Elias de Lemos (Correio9)
Uma eleição inusitada! Assim pode ser definido o resultado que saiu das urnas no último domingo (02).
Até o dia da eleição, a vitória de Renato Casagrande (PSB) no primeiro turno era dada como certa no Espírito Santo. No entanto, contrariando todos os prognósticos, deu segundo turno. Com a totalidade das urnas apuradas, Casagrande saiu com 46,94% contra 38,48% de Manato (PL).
Já na eleição presidencial, pela primeira vez um presidente que busca a reeleição vai para o segundo turno com menos votos do que o seu oponente. Lula (PT) obteve 48,4% dos votos, contra 43,2% de Jair Bolsonaro (PL).
Somando a vantagem do primeiro turno com a costura de amplo apoio para a segunda fase da disputa, no próximo dia 30 de outubro, Lula possui reais chances de sonhar em voltar ao cargo. Mas se isso acontecer, seu governo não será um mar de rosas.
Além da tarefa de reconstruir o desarranjo econômico, educacional e social, além de outros, fabricado durante os quase quatro anos do governo Bolsonaro, Lula precisará de muita habilidade para conseguir aprovar suas propostas.
O petista promete a volta da geração de emprego. Porém, de onde virão os investimentos? Ele conta com a redução ou o fim do teto de gastos. Aí a questão é a bomba fiscal que será herdada pelo próximo governo.
Se Lula reduzir o teto dos gastos, como será feita a gestão da Dívida Pública? A administração da Dívida envolve o pagamento de juros e a rolagem. Estamos falando de R$ 1,5 trilhão por ano.
Nos últimos anos, a política fiscal tem sido determinada pelos interesses do mercado. Há anos o governo está nas mãos da agiotagem do mercado.
Além disso, o arranjo institucional projetado para o próximo ano tornará muito difícil a governabilidade do petista. Isto porque o partido de Jair Bolsonaro poderá mandar nas duas casas legislativas, o Senado e a Câmara dos Deputados. O bolsonarismo saiu dessas eleições muito maior do que entrou.
A bancada do PL, no próximo mandato, terá 99 deputados federais e 14 senadores, enquanto a petista terá 68 deputados e 8 senadores. Ademais, os partidos de direita somarão um bloco de 273 deputados na Câmara.
Aliando os números ao embate odioso da polarização, Lula não terá facilidade para governar, muito pelo contrário: vai enfrentar o radicalismo.
Se a direita comandar as presidências do Senado e da Câmara o cenário será ainda pior.
Lula não perdeu votos no domingo, foi Bolsonaro que cresceu. A questão central do segundo turno é quanto Bolsonaro ainda pode crescer?
Para tirar a diferença do primeiro turno, o atual presidente precisa conquistar 6 milhões de votos. Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) somaram juntos pouco mais de 8,5 milhões de votos. Ambos declararam apoio a Lula. No entanto, se vão conseguir transferir os votos é outra questão.
O ex-presidente enfrentará ainda a gana bolsonarista que não admitirá seu retorno ao cargo. Com isso, o risco de um impeachment será um fantasma que vai rondar o seu governo [caso vença]. No menor vacilo ele pode ser afastado.
O ponto positivo é que em um eventual retorno, Lula contará com o apoio da população, uma vez que terá amplo apoio conquistado nas urnas. Mas, a paciência do povo terá um preço; ele vai ter que entregar o que prometeu. Se isso não acontecer a coisa vai ficar turbulenta.
Para completar o cenário, um estudo divulgado em setembro pelo Banco Mundial estima o risco de uma recessão global em 2023, somada a outras crises que podem causar danos às economias em desenvolvimento. O documento foi elaborado no momento em que a economia mundial passa pela maior desaceleração desde a década de 1970.
Por fim, os juros nos Estados Unidos têm subido continuamente, sem perspectiva de queda e isso afeta sobremaneira a economia brasileira. E não é só lá. Bancos centrais de todo o mundo, como os gigantes da China e Japão, também têm elevado as taxas. Se os juros sobem lá fora, inevitavelmente o Comitê de Política Monetária, do Banco Central do Brasil é forçado a aumentar aqui também.
O cenário é esse; é esperar para ver. “O futuro a Deus pertence”!
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
OS TEXTOS ASSINADOS NÃO REFLETEM, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CORREIO9
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