Elias de Lemos (Correio9)
O povo veneciano perdeu o medo da covid-19. É o que pode ser constatado nas ruas, bares e outros segmentos do comércio local. Além disso, os governantes relaxaram com medo da pressão de comerciantes contra novas restrições. A junção desses dois fatores ameaça levar a saúde pública ao colapso.
A segunda onda da pandemia do novo coronavírus não veio de um dia para outro, ela estava prevista desde o início da pandemia. Houve muita falácia de que as eleições agravariam a situação, mas, no dia 15 de novembro já se sabia do descaso da população e da gravidade da situação.
Políticos oportunistas têm criticado o “fica em casa” e estimulado a exposição ao risco. O argumento é sempre o mesmo: “a economia não pode parar”. Mas, vidas podem!
O comportamento dos venecianos, com relaxamento cada vez maior, tem agravado o quadro de transmissão do contágio e, em pouco tempo, poderá nos levar a uma situação pior do que já vivemos até aqui: o novo epicentro da pandemia pode ser o Brasil.
A capacidade de atendimento está ficando comprometida. Tanto nos hospitais públicos quanto nos privados, as taxas de ocupação estão aumentando e chegando, em alguns níveis, acima de 90%, o que indica que o sistema de saúde pode entrar em colapso rapidamente e o crescimento de óbitos ser maior ainda em função da falta de assistência.
Todo o estado do Espírito Sando, incluindo a capital, que antes da eleição estava com risco moderado, passou à fase do liberou geral, voltando para o risco alto.
Mesmo assim, as normas restritivas para o funcionamento do comércio não vêm sendo cumpridas em sua totalidade, porque, simplesmente, não há como fiscalizar. Tem sido comum funcionários sem máscara no comércio, bem como clientes frequentando à vontade.
Na contramão das recomendações das autoridades de Saúde, os frequentadores dos bares ignoraram o distanciamento social de no mínimo 1,5 metro entre uma pessoa e outra. Além disso, raramente se encontra gente com máscara em um bar para evitar a proliferação da doença.
No entanto, a regra é clara: os estabelecimentos precisam controlar a entrada de pessoas de acordo com o número máximo permitido. Se necessário, criar demarcações do posicionamento de pessoas nas filas e mesas, respeitando o distanciamento de 1,5 metro entre uma pessoa e outra.
Além das medidas de distanciamento social, funcionários e público externo devem usar máscaras durante o horário de funcionamento interno e externo do espaço, o que não vem sendo cumprido pela maioria dos bares. A exigência da prefeitura recomenda o uso de máscaras de confecção caseira, conforme orientações do Ministério da Saúde.
Além do descaso da população, para agravar a situação e acentuar o cenário de incerteza, enquanto o mundo se prepara para o início da vacinação, ainda este ano, com cronogramas definidos, em Brasília se sucedem reuniões infindáveis de técnicos, militares e burocratas do Ministério da Saúde e da Anvisa, sem que se defina sequer um esboço geral de imunização.
Um levantamento do jornal Folha de São Paulo revelou que o negacionismo oficial – que até hoje se recusa a aceitar a gravidade da pandemia e a necessidade de vacinação urgente de toda a população – fez com que em outubro apenas 12% dos brasileiros ficassem em isolamento social.
Por outro lado, números divulgados pelo IBGE mostram uma percepção equivocada da maioria da população, para a qual a pandemia já acabou e é possível voltar a ter uma vida normal. Ledo engano! Não é!
O comportamento atual indica que, com a chegada das festas de fim de ano e do verão nas praias, a tendência é aumentar o número de contaminados.
Até esta quinta-feira, 03, havia 1.683 casos confirmados no município, com 35 mortes pela Covid-19.
A doença está espalhada por 25 bairros de Nova Venécia, sendo as áreas de maior concentração os bairros Rúbia, Margareth e Centro, classificados como zonas de alto risco. O Rúbia tem 177 casos confirmados; no Margareth são 167 e no Centro 153.
Em risco moderado estão o Aeroporto, com 118 casos; o Filomena, com 66; o São Cristóvão, com 59; o Beira Rio, com 54; o Bonfim, com 52, seguido do Iolanda, com 49. Os demais bairros possuem baixo risco.
Medidas de higiene e distanciamento social vêm sendo devidamente recomendadas, mas a preocupação com a economia (sempre ela) tem produzido o relaxamento de contenção da cadeia de contágio e, com isso, seguindo a sua natureza mordaz, o novo coronavírus segue com toda força.
Cuidado, a vida é só uma! E, infelizmente, a pandemia ainda não acabou!
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
Comente este post