Elias de Lemos (Correio9)
Domingo, 08 de janeiro de 2023. O dia que vai ficar na história do Brasil como sendo aquele em que a nossa democracia sofreu o seu mais duro ataque desde o golpe de estado de 1964.
Nesse 08 de janeiro, terroristas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) promoveram a maior baderna já vista no País com a invasão do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Sem aceitar o resultado das eleições democráticas – que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República – eles e elas já estavam em vigília desde o dia 02 de novembro pedindo intervenção militar e o impedimento da posse do presidente legitimado pelas urnas com mais de 60 milhões de votos.
As cenas registradas em Brasília (DF) percorreram o mundo e provocaram reações de governos nos quatro cantos do planeta.
A turma que se diz “gente de bem” tocou o escarcéu agindo como num efeito manada. Os que se dizem patriotas agiram como ‘patriotários’, vândalos não, terroristas que depredaram o patrimônio público, destruíram obras de arte, de arte-sacra e imagem de gente defecando em cima de uma mesa mostram quem é essa gente que fala em Deus, família e pátria. Ah, roubaram obras de arte e objetos das instituições. Gente de bem ou ladrões baderneiros!?
Desde a campanha “Diretas Já” (março de 1983 a abril de 1984) manifestações são comuns no Brasil. Foi assim na batalha pelas eleições diretas; foram intensas durante o governo Sarney cobrando mudanças na economia e controle da inflação; o povo foi às ruas e derrubou Fernando Collor, da presidência. E em 2013 no governo Dilma os protestos tomaram as ruas do País contra a crise econômica que se instalara.
Um fato curioso nas manifestações de agora é que elas não possuem uma pauta para o País ou para a sociedade; não falam em melhora da economia; justiça social e tampouco em moralidade (eles não possuem estirpe para falar em moral). A defesa deles é a derrocada da democracia e a instalação de uma ditadura militar sob o comando do “mito”.
Eles o idolatram porque acreditam ser um homem “honesto”. Tão honesto quanto os bandidos golpistas: diga-me com quem tu andas e direi quem és.
Apoiadores do capitão fujão não conseguem entender que a derrota na eleição de 2022 é fruto do desastrado governo conduzido por ele. Que ele perdeu porque não mediu as consequências dos seus atos, palavras e omissões.
A intenção dos terroristas baderneiros que invadiram os três prédios do coração da República no domingo era desestabilizar o País. O passo seguinte seria fechar refinarias e bloquear rodovias para instalar o caos e possibilitar o tão sonhado (por eles) golpe de Estado. Porém, o tiro saiu pela culatra. Em vez de produzir o caos, a lambança bolsonarista gerou uma inédita união das forças políticas. Uma união em torno do presidente Lula e do STF, ao contrário do que se pretendia. A imagem dos 27 governadores e dos chefes dos demais poderes descendo a rampa com Lula foi muito forte e significativa. Mostrou que com a democracia brasileira não brinca.
Doa a quem doer, seja lá quem for. A verdade é que o terrorismo só está fortalecendo Lula, que está mais firme do que nunca.
Na tarde da última terça-feira (10) Lula atravessou a Esplanada para defender o STF. E o STF é o órgão que, em 2018, negou habeas corpus preventivo ao atual presidente permitindo a sua prisão depois de uma condenação sem provas num arranjo entre o ex-procurador Deltan Dallagnol e o ex-juiz Sérgio Moro. Não houve baderna. A decisão judicial foi respeitada. O mesmo Tribunal que Lula defende agora não o permitiu ir ao velório do próprio irmão.
Lula perdeu três eleições presidenciais (1989-1994-1998), e em todas, reconheceu a vitória dos adversários; se recolheu e com a então esposa dona Marisa, amargou as derrotas de forma resiliente. Em nenhuma ocasião aconteceu baderna ou incitação à violência, como está acontecendo atualmente.
“Deus, Pátria e Família” foi o slogan fascista mais pronunciado ao longo do governo de Jair Bolsonaro. Ele se apropriou e diz ser o dono do verde e amarelo e quem o apoia é Brasil, quem é contra não é a favor do Brasil: “ou você está do meu lado e é Brasil ou se é contra não quer o bem do Brasil”.
Como empunhar a Bíblia e falar em Deus pregando o ódio, o rancor e o extermínio do “inimigo”? Como falar em Pátria procurando destruir as instituições que regem a nação? Como falar em família agredindo pais, mães e filhos considerados “inimigos?
Rechaçar o terrorismo que se instala no Brasil é um dever moral. Não se trata mais de uma questão ideológica; de ser direita, esquerda, comunista, socialista ou não ser nada. Trata-se de decência, de moralidade, de consciência humana.
Por fim, falam em defesa da liberdade. A liberdade que o ex-presidente e sua vassalagem pregam para eles, mas não vale para os demais.
A liberdade de agirem fora da lei e não serem punidos por isso.
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
OS TEXTOS ASSINADOS NÃO REFLETEM, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CORREIO9
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