Eliana Maria Lemos
Nesse começo de ano tirei uns dias de folga e pude acompanhar, graças à absoluta falta do quê fazer, os programas vespertinos da televisão aberta. Depois de muito “zapear” para matar o tédio, cheguei à conclusão que um dos trabalhos mais fáceis no Brasil de hoje é ser fofoqueiro de TV. A função, que tem o nome pomposo de jornalismo de celebridades, não exige grandes conhecimentos nem sequer carisma do profissional, só muita cara de pau para ganhar a vida em cima do trabalho dos outros. Isso porque, salvas raríssimas exceções, as chamadas rodas da fofoca presentes em programas como: A Tarde é Sua (Rede TV), Fofocalizando (SBT), Balanço Geral (Record) Melhor da Tarde (Band), entre outros, nada mais são do que um apanhado geral do que foi publicado em jornais , revistas e nas redes sociais. Dessa forma, as pautas são sempre as mesmas em todos eles.
Foi-se o tempo em que os colunistas de variedades (como se chamava antigamente) corriam atrás de furos ou de entrevistas exclusivas com os famosos. Hoje, eles ficam ali sentados comentando entre eles sobre o que a celebridade publicou em sua rede social ou o colega do jornal apurou e escreveu em sua coluna. Aí eu me pergunto: em que escola esses profissionais estudaram para fazer um trabalho tão mal feito, tão raso desse jeito?
Além da falta de assunto, outra coisa que me impressiona é a desinformação deles. Há pouco tempo vi na “Hora da Venenosa” (Quadro do Balanço Geral) uma nota sobre o Elvis Presley, não sei qual era o contexto em quê o rei do rock foi mencionado, porque peguei o bonde andando, mas comentaram sobre o cantor nunca ter feito show fora dos Estados Unidos, questionavam se isso se deu porquê ele tivesse medo de andar de avião. Fiquei perplexa, porque sou fã e conheço sua biografia, mas basta uma consulta rápida no Google para saber que Elvis adorava voar, até pilotava e tinha uma coleção de aviões. As versões para ele não ter feito nenhuma turnê mundial são várias, mas, nenhuma delas por medo de avião. É só um exemplo da preguiça, desleixo ou dê o nome que preferir, que esse pessoal tem de fazer o básico do trabalho que é apurar a informação que vai passar para o telespectador.
Outro aspecto até engraçado desses quadros é observar o quanto eles promovem subcelebridades, aquelas figuras que surgem na mídia de vez em quando, num lampejo de sorte sem talento algum, e que fazem de tudo para esticar ao máximo os quinze minutos de fama. Uma delas é a Geisy Arruda, que ficou famosa em 2009, ao ser hostilizada pelos colegas por usar um vestido rosa curto pra ir a faculdade. Bem, de lá pra cá quase que semanalmente os fofoqueiros têm algo muito importante para informar sobre a moça, tipo: Geisy Arruda tem fetiche por anões, ou Geisy arruda critica aplicativos de encontro, e ainda, Geisy Arruda conta como perdeu a virgindade. Tudo isso, declarações espontâneas da mesma.
Nas duas últimas semanas os programas foram feitos baseados em três nomes: Eduardo Costa, Chimbinha e Vitor Chaves. Em todos os canais os três foram citados o tempo todo, não vou entrar em detalhes para não plagiar o trabalho dos outros (risos).
O jornalismo de celebridades sempre foi muito consumido nos Estados Unidos e na Europa. Na guerra pela preferência do público, os profissionais fazem de tudo por um furo e, têm casos até que os veículos pagam milhões por uma entrevista ou uma foto bombástica. A perseguição dos tabloides ingleses chegou ao ponto de provocar o acidente que matou a princesa Diana no final dos anos 90, e segue fazendo suas vítimas, a mais recente é a duquesa de Sussex, Meghan Markle, esposa do Príncipe Harry, que cansada de ser perseguida e de sofrer discriminação da imprensa, convenceu o marido a virar plebeu e abandonar os compromissos oficiais com a família real.
Se lá fora a cobertura da vida dos famosos peca pelo exagero, aqui é o contrário, é tudo muito morno e sem graça, os colunistas não têm faro, nem vontade, de trazer para o seu público nenhuma novidade, só o básico feijão com arroz.
Essa semana, o prato do dia vai ser a apresentadora Ana Maria Braga que anunciou no final do seu programa Mais Você, da Rede Globo, que foi diagnosticada com câncer de pulmão. Nenhum fofoqueiro soube da notícia antes, mas agora que ela anunciou, eles vão passar a semana toda falando sobre o assunto, sou capaz de apostar! Já não se fazem mais candinhas como antigamente!
* A autora é jornalista, roteirista, escritora, pesquisadora do Instituto Ipsos
e articulista exclusiva do Jornal Correio9
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