
Elias de Lemos (Correio9)
O caos no Rio Grande do Sul, que tem dois terços de seus municípios inundados, fez surgir uma onda de solidariedade inédita no País, mas, a ajuda está sendo prejudicada em razão da divulgação de informações falsas, por extremistas, nas redes sociais.
Notícias como a suposta retenção de caminhões por falta de notas fiscais, da suposta fiscalização de embarcações e a retenção e destruição de donativos, a recusa do governo brasileiro à ajuda do Uruguai, e de que a primeira-dama Janja estaria no show da Madonna, no momento da tragédia, são alguns exemplos das fake news que estão sendo disseminadas por pessoas da extrema-direita.
Ao mesmo tempo que atrapalha a distribuição da ajuda aos afetados pela gigantesca inundação, as informações falsas ocupam pessoas para desmentir. E não é só isso! Doadores ficam descrentes e as vítimas vão perdendo a esperança.
A Brigada Militar foi a público desmentir com uma declaração do comando: “A Brigada Militar reforça que não está realizando fiscalizações em embarcações, não está cobrando notas fiscais ou impedindo a circulação de alimentos. Como instituição de segurança pública, todas nossas forças estão voltadas em salvar vidas e manter a ordem pública”.
No último dia 9 de maio o comandante do exército disse: “As fake news desmotivam, espalham inverdades, mas isso não é o nosso foco. Nosso foco é superar isso. Então nós não podemos nos desmotivar. Temos que mostrar o tempo todo o que está acontecendo, mostrando a verdade. É assim que a gente vai combatendo essa situação”.
Por que a extrema direta recorre a esse tipo de expediente no momento de tanta dor e sofrimento?
O governo federal está aplicando todos os esforços para reduzir o sofrimento dos gaúchos e a ação governamental está sendo bem avaliada. O presidente Lula viajou ao Rio Grande do Sul. No entanto, há extremistas na população e no Congresso Nacional que torcem pelo pior, não quer que o governo Lula dê certo, querem que o Brasil afunde para, depois, apontarem o dedo. Quem quer o bem do País, quer que o governo dê certo, independente de quem está no comando.
É afirmativo que o nosso País está doente pois, uma mulher que está ajudando a salvar pessoas e animais em uma tragédia (Janja) recebe infinitamente mais críticas e xingamentos do que outra (Michelle) que matou carpas por moedas. Para os extremistas, se o governo não faz nada, é criticado; se faz errado, é criticado e se faz o certo, também.
O Brasil inteiro está assistindo vídeos dos Correios levando ajuda; aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) levando ajuda; navio da Marinha levando ajuda; helicópteros do Exército levando ajuda; o Ibama está ajudando. Mas, segundo bolsonaristas da extrema, o governo não está ajudando.
O governo federal anunciou a destinação de mais de R$ 50 bilhões para o Rio Grande do Sul, suspendeu, por três anos, o pagamento da dívida de R$ 98 bilhões que o Estado tem com a União, anunciou um auxílio de R$ 5 mil para cada família afetada e deve anunciar um auxílio de R$ 600 a R$ 1.200 mensal para as pessoas desabrigadas e desalojadas pela catástrofe.
Enquanto o Rio Grande do Sul afoga, um grupo de deputados e deputadas foi aos Estados Unidos, gastando dinheiro público, espalhando informações mentirosas e pasmem: o pretexto da viagem, segundo eles, seria “denunciar que o Brasil vive uma ditadura’.
Ao final da audiência no Capitólio, levaram uma invertida da deputada Susan Wild, que disse que “o Congresso americano não é o fórum adequado para isso” visto que “a democracia brasileira é uma das mais sólidas do mundo”. A deputada americana enxerga de lá, o que eles que estão aqui não veem. Eles não se cansam de passar vergonha! E pior: acreditam nas mentiras que falam.
Que ditadura permitiria que eles e elas fossem lá fazer isso?
O deputado federal, Eduardo Bolsonaro, teve a desfaçatez de ir às redes sociais criticar a ida do presidente ao Rio Grande do Sul. Ele disse que Lula viajou primeiro a Santa Maria, terra natal do ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) e só depois se dirigiu ao “epicentro da tragédia” em Porto Alegre. Foi rebatido pelo humorista Marcelo Adnet: “Teu pai andou de jet ski”.
Quando a Bahia se afogava, no governo Bolsonaro, o presidente estava em Santa Catarina andando de moto aquática, dançando funk e fazendo “gracinhas” para os seus apoiadores. Não foi à Bahia porque o governo era petista.
Quando São Paulo passou por uma situação parecida, no governo Lula, ele foi ao estado, se sentou ao lado do governador Tarcísio de Freitas e estendeu a mão às vítimas. Voou para o Rio Grande do Sul e fez a mesma coisa, deixou de lado as diferenças com o governador Eduardo Leite e está agindo como um presidente (na quarta-feira, 15, ele desembarcou no estado pela 3ª vez, desde o início da calamidade). Tanto Tarcísio quanto Leite são opositores a ele.
A extrema direita é toda torta: acredita em comunismo, que a terra é plana, nega a ciência, pede ajuda a extraterrestres, que o Brasil vive uma ditadura, que a pandemia não existiu, que quem tomasse vacina viraria jacaré, que o Bolsonaro e o Lula seriam trocados de corpo. É muita loucura!
O que os extremistas acreditam e defendem não têm alicerce, não se sustenta. Neste sentido, apontam nos outros o que é característica deles. Desse modo, convencem aos seus defensores de que a mentira é real.
Negaram a pandemia espalhando que a Covid não existia, que era uma gripezinha, um resfriadinho. Negaram a quantidade de mortos, dizendo que as pessoas estavam morrendo de outras doenças, que estavam enterrando caixões vazios, com pedras. Depois, negaram a eficácia da vacina. O resultado foi mais de 700 mil mortes.
Para sustentar o ódio e manter a radicalização do eleitorado, os extremistas precisam semear intensamente a desconfiança contra as instituições democráticas (que para eles, são comunistas).
A tragédia é castigo de Deus ou obra do diabo, cada um que se vire, com a ajuda da igreja ou dos empresários. Por isso, a ação eficaz do Estado em ocasiões de catástrofes produz confiança entre a população, o governante democrático e nas instituições de estado. E isto é uma ameaça para a extrema-direita. Devido a isso, o extremismo precisa mentir 24 horas por dia.
Durante a pandemia foi a mesma coisa, muitas pessoas deixaram de se vacinar por causa da desinformação. É preciso responsabilizar todos os criminosos, um a um, pelo mau uso de sua “liberdade de expressão”.
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
OS TEXTOS ASSINADOS NÃO REFLETEM, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CORREIO9
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