Elias de Lemos (Correio9)
Na última quarta-feira, dia 8 de março, acompanhei a enxurrada de declarações, parabéns, muitas homenagens e tantas outras referências ao Dia Internacional da Mulher. Não escrevi nenhuma palavra sobre o assunto. No dia seguinte, ontem, quinta-feira (09), o tão comentado dia já era passado, parecia ter ficado no esquecimento.
Entre todas as menções, uma me pareceu esdrúxula: “Feliz dia da mulher!”. Assim, decidi que a minha reflexão não cabia naquela quarta-feira, pois, diante de tantas homenagens, parece-me que o senso comum não compreende o significado do dia 8 março.
Pois bem! No dia 8 de março do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque, nos Estados Unidos, entraram em greve, ocupando a fábrica para reivindicarem a redução da jornada de trabalho de 16h por dia para 10h. Elas recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram trancadas na fábrica onde aconteceu um incêndio e cerca de 130 mulheres morreram queimadas.
Em 1910, numa conferência internacional realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de março como “Dia Internacional da Mulher”.
A data representa o debate pelo respeito às mulheres na luta diária para ocupar o espaço merecido na sociedade. No entanto, muitos homens querem nesse dia impressionar suas parceiras e parecerem gentis com elas, oferecendo flores, chocolates, presentes e o malfadado “parabéns pelo seu dia”.
Mas, de nada vale o esforço em um só dia do ano, comprar presentes e não dar valor às mulheres no dia a dia. Tratar com gentileza, educação, ser atencioso, ter uma boa comunicação, ser presente, cuidar da higiene pessoal, elogiar e estar atento.
Entender o cansaço da mulher e compreender o quanto ela é múltipla. Ter a visão das tarefas domésticas e participar do cuidado com os filhos. Demonstrar o amor em gestos, palavras e ações, não apenas uma vez por ano. Mas fazer disso uma rotina diária. Não descontar na companheira o estresse do trabalho ou de outras dificuldades.
As mulheres querem ao seu lado homens que não as vejam como meros objetos ou como uma segunda mãe que tem que tomar conta de marmanjos. Elas querem homens que saibam ser parceiros de verdade, que tenham responsabilidade, respeito e saiba qual o seu papel.
Experimente fazer diferente e veja como uma ação gera outra reação. Se além disso quiser complementar com um mimo, certamente, será de bom grado.
Assédio depõe contra os homens, violência psicológica, moral e física rebaixam o homem e o transforma em um animal rasteiro.
Não há um só dia sem feminicídio no Brasil. Enquanto escrevo este texto, mulheres estão sendo violentadas, estupradas e mortas. Todos os dias, pelo menos uma mulher é assassinada no País, pelo simples fato de ser mulher.
O dia 8 de março não é uma data para simplesmente parabenizar as mulheres. É um marco para lembrar aos homens que dia da mulher é todo dia. É a oportunidade para lembrar aos homens que ser “Homem” é diferente de ser “homem”.
Muitos se vangloriam da masculinidade, de ser macho, hétero… No entanto, ser “Homem” é outra história. É não ser moleque.
O Dia Internacional da Mulher abre espaço para o debate sobre o comportamento masculino, para o homem refletir se ele realmente é homem. Nesse contexto, não basta debater os direitos e as necessidades das mulheres, mas também os abusos e todos os tipos de excessos cometidos por eles.
A dura realidade de ser mulher no Brasil está escancarada e não é segredo para ninguém. Para que essa tragédia desapareça é necessária uma profunda reflexão por parte do universo masculino. Para isso, os homens precisam de se reinventarem. Precisam tomar consciência de que quarta-feira foi o dia da mulher, quinta também foi, hoje é, e amanhã também.
E você, é homem ou moleque? Pense nisso, pense agora!
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
OS TEXTOS ASSINADOS NÃO REFLETEM, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CORREIO9
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