversidade com os familiares e todos os que conheceram o rapaz. Não pensaram na mãe, no pai, nos que o amavam. Simplesmente partiram direto para a condenação e a punição do jovem, que ausente, não podia se arrepender e nem dar qualquer explicação, por menor que fosse. A família foi machucada duas vezes: pela tragédia que abateu sobre ela e pelo julgamento dos que perderam a oportunidade de guardar suas opiniões para si próprios. Agiram como se ele fosse merecedor do infortúnio! Repugnante!
É impressionante a capacidade de pessoas agirem de modo tão desrespeitoso, sem nenhuma empatia, na mais dura falta de compaixão com seus semelhantes. Parecem que nunca cometeram pecado, assim, se sentem no direito de atirar a primeira pedra. Com isso, Jadson teve sua memória ofendida e seus familiares e amigos foram profundamente desrespeitados.
Infelizmente, se por um lado a internet é uma ferramenta de extraordinária utilidade, por outro é um terreno fértil para mentes sem noção, para maldade e todo tipo de julgamento. Esses que se comportam dessa maneira transformam a rede mundial de computadores em um tribunal popular, onde supervalorizam suas opiniões (boa parte sem nenhum sentido) e não deixam escapar uma oportunidade de falar o que não pensaram (se pensassem não seriam tão mordazes).
Isso não contribui com nada. É sugerível discutir a segurança no trânsito; falar de prudência e de cuidados que não deveriam ser dispensados. Isso sim, poderia diminuir a insegurança com melhorias para condutores e pedestres.
Mais empatia, mais cuidado ao opinar, pensar naqueles que ficaram e que sofrem a perda. Não importa o que o falecido tenha feito, se foi imprudente, se se atrapalhou. É bom deixar o julgamento para quem está acima de todos e que nunca cometeu pecado. Caso contrário, como aconteceu no triste fim do jovem Jadson, opiniões insignificantes do ponto de vista prático só servirão para ofender, magoar e intensificar o sofrimento de pessoas que já estão carregando a dor.
Além disso, há um viés moral no desrespeito aos mortos, fere princípios ético-sociais e religiosos. A doutrina cristã preceitua o tributo aos mortos.
No caso em questão, faltaram noções básicas como a humanidade após a vida, o respeito e a proteção pós-morte.
O filósofo francês René Descartes, criador da frase “penso, logo existo” cunhou uma citação sobre o bom-senso: “O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm”.
Porém, nada melhor que a internet para mostrar o lado insano, perverso e a falta de senso de muitos. Eles e elas acreditam que estão certos em tudo, assim, ofendem, mentem emitem opiniões sobre assuntos que não lhes dizem respeito, desrespeitam e não estão nem aí com o sofrimento alheio. Falta humanidade!
E humanidade é característica intrínseca que compõe qualquer pessoa. É compaixão, é a capacidade de indignarmos com as injustiças: é o resumo de tudo o que há de bom no ser humano; é a capacidade de fazer o bem sem escolher; de acolher o sofrimento alheio.
Humanidade representa por si um ato de amor ao próximo. Quem pratica humanidade é bom e pacífico ao mesmo tempo. É ela que transforma homens e mulheres em seres humanos.
Na tragédia que se abateu sobre o Jadson e sua família, esses preceitos foram abandonados.
Todos, todos os dias carecemos da humanidade própria e alheia. Isso pode tornar o mundo melhor, mais humano e mais suportável.
Ao tecer um comentário na internet, pense se você está sendo humano ou desumano. Pense se está contribuindo para confortar os que sofrem (e muitas pessoas manifestaram sua humanidade prestando solidariedade nas redes sociais).
Por fim, pense se seu comentário contribui ou destrói. Em muitas ocasiões, ficar calado, não opinar é um ato de grandeza. Falar sem noção, é pequenez.
Em tempo: diante de tanta dor, a família do Jadson autorizou a doação dos órgãos, expressando a vontade dele. Isso é humanidade.
Ainda em tempo, nos humanizamos e solidarizamos com a vítima do atropelamento, com a sua família e amigos que, também, passam por um momento que não imaginaram passar. Momento de turbulência e apego à esperança. Torcemos pelo melhor desfecho. Que ele se recupere e fique bem.
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