Elias de Lemos (Correio9)
No dia 26 de março o médico Aloísio Vieira Silva, de 29 anos, foi assassinado – por estrangulamento e facadas – dentro de casa em Montanha, na região Noroeste do Espírito Santo. No dia 24 de abril o, também, médico Vinícius Soares Garcia, de 31 anos, foi morto dentro de casa com 29 facadas, em Belo Horizonte.
No último dia 20 de junho, o empresário David Dal Rio da Silva, de 34 anos, foi encontrado morto dentro do apartamento onde morava no Bairro Jardim Camburi, em Vitória. Ele foi estrangulado com um fio de ferro de passar roupas.
O que estes três crimes têm em comum? As vítimas foram mortas por pessoas que elas conheceram na internet; marcaram encontro e levaram os criminosos para dentro de suas casas.
A internet é o mais extraordinário meio de comunicação que já surgiu; facilita a vida das pessoas; adianta o trabalho entre outros aspectos. No entanto, é fundamental tomar muito cuidado, pois por outro lado, é um terreno fértil para criminosos. Alguns desavisados são vítimas de golpes de toda espécie na internet, são roubados, perdem dinheiro e muitos, além de perder dinheiro, acabam endividados e passam por maus bocados, quando não acontece o pior, como nos três exemplos acima.
Os relacionamentos virtuais são uma forma de conhecer novas pessoas. São uma oportunidade para pessoas mais tímidas, especialmente aquelas que levam uma vida segregada, oprimida pelo preconceito da sociedade.
Entretanto, qualquer tipo de relação tem suas vantagens e desvantagens, seja real ou virtual. Nesse caso, é preciso considerar que a internet facilita o contato, mas dificulta o conhecimento. Conhecer alguém pela internet é muito difícil.
Uma das grandes vantagens dos relacionamentos virtuais é a possibilidade de falar abertamente com outras pessoas. Na frente de um computador é fácil contar nossos segredos mais íntimos e exprimir nossos desejos mais recônditos.
O desejo de namorar pela internet é tão grande que acabamos por confiar cegamente na outra pessoa. Uma semana num relacionamento online equivale a um tempo maior de um relacionamento real.
Enquanto que na vida real somos cuidadosos e não compartilhamos nossos sentimentos rapidamente, no mundo virtual baixamos a guarda e contamos sobre a nossa vida facilmente.
Porém, se essa confiança é uma vantagem, pode também ser um perigo. Na internet, qualquer pessoa pode ser qualquer coisa.
Como em qualquer situação real, na internet também existem pessoas mal intencionadas, que se aproveitam desta confiança para seduzir; elas acabam falando aquilo que o outro lado quer ouvir, aquilo que preenche a carência dos desejos escondidos.
Quando nos encontramos com alguém no mundo real, que conhecemos na internet, já temos um grande nível de confiança, o que pode dar origem a enganos que podem custar a vida, como aconteceu com as três vítimas citadas neste texto. Ao contrário, no mundo real, somos mais cautelosos e desconfiados.
No mundo real, temos diante de nós, o tom de voz, as expressões faciais e corporais. Isto não acontece no mundo virtual.
A relação virtual é vantajosa quando ambas as pessoas têm boas intenções, estão desprovidas de maldade e de interesses econômicos ou financeiros. Entretanto, pode ser um grande perigo se uma das partes estiver mal intencionada e quer tirar proveito. Todas as vítimas mencionadas neste texto foram mortas e roubadas.
Da mesma forma que é possível encontrar alguém legal e bom na internet, também há a possibilidade de acabar caindo em armadilhas de pessoas cruéis.
O problema é que a conversa virtual impede de observar o modo de agir do outro, as pessoas com quem se relaciona, seus hábitos reais. Neste sentido, algumas medidas que podem ajudar na avaliação são perdidas. É preciso ter em mente que não se deve acreditar em todas as informações passadas, pois é muito fácil mentir pela internet.
Problemas como pedofilia, aliciamento de menores e golpes contra pessoas carentes ou aquelas que acreditam em dinheiro fácil são comuns; no entanto, a lista vai bem mais além do que isso.
Na maioria das vezes os criminosos encontram as vítimas em sites de relacionamento e começam a conversar, passando dados errados, usando fotos falsas e por aí vai. Assim que surgem uma oportunidade, eles propõem um encontro e, ingenuamente, pessoas do outro lado aceitam. As amizades virtuais podem facilitar outros crimes, como sequestro e estupro.
Os exemplos acima são de pessoas que levaram para suas casas pessoas que acreditavam conhecer, mas, na prática eram completamente estranhas às vítimas. Na internet não se conhece ninguém, é preciso cautela.
Seja cuidadoso, não conte segredos que não sejam necessários. Ninguém precisa saber onde você mora, onde trabalha, quais são os seus horários nem os lugares que costuma frequentar.
Esteja atento e faça perguntas, infelizmente existem pessoas mal intencionadas e por isso é fundamental precaver-se; faça perguntas que já fez anteriormente e observe se as respostas são as mesmas.
Em caso de dúvida, ou contradições, afaste-se. Existem milhões de pessoas na internet. Se aquela com quem está se comunicando lhe desperta dúvidas, afaste-se de imediato. Não vale a pena perder tempo com quem não transmite confiança. Não vale a pena correr o risco.
Procure marcar um encontro real o mais rápido possível: mas, nunca, nunca, jamais marque o encontro em sua casa. Busque fazer isso em um lugar público.
Não se deixe levar por palavras. Há um ditado popular que diz: “quem quer pegar passarinho, não fala xô”.
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
OS TEXTOS ASSINADOS NÃO REFLETEM, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CORREIO9
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