Um momento único, extraordinário, indescritível. Assim podemos resumir o sentimento unânime de quem foi prestigiar (no Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, neste último domingo) o mega show de Roger Waters, cantor inglês de 75 anos e fundador do Pink Floyd – uma das principais bandas de rock progressivo da história.
De Nova Venécia, dezenas de fãs estiveram presentes no evento. Algumas pessoas foram de carro próprio para a Capital mineira; outras embarcaram de avião; uma turma pegou um trem (saindo de Colatina) e alguns foram de ônibus em excursão. A reportagem do Correio9 pegou carona nesta aventura para acompanhar todo o trajeto de uma destas excursões e vai tentar apresentar, em detalhes, como foi a viagem, toda a expectativa para o evento e a emoção vivida após o espetáculo musical do grande ídolo.
A VIAGEM
Da excursão que o Correio9 fez parte, dois ônibus saíram das imediações do Ifes de Jucutuquara, em Vitória, às 23h30 de sábado, com 48 passageiros em cada ônibus. A maioria dos passageiros era da Grande Vitória e, também, havia pessoas de outros municípios. A TCExcursões, de Thiago Calado, já tem tradição de realizar viagens para shows de rock. Muitos ali já eram clientes da empresa e já viajaram para outros eventos, como o Rock In Rio, no Rio de Janeiro.
Durante o caminho, muitas pessoas foram dormindo e outras ficaram acordadas batendo papo, assistindo clipes de rock nas televisões dos ônibus e “secando” o frigobar que estava cheio de cervejas. A maioria estava ansiosa pela data da partida desta excursão. Tinha gente que há vários meses já havia comprado o ingresso e estava se programando para este momento.
Os dois ônibus chegaram em Belo Horizonte por volta do meio-dia e todos ficaram num Hostel na região da Pampulha, onde fica o Estádio do Mineirão. Lá, o grupo pôde descansar a tarde toda em camas, redes, sofás, tomar banho de piscina, comer e se arrumar, para, mais tarde, irem ao evento (que começaria a partir das 21 horas).
A abertura dos portões no imponente Mineirão teve início às 17 horas e várias pessoas já foram para o local em busca de um lugar mais próximo do palco. Outras resolveram ir mais tarde, depois das 20 horas, para não esperarem tanto tempo até o começo do show.
Numa pontualidade britânica, às 21h02, o sonho dos fãs começa a ser realizado e a gritaria é geral. Eles estão ali, perto de uma das maiores lendas da música de todos os tempos. A emoção é grande! 51 mil pessoas lotaram as arquibancadas e cadeiras superiores, inferiores e todo o centro do campo (coberto por tablados e transformado numa arena para recepcionar um dos maiores espetáculos da Terra).
Para se ter uma ideia, é como se toda a população veneciana – da cidade e do interior – estivesse dentro do Mineirão. Hoje Nova Venécia conta com 50 mil habitantes, e o público presente foi de 51 mil pessoas.
O SHOW
Foram 11 músicas e 55 minutos até chegar ao momento mágico do show: crianças com capuzes tomaram o palco montado no Mineirão para acompanhar “Another Brick in the Wall” e, ao final da música, exibiram camisas com os dizeres “Resist”. A resposta veio na forma de aplausos e vaias (mais aplausos do que vaias) a Roger Waters.
A partir dali, o grande aparato técnico, que incluiu um telão de 70 metros de largura por 14 de altura, várias torres que distribuíam o som de forma imersiva ao redor do estádio, passou a servir com maior ênfase ao propósito político de “Us + Them”. Desde que a turnê começou, em maio do ano passado, Waters vem alertando aos espectadores para a questão dos direitos humanos e outras bandeiras que sempre defendeu.
Após a execução de “Another Brick in the Wall”, o espetáculo ganhou um intervalo de meia hora, com os telões exibindo vários dizeres, especialmente contra governos que Waters considera totalitários, como o do americano Donald Trump e do russo Vladimir Putin. No Brasil, ele incluiu o candidato a presidência da República Jair Bolsonaro, líder nas pesquisas, o que alvoroçou ainda mais a plateia, que passou a gritar constantemente “Ele Não”.
Reações semelhantes foram vistas em São Paulo e Brasília, por onde Waters passou antes. Salvador, no Nordeste, região em que o candidato Fernando Haddad, do PT, domina, foi uma exceção. A pedido dos produtores, para não gerar brigas na plateia, foi colocada, no segundo show em Sampa, uma tarja sobre o nome de Bolsonaro com os dizeres “ponto de vista censurado”. Em BH, aconteceu o mesmo.
Em conversa com o Correio9, o contador veneciano Waldenewton Lyrio (que foi para o show junto com a turma que viajou de trem para lá) falou sobre a questão política que viu na apresentação. “O show em si foi muito bom, com as músicas de sempre mexendo com a alma da gente. Mas eu achei ruim o tempo gasto no intervalo com as mensagens políticas no telão, pois nessa hora acho que não deveria incitar o público. Show é show, política a parte. Creio que não deveria ser misturada as duas coisas.
Enfim, o mais importante foi a turma de amigos que reviveu a melhor época das nossas vidas”, salientou.
Agradecimento
Sem dizer quase nenhuma palavra para a plateia na primeira parte, contentando-se apenas em levantar o punho em alguns momentos, Waters, que estava com camiseta e calça pretas, falou pela primeira vez ao encerrar a apresentação de Another agradecendo as crianças mineiras que participaram da música.
Waters seguiu praticamente o mesmo setlist dos shows anteriores, fundamental num espetáculo tão dependente da tecnologia. O repertório foi quase todo dedicado ao Pink Floyd, sendo aberto com “Breathe”, “One of These Days” e “Welcome to the Machine”. Ele ainda mostrou algumas músicas de disco solo mais recente, “Is This the Life We Really Want?” (2017), “Déjà Vu”, “The Last Refugee” e “Picture That”.
Segundo tempo
No segundo momento do show, alarmes e luzes vermelhas tomaram conta do Mineirão, uma introdução a outro clássico do Floyd, “Dogs”. No telão, surgiu a imagem da capa do disco “Animals” (1977), mostrando uma antiga edificação de uma usina termelétrica londrina, enquanto um porco gigante alçou voo diante de um público deslumbrado. No palco, Waters e músicos colocaram máscaras de porco e tomaram champanhe.
Baseado no livro “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, “Animals” estampa os três animais presentes na trama: cães, porcos e ovelhas, sendo o segundo a representação dos políticos corruptos e dos moralistas. Outro disco importante do Pink Floyd, “The Dark Side of the Moon” (1973) foi referenciado durante a execução de “Brain Damage”, “Time”, “Money”, “Eclipse”, com canhões de luz refazendo o famoso prisma da capa.
“Us + Them” se encerrou com Waters tocando violão e cantando a inebriante “Confortably Numb”, do disco The Wall, acompanhado pelo coro de uma legião de fãs. Perfeição que só um artista como Waters é capaz de conduzir.
FÃS
Logo após o evento, o Correio9 ouviu o músico e baterista da banda Fractus, o veneciano George Müller Ambrosino Lívio (que estava na excursão). Para ele, o show do Roger Waters foi além do esperado. “Como grande fã do Pink Floyd, posso dizer que valeu e valeu muito à pena. Superou todas as expectativas. Tanto musicalmente, quanto em termos de produção. Tocou a maior parte dos clássicos da banda, as músicas que fizeram história… num show de efeitos, sons e imagens que aguçaram os sentidos de todos os presentes. Mais que um simples show de rock, posso dizer que foi um grande espetáculo e me sinto um privilegiado por ter estado ali”, destacou o músico.
A nutricionista veneciana Daylla Panciere Loureiro também conversou com a nossa reportagem. Ela também estava na excursão. “Este show foi uma experiência muito marcante, afinal, o Roger, assim como o Pink Floyd, representam muito na história do rock. Ter a chance de presenciar um megaevento como esse foi fantástico, e pra mim, que sou uma grande admiradora da banda, foi realmente um sonho realizado poder ver um ‘floyd’ no palco. A turnê Us + Them é um espetáculo que desperta sensações. O show é uma experiência muito rica de som, efeitos visuais, qualidade musical, o que torna o momento muito mais emocionante, inexplicável”, assegura Daylla.
MAIS
Depois de Belo Horizonte, terão shows no Rio de Janeiro (nesta quarta-feira, 24, no Maracanã), Curitiba (no sábado, dia 27, no Estádio Couto Pereira) e Porto Alegre (na terça-feira, 30, no Estádio Beira-Rio). Antes, o cantor se apresentou em São Paulo, Brasília e Salvador.
O RETORNO
Após o término do show, às 00h03, os 96 passageiros retornaram para os ônibus pois havia ainda muito chão para rodar, até Vitória. Esse é o famoso ‘bate e volta”, mas todos ali sequer estavam preocupados com isso. A emoção fala mais alto para os apaixonados pelo rock, principalmente pelo Pink Floyd, que é uma grande religião.
É como já diz o título de uma canção da própria banda, “The Happiest Days Of Our Lives” (Os Dias Mais Felizes de Nossas Vidas) – esse era o sentimento de praticamente todos ali.
Goodbye!!!!!!
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