Elias de Lemos (Correio9)
Engenheira, atleta olímpica, professora, militar, atriz, jogador de futebol. Veterinária, modelo e técnico em informática. Eram os sonhos que foram interrompidos no dia 7 de abril de 2011. Naquele dia de horror, 12 crianças sonhadoras foram mortas em um ataque à Escola Tasso da Silveira, que fica no Bairro de Realengo, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro.
Todas elas tinham idades entre 13 e 15 anos quando foram vítimas do crime bárbaro que ficou conhecido como o “Massacre de Realengo”.
A escola estava comemorando 40 anos e estava recebendo ex-alunos para falarem de suas vidas depois de terem estudado lá.
Às 8h15m daquela quinta-feira, um ex-aluno, na época com 23 anos, parou em frente ao portão, se apresentou como palestrante e entrou. Na mochila, o assassino levava dois revólveres, pelos quais pagou R$ 1.460,00.
Dentro da escola, ele subiu para o segundo andar, invadiu uma sala da 8ª série e começou a matança: mirava as cabeças das meninas e os corpos dos meninos.
A barbaridade daquele dia chocou o Brasil e parecia ser um assunto que seria lembrado pelas cicatrizes que deixou. Era inimaginável que algo parecido ocorreria novamente. No entanto, novas feridas têm sido abertas em uma epidemia de ataques a escolas pelo Brasil afora.
Apenas nos últimos 15 dias, foram quatro ameaças sendo três consumadas contra comunidades escolares, deixando rastros de mortes, feridas e o trauma que todos que passam por isso carregam para o resto de suas vidas.
Como se não bastassem as ameaças reais, para complicar o momento, ainda existem as publicações falsas nas redes sociais, com ameaças que só contribuem para ampliar o clima de medo e gerar pânico na população.
Para entender a gravidade do que ocorre no Brasil, não precisa ser pai nem mãe, não é necessário ter filhos para saber que essa tragédia atinge a todos nós. Quem tem coração, quem tem alma se compadece, afinal, esse horror está muito perto, sem escolher lugar, nem vítimas.
Mas, como isso se intensificou tanto, ao ponto de se tornar uma epidemia de ódio e terror nas nossas escolas?
Comparado a outros países do mundo, o Brasil era um País pacato. No entanto houve uma mudança radical causado por pessoas sem consciência do que estavam fazendo. O pino da granada foi arrancado quando gente sem noção e sem nenhum entendimento do que praticavam (e, ainda, praticam), implantaram uma “filosofia” para os outros, que nem elas mesmas são e não demonstram ser, nem compreender o abismo que criaram: família tem que ter exemplo dentro dela e não buscar exemplo de político que fala de família, mas que não são exemplo dentro de suas famílias.
Essa onda de violência deixou de ser um caso isolado, como em Realengo, nas escolas quando irresponsáveis, sem entender o que é educação, iniciaram uma cruzada contra o sistema educacional jogando alunos e pais contra professores.
A hostilidade contra educadores e contra a escola enquanto instituição tem origem no extremismo de direita que se enraizou no Brasil, enraizou a ignorância e semeou o nazismo no seio da sociedade. E ela tem nome: Jair Bolsonaro e Movimento Brasil Livre (MBL).
O que Kim Kataguiri, Renam Santos e Fernando Holiday faziam em 2016? Sem nenhum respeito à educação, invadiam escolas para intimidar professores em sala de aula e censurar – segundo seus ‘critérios’ – os conteúdos ensinados, em nome de uma ideologia que denominaram “Escola Sem Partido”. Jair Bolsonaro embarcou no movimento e deu no que está aí. Criar o problema foi fácil. A questão agora, com o extermínio de crianças e professores, é como nos livrarmos dessa tragédia.
É preciso tomar atitudes urgentes para combater o fascismo e o nazismo que adoeceram a sociedade brasileira. Não será fácil como foi a criação. Será preciso luta, tempo e energia.
Este texto se encerraria no parágrafo anterior. Porém, lamentavelmente, no momento do ponto final, chegou uma notificação no canto direito da tela do meu computador. Abri a mensagem e mais um caso de ameaça de ataque dentro de uma escola foi registrado na manhã desta quinta-feira (13). Agora, uma bomba de festa junina foi jogada dentro do pátio do Colégio Estadual Teixeira de Freitas, localizado na Rua da Mangueira, na região da Mouraria, em Salvador.
Em vídeos que circulam nas redes sociais, três estudantes aparecem feridos, após quebrarem uma janela de vidro tentando escapar do local. Eles foram socorridos pelo SAMU para unidades de saúde da região.
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
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