Elias de Lemos (Correio9)
A “Lei do Retorno”; também chamada de “Lei da Causa e Efeito” ou “Ação e Reação” explica que tudo o que fazemos, seja bom ou ruim, de algum modo, em algum momento, cedo ou tarde, voltará para nós.
Metaforicamente, nossas palavras e ações são como um bumerangue que, ao ser lançado, faz o movimento contrário e sempre volta. Por causa disso, cabe a cada um decidir o que quer dar e receber das pessoas e do mundo em si, pois tudo o que fazemos e dizemos produzem consequências. Isso pode ser fácil de entender, mas é difícil de ser praticado.
Um ditado popular diz que “quem planta chuva, colhe tempestade”. Assim, de acordo com o que praticamos, as consequências podem ser boas ou nefastas. Foi o que aconteceu na última sexta-feira (30) com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ao ser condenado à inelegibilidade por oito anos: ele colheu o que plantou.
Quem quer colher resultados positivos, deve plantar atitudes positivas. Parece claro, mas, assim como muita gente, ele parece não conhecer um princípio tão básico. Ao não considerar as consequências de suas palavras e atitudes, ele não poderia esperar compaixão e compreensão como retorno. Bolsonaro nunca pensou entes de falar e de agir. Se sentia inatingível.
Assim, não considerou o efeito futuro de suas ações. Não pensou nos desdobramentos e colheu tempestade.
Na vida, é muito difícil falar e avaliar riscos dado que é complicado saber com precisão as consequências que nossas ações podem causar. No entanto, é possível estimar, prever e calcular aproximadamente as consequências que podemos provocar. O que podemos atrair de volta.
Correr riscos calculados faz parte da vida de cada um. No entanto, o ex-presidente correu riscos desnecessários, que poderiam ser evitados. Ele não refletiu, não estudou e não planejou como agir no cenário em que está inserido. Não se deu conta do que poderia acontecer mais tarde.
Agiu como sempre fez: fala agora e depois se desdiz, como se ao se desmentir deletasse suas atitudes e ficaria o dito pelo não dito. Só que não!
Se colocar em risco é um problema, mas, pior ainda, muito mais grave é quando colocamos outras pessoas em risco. Aquilo que falamos ou a maneira como agimos afetam as vidas de outras pessoas. Lembra da irresponsabilidade de Bolsonaro na gestão da pandemia? Quantas mortes, quanto sofrimento poderia, ter sido evitados?
Ao invés de assumir suas responsabilidades, de prestar solidariedade às vítimas e familiares, ele teve a crueldade de imitar pessoas morrendo por falta de oxigênio. Em outra ocasião, disse: “Não sou coveiro” e noutra: “Todo mundo vai morrer um dia”. A lista é grande!
A lista de suas declarações rudes, cruéis e desumanas é tão longa quanto a das mentiras propagadas por ele, sobre o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, e elencadas no voto demolidor do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes.
Moraes foi o último a votar na sessão do julgamento iniciando seu voto afirmando que a questão diante do TSE era bastante simples e que a resposta dada pelo Tribunal iria reafirmar a fé na democracia e a “repulsa” a um “populismo degradante”. Em seguida, falou em “encadeamento de mentiras” argumentando e destruindo cada uma das falácias de Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas.
O ministro lembrou diversas vezes que a decisão da Corte, apenas, segue a lei, assim como em diversas decisões anteriores, dizendo que todos têm o mesmo tratamento. Disse que o Tribunal não admite extremismo, mola-mestra do comportamento bolsonarista.
“Liberdade de expressão não é liberdade de agressão”, assim, o ministro afirmou que o direto à liberdade de expressão não autoriza as pessoas – especialmente agentes públicos – a falarem o que quiserem, tampouco fazer “encadeamento de mentiras.
Bolsonaro negou que tenha reunido embaixadores estrangeiros para atacar o sistema eleitoral, negou ter instigado o golpe e disse (pasmem!) que respeita a democracia, mesmo com as suas declarações irresponsáveis circulando aos montes nas redes sociais e na internet em geral. Bolsonaro enxerga apenas o que quer e não se envergonha das mentiras que conta.
Ele subestimou a lei, a Justiça e as instituições! Se colocou acima delas, confundiu o presidente com a Presidência. Embriagado pelo poder e envolto no pico de sua arrogância (como dito acima) se via inatingível.
Bolsonaro acredita que a Terra é plana, mas acabou percebendo que não é bem assim; que a Terra gira e às vezes capota, como capotou com ele. Agora, se sente injustiçado e assumiu outro comportamento: ele, que sempre foi Raquel, agora finge que é Ruth.
EM TEMPO: Bolsonaro foi limado da política tendo um negro como relator do processo, ministro Benedito Gonçalves; uma mulher, ministra Carmem Lúcia deu o voto decisivo; em uma ação conduzida por um advogado nordestino. É muita ironia para um homem racista, misógino e que tem aversão a nordestino.
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
OS TEXTOS ASSINADOS NÃO REFLETEM, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CORREIO9
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