Elias de Lemos (Correio9)
O policial militar licenciado Daniel Silveira se elegeu deputado federal pelo PSL do Rio de Janeiro. Ele é de Petrópolis, na região serrana do Estado, e tem 38 anos. Silveira ganhou visibilidade política nacional a poucos dias do primeiro turno das eleições de 2018. Na época em campanha eleitoral, quebrou a placa de rua que homenageava a vereadora Marielle Franco, assassinada por milicianos.
Quem é Daniel Silveira? Pois bem, passado o primeiro momento de estrelato, eis que o nobre deputado, sem nenhuma produção parlamentar relevante, surge, novamente, como a fênix. Das cinzas, emergiu para o estrelato. Só, que dessa vez, para as páginas policiais.
Há dez anos, Daniel Silveira era um cobrador de ônibus, que foi demitido por falsificar atestados para faltar ao trabalho. Demitido, Silveira decidiu ingressar na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. No entanto, seu histórico não compatibilizava com os princípios da corporação.
Além das fraudes em atestados, ele foi processado por venda ilegal de anabolizantes em academias petropolitanas. Mas, sua ficha não para por aí, pois ele ainda não entrou para a polícia.
A PM carioca buscou, na justiça, meios de impedir o seu ingresso na corporação, mas ele obteve sentença favorável e acabou entrando para a polícia.
Desde então, o policial “justo”, “honesto” e “homem de bem”, foi preso mais de 90 vezes, por indisciplina. O que só comprova sua incompatibilidade para o exercício de uma atividade que exige tanto equilíbrio e responsabilidade.
Na última terça-feira, 16, Daniel Silveira surgiu do nada, do seu insignificante silêncio, para o estrelato policial. Ele atacou ministros do Supremo Tribunal Federal de forma insana, irracional e impensada; defendeu o fechamento da Corte e estimulou a violência contra seus membros.
Ao ser preso, em sua residência, por determinação do ministro Alexandre Moraes, ele disse que exerceu sua liberdade de expressão. Seus defensores dizem que ele emitiu sua opinião e que opinião precisa de ser respeitada. Ele teria cometido um “crime de opinião”. Ora, ora, ora!
O que é opinião? O que é liberdade de expressão? Opinião é dizer qualquer bobagem? É falar sem assumir as consequências do que falamos? Opinião é ofender e propagar o ódio e a violência sem pagar por isso?
Até acabar preso na noite desta terça-feira, a atuação parlamentar de Silveira foi marcada pela mesma violência simbólica que representou a quebra da placa de Marielle. Sem freio na língua que parece a todo o momento pronto a recorrer à violência física se preciso. Silveira fala grosso com a esquerda, enfrenta jornalistas, faz ameaças nas redes sociais contra quem se coloca em seu caminho, defende publicamente a truculência policial.
O parlamentar sempre se valeu do argumento de que, como cidadão, possui direito a liberdade de expressão. E, como deputado federal, tem direito a imunidade parlamentar que lhe garante passe-livre para falar o que quiser sem ser incomodado, mesmo passando de todos os limites razoáveis. Acontece que a imunidade parlamentar é para proteger o exercício da atividade, não para proteger crimes.
Esse estilo violento do deputado que se coloca como “acima da lei” é a sua marca registrada. Ele humilha, insulta, ameaça e xinga como se não existissem leis. Ele é parlamentar e defende a ditadura. Dá para acreditar?
Sua truculência o acompanhou, mesmo depois de ter sido preso em flagrante por ordem do ministro Alexandre de Moraes. Já detido, se recusou a usar máscara de proteção durante sua passagem pelo Instituto Médico Legal (IML) e hostilizou uma policial civil enquanto ela trabalhava. “A senhora não manda em mim não. Tá achando que sou vagabundo?”, questionou. “E se eu não quiser botar? Eu também sou policial e sou deputado, e aí?”
Bom! Nem ela, e nem ninguém precisa achar que vossa excelência, o deputado Daniel Silveira é vagabundo, porque isso, ele faz questão de provar o tempo todo.
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
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