
Elias de Lemos (Correio9)
Uma espécie de pássaro com muitas particularidades. Um animal interativo, que pensa, canta, fala e ri. Um bicho que aprende a imitar até gestos. Assim são os papagaios. E em Nova Venécia, existe um que está há 44 anos com a família que o adotou e, atualmente, é a principal companhia de Dona Albertina Batista dos Santos, de 87 anos, moradora da Rua Anchieta, no Centro da cidade.
Ela contou ao Correio9 que a ave chegou à família em 1977, depois que o seu esposo, Hemórgenes, fraturou a perna. Para entretê-lo no período de convalescência, seu filho comprou o pássaro: “Quando ele chegou era filhotinho, não tinha nenhuma plumagem. Precisou de muito cuidado e com isso já se passaram mais de quarenta anos”.
Dona Albertina contou que ele sempre cantarola muito, mas, por consequência da idade avançada, mistura bastante as coisas. “Ele começa a cantar e mistura as músicas, começa a falar e mistura os assuntos. É uma comédia! A única coisa que ele não esquece são os xingamentos: xinga muito!”. Mas, apesar de “ter o bico sujo” e xingar, sua especialidade são músicas religiosas.
Falando em xingamentos, ela recorda um episódio bizarro que aconteceu há muitos anos. Ela relatou que o papagaio foi furtado, porém, deu muito trabalho ao larápio: “Ele atacou o ladrão de tal forma que ele foi obrigado a soltá-lo no meio da rua. Aí, uma amiga minha que o conhecia, pegou e o colocou em uma caixa e me telefonou para buscá-lo lá no Fórum, onde ela trabalhava. Quando cheguei lá, havia várias pessoas e o juiz me perguntou sobre a origem dele. O papagaio não perdeu tempo e xingou o juiz, promotor e outras pessoas que também estavam lá. Não vou nem falar os palavrões que ele disse”, lembra e ri a aposentada.
Ela contou que nunca se preocupou em arrumar um nome para o companheiro papagaio, que é cheio de vontades. Ele come qualquer coisa: semente de girassol, banana, folhas, arroz… No entanto, se ela estiver comendo próxima dele, ele quer o mesmo alimento dela. E quando ele não quer comer, pirraça, vira o vasilhame e derrama a comida.
“Quando meu filho chega aqui em casa, o papagaio fala: ‘mãe, o sem vergonha está chegando’”, contou a aposentada aos risos.
O papagaio que não tem nome adora crianças e cantar músicas infantis, como “atirei o pau no gato”. “Quando chega criança aqui ele fica assanhado, muito alegre e canta: ‘Senhor, eu quero entrar, no santuário pra te louvar’”.
Aliás, ela contou que o animal percebe se ela está alegre ou triste: “Se eu estou tristonha, calada, ele fica do mesmo modo. Agora, se ligo o rádio e começo a cantar ele faz a mesma coisa”, revela.
Dona Albertina explicou que é muito caseira e por causa dele e dos quatro gatos que tem, não viaja e quase não sai de casa: “Ele é meu companheiro, meu amigo, que me alegra, que não me deixa só. Converso com ele, brinco. Ah, ele adora tomar banho”.

Ele não só gosta de cantar e xingar. O bichinho conta umas mentirinhas também! Dona Albertina contou que às vezes alguém chama por ela na porta de sua casa e, antes dela atender, ele se adianta e fala que ela não está: “Uma amiga minha chegou aqui e ele falou isso, sendo que eu estava em casa. Quando eu subi para ver quem era, ela já havia ido embora. Depois ela se queixou com uma sobrinha minha dizendo que sabia que eu estava em casa e mandei falar que não estava. Aí minha sobrinha falou com ela: vamos lá que eu vou te mostrar quem falou que ela não estava. Quando elas duas chegaram aqui, ele falou novamente que eu não estava em casa”.
O Correio9 até tentou filmar a ave cantando ou falando alguma coisa, mas o papagaio estava muito “mal-humorado” e não disse nada.
Seja barulhento ou silencioso, os papagaios são bichos incríveis, capazes de imitar variados tipos de sons, como um cachorro latindo ou uma porta rangendo. São excelentes companhias que quem experimenta não quer abrir mão deles, como Dona Albertina, que não se imagina longe do seu amigo com quem está há mais de quatro décadas.
A expectativa de vida dos papagaios é bem ampla. Enquanto algumas espécies vivem 25 anos, outros chegam aos 60 sem muitos problemas.


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