A instalação de duas lombadas redutoras de velocidade no Bairro Santa Luzia, em Nova Venécia, tem provocado debates e gerado muita polêmica nas redes sociais e nas ruas. Até esta semana, o município veneciano era um dos poucos do Brasil que não possuía quebra-molas. Afinal, a adoção desse tipo de medida seria uma involução? Por que a cidade está recorrendo a isto? O que causou, o que levou o nosso trânsito a “precisar” de ser punido desta maneira? Eis as questões!
Reportagens, sobre acidentes de trânsito, são corriqueiras nas páginas do Correio9. Em muitas delas as causas dos acidentes explicadas (nos Boletins de Ocorrência da Polícia Militar) são “o condutor (ou motorista) perdeu o controle do veículo”. Aí surge uma pergunta a ser debatida. O que faz o condutor perder o controle? Por que isto vem acontecendo?
Qual a causa de tamanha desorganização do trânsito da cidade de Nova Venécia? Onde foi parar a “Suíça Capixaba”?
Se por um lado os quebra-molas têm dividido opiniões, por outro, eles levantaram um debate importante sobre o trânsito da cidade, os problemas enfrentados na direção e na mobilidade urbana. Uma coisa é fato: é preciso ressuscitar o conceito de “Suíça Capixaba”, e se isso não for possível, reinventá-lo.
Até agora, são apenas duas lombadas no Bairro Santa Luzia, mas, não se esqueçam da Rodovia do Café, no Bairro São Cristóvão, da Avenida Guanabara e da Reta do Aeroporto. Se tem gente insatisfeita com ínfimas redutoras no Bairro Santa Luzia, o Correio9 nem imagina quando as lombadas se espalharem por essas vias…
Na década de 1990 o então prefeito Wilson Japonês inventou de asfaltar vias da região central da cidade. Na ocasião, o assunto causou polêmica na cidade; semelhante ao que está acontecendo com a instalação das lombadas. A diferença é que naquela época não havia redes sociais, então, os protestos foram por meio de abaixo-assinados. Aliás, o que rolou de abaixo-assinados à época… Parte da população a favor e outra contrária à proposta!
Voltemos para 2022 quando, o agora prefeito, André Fagundes, decide recapear o asfalto existente e, ainda, mandou fazer mais. Não houve manifestação contrária. É só aplauso! O que mudou na forma da sociedade encarar o assunto? Será que se acostumou e percebeu que uma cidade, com suas principais vias asfaltadas facilita a mobilidade?
Supondo que fossem radares, haveria discussão? O que fazer então? Deixar como está?
Nos idos de 1990, o título de “Suíça Capixaba” garantia aos condutores o título de “mais educados do Estado”.
Acidentes eram raros dentro da cidade! E agora? A adoção de medidas que controlam a velocidade do trânsito afeta especialmente o deslocamento de quem conduz.
Vejamos o exemplo da saída da Travessa Avenida Vitória, no Centro da cidade (na cabeça da ponte), onde antes, quando havia parada obrigatória à espera do sinal “abrir”, o trânsito era mais organizado, porém, mais lento, pois, às vezes, se perdia tempo.
No entanto, desde que o sinal não funciona como antes, parece que o trânsito ganhou fluidez. Virou uma bagunça? Virou, é bem verdade! Parece o trânsito da Índia! Mas está funcionando! E até agora, sem grandes ocorrências.
Naquela região, os perigos são tantos que não exigem apenas atenção, mas também prudência e muita educação. Lá, quem quiser ser o primeiro a qualquer custo, e achar que a rua é só sua, como acontece nas vias citadas acima estará, no mínimo, se arriscando muito. Lá os condutores são forçados a fazerem o tempo, não quererem ganhar tempo. Isto não acontece no Bairro Santa Luzia, nem na Reta do Aeroporto e tampouco no São Cristóvão. A Guanabara então, se tornou pista de corrida!
Afinal, por que a “Suíça Capixaba” está deixando de existir?
Na década de 1980, no primeiro mandato do prefeito Adelson Salvador, ele falava muito em “conscientização”, e se baseava muito nesse termo ao fazer muitas coisas. Havia muitas campanhas, especialmente de trânsito.
No segundo mandato de Walter De Prá na Prefeitura (1988-1992), as campanhas eram sucessivas. O mesmo aconteceu quando Wilson Japonês assumiu em 1993. Universitários e estudantes iam para as ruas com panfletos, abordavam os condutores e conversavam com eles sobre os cuidados indispensáveis no trânsito.
Porém, parece que com o passar dos anos e a vida se fundindo com a internet, aquele contato com os motoristas lá na rua, falando com eles, explicando, foi desaparecendo. Além disso, o crescimento do número de carros nas ruas é exponencial, sem contar que os motoristas desta época parecem muito mais imprudentes.
O arquiteto, engenheiro civil, urbanista, paisagista, professor e ex-prefeito de Curitiba, Jaime Lerner (1937-2021) afirmava que “as ruas não são feitas para os carros, mas, para as pessoas”. Acontece que pessoas andam de carro nas ruas, enquanto pessoas caminham por elas. Que tal pensarmos nisso e tomarmos consciência, como era falado lá atrás, nos anos 80?
O debate está quente e está bom! E é assim que deve ser. Que continue!
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