Elias de Lemos (Correio9)
O mundo pede saúde mental! Este é o tema da campanha “Janeiro Branco” de 2022. A campanha é parecida com o “Outubro Rosa” e “Novembro Azul” e tem o objetivo de conscientizar da importância de se cuidar da saúde da mente.
O mês de janeiro foi o escolhido porque nessa época as pessoas tendem a rever seus planos e projetar o futuro de suas vidas.
E com o impacto causado pela pandemia do novo coronavírus no modo de viver das pessoas, as angústias aumentaram e a depressão foi potencializada.
O Correio9 conversou com o psicólogo Marcelo Dal’Col, especialista em saúde mental. Nesta entrevista, ele fala da importância dos cuidados com a mente e dá dicas de como mantê-la saudável.
Correio9 – Como a pandemia afeta a saúde mental?
Marcelo Dal’Col – A Psiconeuroimunologia é o campo científico que dedica-se a estudar as ligações entre o cérebro, o comportamento e o sistema imunológico. A hipótese base deste modelo é que estressores psicossociais diminuem a eficiência do sistema imunológico, aumentando significativamente, portanto, a capacidade da pessoa adquirir sintomas médicos (risco de uma doença).
Dessa maneira, diante de uma ameaça biológica, a imunocompetência (capacidade do sistema imunológico proteger o corpo) estará relacionada com fatores psicossociais que afetam o sistema imunológico, entre eles: os estados emocionais e o tipo e a intensidade de estresse que a pessoa está a enfrentar.
Diversos estudos feitos nesta área apontam que os níveis de estresse e a presença de humor deprimido afetam a resposta do sistema imunológico visto que podem impactar na produção de anticorpos, por exemplo.
Correio9 – Qual a importância de se preocupar com a saúde mental?
Marcelo Dal’Col – A saúde mental é um importante fator que possibilita o ajuste necessário para lidar com as emoções positivas e negativas. Investir em estratégias que possibilitem o equilíbrio das funções mentais é essencial para um convívio social mais saudável.
Correio9 – Quais são os sintomas de fragilidade na saúde mental, como sei que preciso de terapia?
Marcelo Dal’Col – Quando falamos sobre sofrimento emocional e psíquico acessamos o mundo subjetivo do ser, e essa questão é amplamente impactada pela forma como cada um se relaciona com o mundo, suas crenças, valores e sua visão de mundo.
O ser humano por si só e de uma forma inata tem uma capacidade de se organizar frente aos fenômenos que ocorrem ao longo de sua vida, mas, em alguns casos, independente da ordem e dimensão desses fenômenos, ocorre a presença de sofrimento emocional e mental através de sintomas. Segundo o psicólogo Gilmar Rodrigues, entre eles: mudança no padrão de comportamento; alteração de humor; alteração no padrão de sono e alimentar; isolamento social; perda ou ganho de peso; perda de interesse em atividades que eram frequentes e baixa autoestima.
Levando-se em conta que alguns desses sintomas são considerados “comuns”, muitas pessoas não têm a capacidade de identificar que isso se trata de sofrimento emocional e mental. Situação essa que pode ao longo da vida tornar mais grave sua saúde mental, implicando em grandes prejuízos em sua condição existencial no todo.
Correio9 – Como escolher um ou uma terapeuta?
Marcelo Dal’Col – Certifica-se de que o profissional está regularmente registrado no conselho de classe da categoria, (no Espírito Santo é o CRP 16). Psicoterapia para tratar saúde mental apenas deve ser realizada por psicólogos, bem como avaliação psicológica que é um instrumento exclusivo do profissional de psicologia.
Hoje recomendo como principal abordagem clínica a TCC (terapia cognitiva comportamental).
Correio9 – A desistência da terapia é comum?
Marcelo Dal’Col – Em alguns casos sim, mas, com o avanço das pessoas preocupadas em cuidar da saúde mental, a evasão tem diminuído e deixado de ser tabu.
Todo indivíduo humano em algum momento da vida irá passar por instabilidade emocional, logo irá precisar de ajuda profissional.
Correio9 – Como saber escolher entre um psicólogo ou psiquiatra e vice-versa?
Marcelo Dal’Col – Não tem ordem para essa escolha. A psicologia e a psiquiatria são ciências que se complementam no tratamento da saúde mental, e é fundamental que ocorram ao mesmo tempo para melhor evolução do paciente. Então, não existem casos que são exclusivos da psiquiatria ou psicologia.
Correio9 – Muitas pessoas, principalmente familiares, falam que psicólogo é coisa para louco e que depressão é falta de Deus. Como convencer a família que eu preciso de ajuda?
Marcelo Dal’Col – Ainda existe certa resistência de familiares com relação ao tratamento da saúde mental. Psicólogo não é coisa de louco, afinal, a loucura precede a psicologia.
A melhor maneira de mostrar a importância do tratamento à família é fazendo um trabalho psicoeducativo e orientação sobre a importância.
Correio9 – A estrutura familiar afeta a saúde mental? Uma boa estrutura familiar pode evitar transtornos mentais?
Marcelo Dal’Col – Afeta sim, porém é coadjuvante, a família pode ser colaborativa tanto em aspectos positivos quanto negativos.
Correio9 – Depressão, tristeza e melancolia são a mesma coisa?
Marcelo Dal’Col – Não, para ser depressão os sintomas têm que persistir em pelo menos sete dias interruptos. Tristeza pode acontecer com qualquer pessoa que não consegue gerenciar suas emoções. Melancolia é uma fase da depressão, é o estado mórbido caracterizado pelo abatimento mental e físico que pode ser manifestação de vários problemas psíquicos, hoje considerado mais como uma das fases da psicose maníaco-depressiva.
Corrreio9 – Quais são as dicas para manter a saúde mental?
Marcelo Dal’Col – Gerenciar suas emoções. Ter tempo de qualidade. Autoconhecimento, atividade física, boa alimentação, psicoterapia, bons relacionamentos e leitura.
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