Elias de Lemos (Correio9)
O capenga sistema de serviços de saúde pública, está sendo, disparado, o mote da campanha eleitoral em Nova Venécia. Na pesquisa do Instituto Futura, divulgada no dia 10 de setembro, 63,9% dos eleitores entrevistados apontaram o problema como a prioridade do próximo prefeito, que será eleito no próximo domingo (6 de outubro).
Antes da campanha, a questão da saúde já havia ganhado as redes sociais com reclamações recorrentes quanto à falta de especialidades, demora no atendimento, falta de recursos e equipamentos nas unidades do município, os deslocamentos para outras cidades e por aí vai.
Neste sentido, não por acaso, o problema tem gerado debates intensos, ocupando, com destaque, a lista de problemas a serem enfrentados pelo município. Desse modo, o Hospital São Marcos, o único do município, se tornou um dos principais “trunfos” das campanhas dos três candidatos, André Fagundes (Podemos), Antonio Emílio (PL) e Lubiana Barrigueira (PSB).
Lembrando que o Hospital São Marcos é uma entidade privada, pertencente à Sociedade Beneficente São Camilo. O hospital atende pelo SUS, mas depende de outras fontes para funcionar e ampliar sua base de atendimento. E, como é o único de Nova Venécia, é o primeiro a ser procurado pela comunidade veneciana.
Lembrando, ainda, que mesmo que haja muita reclamação em relação ao hospital, a unidade faz o que pode para prestar um serviço essencial à população de todo o município e, quiçá, de fora, também.
A construção do São Marcos data do ano de 1963, quando começou a funcionar, e a inauguração ocorreu em 1967. De lá para cá, passou por mudanças e ampliação. Porém, a estrutura de equipamentos deixa a desejar e a oferta de especialidades, também. Estas deficiências provocam transtornos, pois, muitos casos são transferidos para o Hospital Roberto Silvares, em São Mateus, que carrega a Região Norte nas costas.
O Hospital São Marcos está tão presente na pauta eleitoral, que em um debate realizado por uma rádio, recentemente, ao ser questionado sobre a ampliação do cemitério, o candidato André Fagundes, em sua resposta, cometeu um ato falho ao dizer, em dado momento que: “O Hospital São Marcos ainda tem muita vaga para fazer o sepultamento de muitas pessoas…”.
Esta coluna examinou os programas de governo dos três candidatos. Neles, todos os problemas de saúde serão resolvidos nos próximos quatro anos: mais especialidades, realização de cirurgias, UPA 24 horas, mais postos de saúde nos bairros, policlínica no interior… Como levar ao interior, especialidades que não existem na cidade?
Além disso, conversei com pessoas ligas à gestão da saúde em Nova Venécia. Uma delas (que pediu para não ser identificada, devido ao momento delicado da política local), explicou sobre questões que vão além da vontade de fazer.
Segundo a fonte consultada, a maior dificuldade não é a construção de unidades, nem a aquisição de equipamentos, mas, encontrar profissionais das devidas áreas carentes do município: “Nós, aqui, por exemplo, temos o recurso, o problema é conseguir profissionais especializados. Desde a pandemia da Covid-19, eles se tornaram muito escassos devido a demanda por esses profissionais. Não é tão fácil, como estão dizendo”, disse.
A discussão sobre a implantação de leitos de UTI, por exemplo, se arrasta há anos, com muitas promessas. No entanto, é importante ponderar que para se tornar um médico intensivista, é preciso passar por um processo de formação que pode variar entre dois e quatro anos, dependendo da via escolhida.
Residência médica intensiva tem a duração de dois anos e é realizada em unidades de terapia intensiva (UTIs). Para fazer a residência medicina intensiva, é necessário ter realizado uma residência médica em outra área como Clínica Médica, Cirurgia Geral, Pediatria, Anestesiologia, Infectologia ou Neurologia, que também dura dois anos. Neste caso, a graduação e a segunda residência, levam oito anos.
Tem também, o Programa de Especialização em Medicina Intensiva (PEMI), que é realizado em centros formadores credenciados pela Associação Médica Intensiva Brasileira (AMIB). O PEMI não exige pré-requisitos, como a realização de residência médica em outra área. Porém, o curso dura quatro anos. Neste caso, somando os seis anos do curso de medicina, mais o PEMI, são dez anos de estudo. E, após esses dez anos, o médico ou a médica precisa fazer a prova de título da AMIB e solicitar o registro no Conselho Regional de Medicina (CRM).
Diante disso, são profissionais cujas formações exigem muita renúncia, que investem muito tempo, dinheiro e dedicação no processo de formação. São profissionais raros e, tudo o que é raro, é caro.
Por fim, entre a teoria e a prática há um hiato que, se for ser desprezado, pode deixar tudo nas promessas e assim, mais uma vez, ficaremos na teoria.
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
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