
A Polícia Civil do Espírito Santo concluiu o inquérito de investigação da morte do casal Rosineide Dorneles Mendes Oliveiras, de 52 anos, e Willis Penna de Oliveira, de 51.
A mulher morreu em 15 de fevereiro e o companheiro, em 16 de março. Os dois usaram um produto que compraram na internet vendido como “óleo de semente de abóbora”. Após perícia, que teve resultado divulgado ontem (6) em coletiva de imprensa, as autoridades descobriram que o frasco continha um solvente altamente tóxico, o dietilenoglicol, mesmo produto que causou mortes no caso da cervejaria Backer.
Segundo o médico legista Leandro Amorim, os sintomas foram semelhantes aos apresentados pelas vítimas em Belo Horizonte, começando por náuseas e fraqueza.
Em um primeiro momento, Rosineide e Willis não procuraram atendimento médico, e, apenas 10 dias depois, quando já estavam sofrendo alterações no sistema nervoso central, com paralisia facial e dificuldade de respirar, eles deram entrada na UPA da Serra, sendo rapidamente transferidos para o hospital Dório Silva.

Na mesma semana da internação, ainda em janeiro, o filho único do casal procurou o 12º Distrito Policial, na cidade de Serra, para denunciar suas suspeitas em torno do óleo, já que era o único produto que o pai e a mãe consumiam e ele não. Segundo os policiais, a promessa era que a substância poderia controlar o colesterol e impedir doenças degenerativas.
De acordo com as autoridades, os dois começaram a sentir os sintomas 14 dias depois de começarem a ingerir o produto. Mas mesmo suspendendo o uso os problemas de saúde continuaram avançando, incluindo insuficiência renal.

Rastreando onde o produto era vendido por meio do site na internet, as autoridades do Espírito Santo acionaram um juiz, que expediu um mandado de busca e apreensão na empresa, localizada em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
Com apoio da Polícia Civil de São Paulo e da Vigilância Sanitária, o proprietário foi preso em flagrante por estelionato. Sem nenhum tipo de licença, ele também vendia produtos cosméticos, armazenando matéria-prima e frascos já embalados ao lado de um vaso sanitário.
Segundo a polícia capixaba, o homem, de 34 anos, confessou que adquiria o óleo e, de maneira ilegal, adicionava corante e um aromatizante, envazava, e colocava os frascos à venda na internet.
A suspeita das autoridades é de que, neste processo, por também vender produtos cosméticos falsificados, ele tenha feito uma confusão na aplicação de rótulos e enviado um produto como se fosse outro.
O suspeito foi preso em 25 de maio. Em audiência de custódia, a prisão já foi convertida em preventiva. Ele deve ser julgado por estelionato, crime contra as relações de consumo e falsificação de produto terapêutico.
Frasco continha 13% de dietilenoglicol; máximo permitido é de 0,1%
A perita oficial criminal Daniela de Paula detalhou na coletiva qual foi o método utilizado para identificar qual era a substância que intoxicou o casal e a quantidade presente no frasco.
Em primeiro lugar, o suposto óleo usado pelas vítimas tinha um aspecto diferente em comparação ao óleo vegetal certificado, inclusive em tonalidade: o falsificado era transparente, enquanto o produto original seria amarelado.
Os peritos então analisaram a presença de ácidos graxos, que fazem parte dos óleos vegetais. Na amostra do produto usado pelo casal não foram encontradas as substâncias, o que já indicou a falsificação.
Em novos testes, os profissionais identificaram que o “óleo” era, na verdade, composto de glicerina e o dietilenoglicol.
A Perícia Técnica de Minas Gerais, onde aconteceu o caso Backer, auxiliou a equipe capixaba encaminhando o padrão do dietileno encontrado no estado, para que fosse feito uma comparação, comprovando os primeiros estudos.
A partir daí, foi usada uma técnica para quantificar a porcentagem de dietilenoglicol no produto presente no frasco, já que até 0,10% de solvente é permitido em uma composição com glicerina. Mas, ao final da pesquisa, foi concluído que da totalidade do produto, 13% correspondia à substância tóxica.
Agora, a polícia pretende pedir que o homem responsável pela empresa clandestina também seja acusado de duplo homicídio culposo.
As autoridades destacaram que é importante procurar outras pessoas que possam ter comprado o produto na internet, já que o homem contou ter angariado vários clientes e não deu detalhes sobre desde quando mantinha o negócio ilegal. A plataforma em que o óleo falsificado foi vendido já foi acionada para possível transmissão de dados.
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