
Elias de Lemos (Correio9)
No final dos anos 50, o adolescente Homer Hickam (Jake Gyllenhaal) vive em uma cidade onde a mineração é a maior empregadora local. Ao saber que os russos colocaram o satélite Sputnik em órbita, Homer começa a sonhar em também colocar um foguete seu em órbita. Logo ele convence alguns amigos a participarem do projeto e, com o apoio de uma professora, dá início ao projeto que irá mudar sua vida para sempre.
A história acima, contada no filme Céu de Outubro, de 1999, descreve bem a aventura de cinco estudantes venecianos. Alunos da Escola Dr. Adalton Santos eles enfrentaram o desafio de participar da Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA) e construíram foguetes sustentáveis de material reciclável para participarem do concurso nacional de lançamento de artefatos.

Os objetos foram elaborados a partir de estudos e pesquisas sobre astronomia e aeronáutica e foram construídos e testados em duas semanas. Os meninos analisaram cada lançamento para ver o que deveria ser corrigido e vibravam com as tentativas bem sucedidas.
Foram quinze dias de intenso trabalho com a ajuda das mães Mércia Torezani e Debora Vigne. Como resultado, conquistaram cinco medalhas de ouro na MOBFOG (Mostra Brasileira de Foguetes). Leovictor Santos Torezani e Isaac Vigne (ambos com 12 anos) desenvolveram um protótipo juntos e faturaram o ouro.

Para fazer o projétil eles usaram materiais como PVC, cano, fita isolante, durex e cola, entre outros. No entanto, a conquista exigiu dedicação. Débora, mãe do Isaac é professora e, junto com a Mércia, mãe do Leovictor, são as maiores incentivadoras dos meninos.
O trabalho foi dividido em quatro fases: 1ª) estudo; 2ª) elaboração do projeto; 3ª) construção; e 4ª) testes de lançamento. Os dois pesquisaram juntos e Leovictor, como bom desenhista que é, pegou o lápis e se encarregou dos esboços. Débora conta que foram necessários diversos estudos com pesquisas em sites e livros.

Segundo Debora, a pesquisa preparatória envolveu estudos que passaram pela astronomia, física, química e aerodinâmica. “É necessário, por exemplo, combinar a estabilidade, o peso da ponta do foguete, o tamanho da garrafa a proporção entre água e ar, tudo tem que ser milimetricamente calculado”, disse.
Os testes são momentos de expectativa e euforia. Cada lançamento que dá certo é uma comemoração, enquanto os que apresentam falhas os remetem para análise e correções. “Quanto mais falhava, mais a gente insistia, eles não desistiam e predestinavam a corrigir”, fala Debora com orgulho.

Montados com garrafas PET, papel e plástico, os foguetes vão ao ar a partir de uma base de lançamento feita de PVC. Mas, o grande segredo está mesmo na combinação entre água e ar que cria a pressão necessária para a propulsão do objeto.
O primeiro protótipo atingiu uma distância aproximada de 10 metros; o segundo chegou a 30. Já o modelo desenvolvido para a olimpíada, denominado por eles de Bicudo 1, alcançou 97 metros na fase de testes. Eles produziram outro, o Bicudo 2 e foram para a MOBFOG com a meta de chegar a 150 metros. E foi aí que os garotos se surpreenderam quanto o Bicudo 2 voou 170 metros, lhes garantindo a medalha de ouro.
Leovictor contou como recebeu a notícia: “Eu estava dormindo e minha mãe que viu que havíamos ganhado. Ela ficou tão afobada que me acordou ‘aos tapas’, dizendo você é ouro, você é ouro. Aí eu perguntei: ouro de quê? E ela disse: vocês ganharam a MOBFOG?”.

Já o Isaac levou três dias para acreditar: “Eu fiquei muito emocionado, muito feliz, mas, não acreditava que tínhamos ido tão longe. Levei três dias para acreditar, até a ficha cair”.
Debora exalta o interesse, dedicação e disciplina dos seus pupilos: “Não é fácil manter a motivação. A gente que é adulto sabe que nada é fácil. E tem aluno que a gente encontra e não larga mais. Nosso papel é incentivar. São dedicados e nós vamos continuar”.
Isaac e Leovitor explicaram que os momentos de lançamento exigem muita atenção: “É preciso observar a trajetória, a estabilidade. Cada detalhe é importante para fazer o aperfeiçoamento”.
Mas, se por um lado foi trabalhoso e exigiu energia dos garotos, por outro, eles não encararam como um trabalho ou uma dificuldade intransponível. Quem explica é Leovictor: “Eu falei com a minha mãe: eu estou fazendo isso por diversão, porque é muito divertido. Não é trabalhoso e descobrimos muita coisa interessante”.
Eles trabalharam quinze dias, durante pelo menos seis horas diariamente.
Além deles, outros três campeões participaram da OBA em outra modalidade. Israel Vigne, de 10 anos, é irmão de Isaac e produziu um foguete impulsionado por propulsão a ar, a partir de uma garrafa pet com ponta de papel alumínio. Sua meta era atingir 38 metros de distância no lançamento de seu protótipo. Porém, para sua surpresa, ele chegou a 64. Ele explicou que alterou o lançamento na MOBFOG: “Eu estava pisando com um só pé sobre a garrafa. Na apresentação eu saltei com os dois pés, com todo o meu peso. A garrafa estragou, mas o foguete voou longe”, disse orgulhoso.
Junto com ele, também, foram medalhistas de ouro Arthur dos Reis Uliana, 11 anos, e Gustavo de Araújo Machado, 10.
Os campeões nacionais por Nova Venécia, Leovictor e Isaac conquistaram suas vitórias pela Escola de Ensino Fundamental Dr. Adalton Santos; eles são do do 6º Ano; Já pela Escola Claudina Barbosa, Israel e Gustavo estão no 5º Ano e o Arthur está indo para o 6º em 2021.

Parece uma missão difícil, mas os meninos desenharam todas as partes e o processo de produção dos artefatos e eles têm todos os conceitos na ponta da língua, sobre todas as peças. “É bastante simples. Primeiro vai essa garrafa. Nós colocamos as proporções de água e ar e fechamos para não retornar a pressão e toda ela vai pelo cano que nós vamos abrir para o foguete. Quando chega em 100 libras, que é a medida de pressão, nós lançamos o foguete para ver até onde ele consegue chegar”, explicaram.

Na prática, eles se mostram bem preparados para falarem sobre o assunto e muito empolgados quando perguntados sobre o feito. Quando um lançamento não acontece como esperado, logo reconhecem as possíveis causas da falha e o que pode ser feito para repará-las.
Eles explicam que as garrafas utilizadas para conter refrigerantes gaseificados são as únicas que devem ser usadas. Elas são feitas de PET (Politereftalato de etileno), um poliéster que tem propriedades muito interessantes. É muito resistente, leve, fácil de cortar com faca ou tesoura e torna-se maleável a baixa temperatura. Elas vêm em vários tamanhos (volumes). Normalmente são capazes de suportar até 100 libras de pressão.
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