OPINIÃO
* Matheus Scofield Cardoso
Estamos passando por períodos sombrios durante estes últimos anos por conta de vários problemas, sociais, econômicos e epidemiológicos, principalmente no Brasil. Mas, o que convém aos críticos e apoiadores é aceitar cegamente a crença que lhes convém, coisa que é muito comum neste país que vivemos.
Transformamos tudo em torcida, seja vermelha, seja azul, seja cinza, não interessa, tudo se transforma num mar de gente que troca farpas aqui e ali sem nunca chegar numa conclusão ou em um bem comum. Apenas torcem por torcer, e como não torcer, tendo em vista que você tem liberdade para isso ocorrer, afinal, é um país democrático, onde cada lado pode expressar sua opinião da forma como bem entender e sofrer as consequências desta opinião, mesmo que às vezes um lado seja vil ao ponto de utilizar a expressão do outro como uma arma, uma afronta ou ataque pessoal, quando muitas vezes essa opinião é apenas fruto de ignorância, medo ou até mesmo um lado pelo qual X ou Y não concordam.
Mas, o que acontece quando essa liberdade é silenciada? O que acontece quando se passam anos e anos sem poder expressar o que ocorre no seu país? Sem poder escolher, sem poder torcer, sem poder dizer a verdade, mostrar a realidade? O que acontece quando tentam te desmoralizar, discriminar, reprimir, enquanto acreditam em números fornecidos pelo estado, sem fontes, em discordância com o popular, sem se importarem com a sua ou a minha palavra? O que acontece quando a sua “torcida” é reprimida durante 60 anos? O que você pode dizer para o mundo quando seus familiares foram fuzilados, colocados em campos de trabalho forçado, torturados, apenas por não “fazerem parte” da “torcida” do outro “time”?
E o que você pode fazer quando tenta, desesperadamente mostrar para o mundo o que está acontecendo, o que estão fazendo com você, e o restante do mundo, a mídia e as pessoas que apoiam este “time” vivem de contar mentiras sobre o local que você habita e tentam de forma desesperada apagar a sua voz, coisa que você já sofria anteriormente?
É nessas horas que você percebe que você não é nada, não é ninguém. Você só é mais um no mar de gente. É só uma parte da massa, alguém que não importa e nem interessa, você foi engolido pelo coletivo. Você abre o jornal e tem mais notícias que não interessam, clamando opiniões de jogadores de futebol sobre assuntos que não importam, que já passaram, ou que são ridículos, do que falando sobre o que acontece no seu país, no lugar que você ama, que você queria prosperar. E aí você acredita que alguém aqui fora vai notar o que você tenta gritar, do fundo da sua alma durante anos, e é silenciado novamente por apoiadores da “torcida” tentando diminuir a sua luta, usando de mentiras descabíveis e brados loucos do fã clube de ditadores.
É nessas horas que eu sinto vergonha de fazer parte do mesmo planeta que seres humanos tentam diminuir a liberdade de outras pessoas só para não dar o braço a torcer por conta de ideologias. Vamos ser humanos uma vez na vida e apoiar esse povo que não aguenta mais.
Toda força aos cubanos. Eles precisam ser salvos, não interessa se o seu ex-presidente preferido ou a sua estrela vermelha diga o contrário. Nessas horas, bom senso é diferente de torcer, é se humanizar e admitir que todo mundo erra, inclusive você.
Imagine viver num mundo onde silenciam a sua vida, onde você não tem sua individualidade, você não tem talento, não tem prazer, não tem valor. Você não é ninguém. Você se tornou o mar de gente. Você é o silêncio e nada mais.
* O autor é libertário, formando em Direito e servidor do Procon de Nova Venécia
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