Elias de Lemos (Correio9)
O termo feminicídio é de conhecimento geral e a prática, infelizmente, se tornou estatística. Todos os dias acontecem tragédias envolvendo vidas de mulheres que tentaram se livrar da opressão, da falta de respeito, da agressão e da morte. A palavra feminicídio caracteriza crimes contra mulheres que chegam ao limite do terror causado por maridos, namorados, noivos e até pretendentes. Morrem porque são mulheres!
Contrariamente, mortes de homens em razão do gênero, simplesmente por serem homens, não são assunto popular, porque não acontecem. Será? Vai um exemplo.
No último domingo uma mulher de 48 anos, trabalhadora rural no município de Vila Pavão matou o marido a facadas e depois disso amputou o pênis dele. O nome dela é Balbina Santos da Conceição e o do falecido é Aparecido Salustiano dos Santos, de 49 anos. O crime aconteceu em uma propriedade rural na comunidade de Córrego Santa Fé.
Antes de matar o marido Balbina havia registrado oito ocorrências – contra ele – por violência que vinha sofrendo em casa (Lei Maria da Penha), mas, infelizmente, a lei tem servido para punir depois do crime. Ela não consegue proteger as mulheres, medidas protetivas não servem para nada, são um engodo.
Por que foi “masculinicídio”?
A expressão feminicídio origina-se na palavra feminicide, uma expressão que os pesquisadores Diana Rusell e Jane Caputi cunharam com muito esforço na década de 1980, e que surge com uma clara intenção política: denunciar e tornar visível o componente misógino subjacente a esses crimes, os quais eram atenuados por meio do uso de palavras neutras, como homicídio ou assassinato.
Por analogia o “masculinicídio” é o desfecho dos contínuos atos de violência física, psicológica ou sexual, assinalados por escravidão sexual, mutilação genital, homofobia, tortura e racismo, pautados no ódio em função do gênero. Pelo menos duas dessas características podem ser encontradas no crime cometido por Balbina: o assassinato e a mutilação genital. Isto quer dizer que Aparecido Salustiano morreu por ser homem. Parece estranho!
Existem duas categorias de homens: a dos homens de verdade e a dos homens que não são de verdade. Para a infelicidade desse casal, Aparecido Salustiano fazia parte do segundo grupo: dos homens que não são de verdade.
Para saber a diferença entre as duas categorias é preciso saber o que caracteriza estes dois tipos de homens.
O que fazem os homens de verdade? Admitem suas fraquezas; sabem o que querem e não fogem das adversidades; aceitam as dificuldades da vida com serenidade; apreciam mulheres de verdade; são educados e sabem tratá-las; demonstram suas emoções verdadeiramente; sabem a importância da família e preservam a harmonia em casa; enfrentam suas responsabilidades sem medo e sabem reconhecer quando falham; são verdadeiros quando dizem ‘eu te amo’ a uma mulher; buscam entender as mulheres, em vez de julgá-las; são honestos e fiéis com suas esposas e namoradas; lavam louça, roupas; cuidam das crianças sem considerar isso como sendo ajuda; fazem amor em vez de sexo – e sabem usar o sexo para expressar o amor; aconchegam suas companheiras quando elas estão nervosas ou tristes; aproveitam as festas em companhia de suas mulheres; eles respeitam a natureza, os animais e os outros seres humanos. Eles não as consideram como suas propriedades, mas como parceiras de vida.
O que fazem os homens que não são de verdade? “Amam” milhões de mulheres, não ficam com apenas uma; são medidos pelo que tem, não por suas ideias; contam para os amigos sobre as mulheres com quem eles já transaram; têm medo de conhecer os pais da namorada e quando os conhece se fingem de cordeirinhos; escondem que já choraram por amor; batem e gritam com as mulheres e depois declaram um mentiroso “eu te amo”; acham que rosa é cor de mulher e homem não deve usar; mentem para parecer mais legais; gostam de carrões para impressionar as mulheres; têm medo de amar publicamente; não revelam suas fraquezas, pois acham que são fortes; dizem que o vestido está curto demais; usam drogas e não se preocupam com a saúde física e nem mental; adoram falar palavrões porque isso é coisa de homem.
Homem de verdade não causa terror em casa, ele gosta de proteger o que lhe é sagrado e importante, especialmente a família. Tem um desejo de doar a vida pelos filhos. Quando a mulher sofre ele compartilha da dor.
Quem olhar para os heróis que foram criados pela imaginação, pela literatura e pelos filmes vai concluir o que é ser homem de verdade. Eles dão a vida por amor!
E nós, como fazemos para doar nossa vida à nossa maneira? Vou parafrasear o que o tio do Homem-Aranha disse a ele, no primeiro filme, antes de ser assassinado: “Grandes poderes requerem grandes responsabilidades”.
É isso mesmo! Ser homem não é apenas existir, é exercitar o “poder” divino que nos foi dado de sermos homens, mas isso tem um preço: grandes responsabilidades. Está a fim de assumi-las ou vai continuar sendo um falso homem?
Antes de responder lembre-se de que homem de verdade não sofre “masculinicídio”, nem corre o risco de ter o “pinto” decepado!
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Jornal Correio9
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