Faleceu na madrugada desta quarta-feira, 19, vítima de infarto, o sapateiro Reginaldo Jácome Biral, 63 anos, conhecido popularmente como Nata. Ele começou o seu ofício aos 16 anos, na antiga Casa do Couro, situada na Avenida Vitória, em Nova Venécia, onde hoje seria próximo à Padaria Salute. Permaneceu por lá até os 25 anos quando montou o seu próprio negócio, naquele mesmo local.
Em seguida trocou novamente de ponto, duas vezes. Na primeira ele foi para a Avenida Belo Horizonte, próximo à fábrica da Veneza, tendo em seguida rumado para a Avenida Dr. Antônio Santos Neves, em frente ao Detran onde trabalhou até a tarde desta terça-feira, 18.
A equipe do Correio9 esteve lá nesta terça-feira para conversar com Nata com o propósito de, além de materializar o seu trabalho, informar também que nas décadas de 80 e 90, o sapateiro tinha um hobby que parece incomum nos dias de hoje. Quando ele trabalhou na Avenida Vitória, a principal da cidade, adotou o hábito de gravar as placas dos carros e quem eram seus respectivos donos.
Naquela época as placas eram formadas por apenas duas letras e os atuais quatro números. O sapateiro sabia, sem pestanejar todas as inscrições, tanto que havia pessoas que perguntavam a ele qual era a placa do próprio carro. Não é difícil imaginar que Nata tinha uma memória excelente, tendo em vista que muita gente não se recorda o que tomou no café da manhã, por exemplo.
Dentre muitas curiosidades há uma marcante. O caminhoneiro e madeireiro Augustinho Buliam, que faleceu recentemente, andava sem placas com seu caminhão pela cidade, mas, mesmo assim Nata sabia os números das placas do famoso caminhão: BF tal e tal, relatava os números dos quais ontem não se lembrava mais.
Na tarde desta terça-feira, Nata disse ao Correio9 que após as placas mudarem de formato e cor, já que nas décadas passadas eram amarelas e não prata de três letras como hoje, sentiu o peso de guardar tanta informação e se distanciou do hobby.
Ironia do destino é uma expressão popular usada para indicar um acontecimento inesperado e que serve para mostrar que nem sempre as pessoas controlam o que vai ocorrer na sua vida e na das outras pessoas. E, no trabalho jornalístico vivemos situações que são tão loucamente estranhas, que se acontecessem em uma novela gerariam protestos contra o autor. Quis o destino que a matéria, do Correio9, idealizada para ser uma homenagem em vida, se tornasse um tributo após a morte.
Em contato com a redação do jornal, o amigo Tamica Machado nos confidenciou outra curiosidade: a origem do apelido “Nata”. Segundo ele, no fim da década de 70 havia um jogador do Flamengo chamado Zanata, que era muito parecido com o veneciano. Então, os amigos da empresa Casa do Couro começaram a chamá-lo de “Zanata”, que no fim acabou ficando somente Nata.
Pego de surpresa com a notícia do seu falecimento, o Correio9 traz ao papel e à internet a homenagem ao homem que trabalhou até seu último dia de vida e que marcou época com seu jeito sublime de se divertir. O corpo de Nata foi velado na Capela Mortuária de Nova Venécia e o sepultamento ocorreu no fim da tarde de quarta-feira. Descanse em paz!
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