Elias de Lemos (Correio9)
Depois de quatro anos vivendo como um rei, mandando e desmandando, sempre jactando ser o dono da caneta. Fazendo farra… E daí!? Sem assumir responsabilidade com nada e sempre dizendo: “não é minha culpa”; caiu a ficha do senhor Jair que percebeu que é hora de já (ir) embora.
Vivemos um período sombrio de homenagem a torturadores; pregação e disseminação da violência; notícias falsas; muito deboche e falta de empatia. Mesmo assim, Jair Bolsonaro acreditava na sua reeleição.
Porém, foi o primeiro presidente a não se reeleger desde 1998. E, depois da derrota vergonhosa para Lula no dia 30 de outubro, Bolsonaro, que se comporta como uma criança mimada e birrenta que não sabe ouvir críticas e é incapaz de aceitar um “não”, mergulhou na tristeza, ficou melancólico, abandonou o cargo e adotou um silêncio sepulcral.
Aquele homem falante e bravateiro, de gargalhada debochada e sarcástico, simplesmente desapareceu. O imbrochável brochou! O incomível foi engolido por Lula nas urnas.
Bolsonaro foi irresponsável na gestão da pandemia e pior: brigou com todos aqueles que assumiram suas responsabilidades e tomaram decisões difíceis para conter o avanço do coronavírus. Disse que “todo mundo vai morrer”; e enquanto pessoas morriam asfixiadas por falta de oxigênio, ele apareceu imitando e debochando da aflição de quem se afligia por falta de ar.
Foi negligente em tudo, não queria vacina; defendeu a imunidade de rebanho e demitiu ministros da Saúde que queriam atuar de forma correta. Não se vacinou e passou vergonha em Nova Iorque ao ser impedido de entrar em restaurantes por não ter se vacinado.
Na ONU (Organização das Nações Unidas), ele teve a cara de pau (que lhe é bem peculiar) de mentir ao afirmar que o Brasil foi “um exemplo para o mundo” no combate ao vírus. Só ele e seus apoiadores acéfalos acreditaram.
Na mesma ONU, ele declarou que quando assumira o governo brasileiro, o Brasil “estava à beira do comunismo”. Lideranças do mundo inteiro ouviram com perplexidade!
Racista, misógino e homofóbico com aversão a pobres, ele protagonizou uma cena, no mínimo patética (para não dizer nojenta) ao simular ser um homem simples. Ele e seus asseclas gravaram um vídeo dele comendo frango com farofa usando as mãos, se lambuzando todo. Essa é a visão que ele tem dos mais pobres: são porcos e sem higiene.
No entanto, antes do frango com farofa, Bolsonaro apareceu como ele realmente é, comendo picanha que custa R$ 1.800.
Homem que se diz honesto, decretou uma série de sigilos de 100 anos. Os segredos de Bolsonaro vão desde seus gastos com cartões corporativos até o cartão de vacina do futuro ex-presidente que não se vacinou.
Ele usou do poder presidencial para conceder indulto ao deputado federal Daniel Silveira, um criminoso condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 9,5 anos de prisão.
Durante a campanha eleitoral de 2018 o, então candidato Bolsonaro disse diversas vezes que seu governo não teria a “velha política”, que não permitiria o “toma lá dá cá”. Mas, acabou se aliando ao Centrão e avalizou o orçamento secreto.
Em 2020, primeiro ano do “secretão”, foram destinados R$ 13,1 bilhões; valor que subiu para R$ 17,14 bilhões no ano seguinte. Para 2022, estão estimados R$ 16 bilhões; já para 2023 a reserva do orçamento secreto é de R$ 19,4 bilhões (o futuro governo Lula já entrou nessa onda). Todo esse dinheiro vem sendo usado para comprar apoio no Congresso ao estilo mensalão petista.
Com tanta grana a mais indo para o orçamento secreto, o volume de recursos disponíveis para o governo definir prioridades e decidir onde aplicar diminui. Para manter esse mecanismo, o governo teve de cortar verbas de outras políticas, como a Farmácia Popular e a Educação. Em resumo, o “secretão” é, atualmente, o maior esquema de corrupção do mundo.
Bolsonaro é um mentiroso compulsivo! E sempre pareceu acreditar em suas mentiras. No entanto, parece que ele não acredita no que fala e sabe que seu governo foi uma catástrofe sem precedentes na história brasileira.
Atacou a Justiça Eleitoral e desde o início vive defendendo o fechamento do STF. Pôs em xeque a segurança do sistema eleitoral, defendeu o voto impresso e alimentou desconfiança em relação às urnas eletrônicas. Desde que o voto eletrônico foi adotado, em 1996, foi a primeira vez que um político fez isso no Brasil. O motivo? Justificar sua derrota e ganhar no tapetão por meio de um golpe.
Chegou ao ponto de afirmar que vencera a eleição de 2018 no primeiro turno; que o pleito só foi para o segundo turno porque fora fraudado. Qual a lógica de em fraudar o primeiro turno e não o segundo, que ele venceu? Qual?
Ele vendeu a alma para ganhar a eleição. Gastou o que o governo não tinha e usou o tal Auxílio Brasil para subornar o eleitor: compra de voto. Aliás, foi a eleição mais comprada da história. Mas o eleitor não é bobo, ele sabe o que passou nesses quatro anos de anomalia.
Bolsonaro e seus aliados não perceberam a diferença entre 2018 e 2022. Lá atrás, ele foi eleito por duas razões: o sentimento antipetismo e sua bravata de homem honesto.
Ele nunca apresentou nenhum plano ou ideia para os verdadeiros problemas do País. E, sem saber qual é o papel de um chefe de estado e quais as responsabilidades de um presidente, ele criou inimigos a serem combatidos: os destruidores da família, a cristofobia e a falta de patriotismo. Seu slogan é claro: “Deus, Pátria, família”. Porém, nenhum desses assuntos é questão de estado. Ah! E tem também o comunismo que, segundo ele, ameaça o Brasil.
Consumada a derrota, o presidente se recolheu, não apareceu como antes. Silenciou-se! Mas não foi por acaso! Seu silêncio disse muito aos seus defensores que foram para as portas dos quartéis pedirem intervenção militar e a anulação das eleições. Afinal, o presidente está em silêncio e quem cala consente.
Os apoiadores do presidente acamparam no dia 2 de novembro e somente esta semana houve uma tentativa fracassada de desmobilização. Isso, depois de muita arruaça, de tocarem fogo em Brasília e até tentativas de atentados terroristas na capital federal. A desmobilização fracassou pela conivência do Exército.
Porém, politicamente, o presidente foi ficando cada vez mais isolado. Percebeu que seus planos não vingariam e temendo ser preso, preparou sua fuga para os Estados Unidos. Deixou seus fiéis apoiadores à deriva.
Saber perder, aceitar a derrota com resiliência e responsabilidade não é para qualquer um. É para os grandes. Coisa que Bolsonaro não é!
Mas, o ditado popular diz que “não há mal que dure para sempre” e, finalmente, esse mal está no fim. É hora de Jair embora; e já vai tarde. Que fique a lição e que essa tragédia nunca mais se repita. Amém!
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
OS TEXTOS ASSINADOS NÃO REFLETEM, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CORREIO9
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