Elias de Lemos (Correio9)
Virou rotina! Os preços do gás de cozinha, óleo diesel e da gasolina encontraram o caminho da escalada e estão gostando da aventura. Dizem que escalar e estar nas alturas é superador, e os preços parecem sentir o prazer dessa superação.
Quem tem carro, moto, está reclamando. Caminhoneiros também. E quem utiliza transportes coletivos não fica atrás. Quem vai ao supermercado, também sente a alta dos combustíveis, afinal, eles impactam todos os preços, pois o Brasil caminha sobre rodas.
De janeiro a junho de 2022 os preços do litro de gasolina e do diesel subiram 47%, enquanto o gás de cozinha saltou “módicos” 36% em seis meses.
Mas, por que os preços dos combustíveis estão em disparada?
Como sempre, a culpa é do governo! No entanto, neste caso não é.
Quando Bolsonaro diz que não pode fazer nada, ele está dizendo a verdade (isso é raro), mas ele está falando a verdade. Ele não pode fazer nada! O que está acontecendo são reflexos de medidas tomadas nos governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e de Lula.
Falam que a Petrobrás, como empresa estatal, deveria abandonar a paridade de preços internacionais (em Dólar) e adotar uma política específica para manter a estabilidade dos aumentos.
Porém, na prática, a petrolífera não é uma estatal. A Petrobrás se tornou uma empresa de capital aberto no ano de 1997, no governo Fernando Henrique; quando ela efetuou venda de ações para se capitalizar e realizar robustos investimentos.
Com isso, a empresa, até então sob total controle governamental, passou, também, a pertencer a controles privados (diga-se: de seus acionistas).
Alguns anos mais tarde, em 2010, o governo Lula ampliou a venda de ações. Juntos, FHC e Lula desestatizaram a empresa. E, mesmo o governo tendo ficado com a maior parte, os interesses privados entraram em cena.
Até então, o governo sempre utilizava a empresa como instrumento de política econômica para controle da inflação, pois, como todo mundo sabe, os preços dos combustíveis afetam todos os preços de mercado.
Atualmente, o governo possui 28% das ações da companhia e, mesmo sendo o maior acionista, não é possível (dentro desse modelo) haver alguma interferência do governo na política de preços. O negócio é simples: se o governo interferir, os acionistas caem fora e isso poderia ‘quebrar’ a empresa.
Desde que abriu o capital, a Petrobrás passou a atender a interesses de mercado, exatamente aqueles que a bolsa de valores sempre festeja. Não se trata mais de uma empresa de interesse público, como era quando foi fundada e prosseguiu até à abertura de seu capital.
Atualmente, a petrolífera é a mais lucrativa do mundo. No primeiro trimestre de 2022 ela lucrou R$ 44,5 bilhões.
Entre janeiro de 2019 – início do governo Bolsonaro – e março de 2022, a empresa injetou R$ 477 bilhões nos cofres federais, levando-se em conta os dividendos, os impostos e royalties.
Nesse mesmo período, a empresa faturou R$ 1,16 trilhão; ou seja, desse montante, 38,5% foram destinados ao governo. Mas, considerando ainda que a empresa paga royalties a estados e municípios, a fortuna sobe para R$ 675 bilhões.
Para se ter uma ideia do que isso significa, o montante pago à União corresponde a cinco vezes o orçamento do Auxílio Brasil, previsto para este ano, que é de R$ 89 bilhões. Além disso, chega bem perto do que o governo gastou com a pandemia, que foram R$ 524 bilhões.
Todas as grandes petroleiras do mundo viram suas receitas dispararem durante a pandemia. A americana Exxon Mobil ficou no chinelo, faturou 100,7% a mais; enquanto isso a Petrobrás viu suas receitas aumentarem 4.492%.
Não por acaso! Ela produz em Real, mas vende em Dólar.
Querer que o governo interfira na política de preços é chover no molhado. Eles estão aumentando e vão continuar subindo até o Everest, e Bolsonaro não tem nada a ver com isso. Cobrem do Fernando Henrique e do Lula.
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
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