Elias de Lemos (Correio9)
Faltam 16 dias para as eleições municipais de 2020, e pelo que se viu até agora – pelo comportamento e práticas dos mais radicais que participam de grupos de discussão política – tudo indica que até o dia 15 de novembro a campanha será muito, mas muito suja em Nova Venécia. Nem todos os seis candidatos à Prefeitura têm discutido propostas factíveis para o município.
A pauta de alguns candidatos tem sido a exposição de questões pontuais, como um buraco na rua; a exploração da pobreza alheia; promessas em troca de votos, muita baixaria em grupos de WhatsApp e comentários sem-noção no Facebook. Mas não é só isso! As abomináveis fake news estão espalhadas por toda parte e muitos memes, também.
As redes sociais têm dado a coloração do nível de discussão e dos golpes baixos que estão sendo desferidos todos os dias. Os futriqueiros não param e a fábrica de mentiras e mexericos está atuando a todo o vapor.
Sem apresentar um plano estratégico para o município, alguns candidatos e seus defensores têm agido como uma central preparada para o combate baseado na enganação. O alvo principal é a tentativa de desconstrução dos dois mandatos do prefeito Mário Sérgio Lubiana, o Barrigueira.
Deve-se separar o joio do trigo, pois há entre as candidaturas, que buscam se eleger, pessoas sóbrias, que não se contaminaram com o discurso do ódio e não se convenceram de que a forma de melhorar a qualidade da política passa pela destruição do adversário.
A razão e a coerência se perdem quando se adota uma verdade absoluta. Política não significa a destruição do adversário no sentido mais vulgar e covarde que possa existir, onde a verdade é o que menos importa desde que a pecha sirva para enganar eleitores.
Alguns candidatos têm dito que a Prefeitura “não fez nada em 8 anos”. Dizer isso é chamar de estéreis todos os funcionários da municipalidade e, quem diz isso, se mostra incoerente ao parabenizá-los no dia 28 de outubro (Dia do Servidor Público).
É tempo de decidir se manterão a honra e o respeito e se vão centralizar suas atenções no debate sobre a cidade e conduzirão uma campanha limpa e decente baseada em propostas. Ao final, saberão se este é o tempo das preocupações sociais ou se do ódio e da enganação.
Em tempos de pandemia, que alterou o modo de viver em sociedade, o problema sanitário entrou no centro da questão social. No entanto, até agora, não se viu candidato à Prefeitura de Nova Venécia falar como será a gestão da saúde no pós-pandemia.
Fala-se em construir postos de saúde, em equipar a cidade com leitos de UTI e Serviço Médico Legal, mas não se discute as mudanças que virão na forma como cuidar e tratar da saúde. Será que a saúde continuará sendo tratada da forma como vem sendo até agora?
No dia 15 de novembro, o eleitor vai dar o seu veredito. O resultado das urnas mostrará a verdadeira preocupação dos venecianos, e se for nenhuma, Nova Venécia merecerá ter figuras caricatas promovendo espetáculos caricatos e degradantes por quatro anos de anestesia ou retrocesso.
O que queremos para a cidade nos próximos 20 anos? Para onde nós vamos? Que tipo de indústria nós queremos? Como será a visão em longo prazo na questão educacional? Como a mobilidade urbana será planejada? Quais serão os mecanismos usados na ampliação da geração de emprego? O que o próximo prefeito vai fazer para resolver o problema de dependência financeira da prefeitura? Como tornar a prefeitura autossuficiente financeiramente? O que será feito para mudar a matriz econômica e melhorar a estrutura de empregabilidade? Qual será a política habitacional da cidade?
Nesse momento, o propósito é o de pensar a cidade para o futuro. Por isso, o eleitor espera um projeto para encaminhar o destino de Nova Venécia, não projetos que partem do pronome “eu”. Em gramática, “eu” designa o pronome pessoal do caso reto da primeira pessoa do singular; não designa coletividade.
O momento é de lucidez para manter o foco nas questões relacionadas ao futuro do município. Não é momento de satisfação de vaidades pessoais, de caprichos ou delírios. Essa discussão sobre esquerda ou direita não cabe no contexto. Comunismo e socialismo, idem. Questões religiosas e da vida individual, também, estão fora.
O momento é de nos perguntarmos: qual será o futuro de nossa cidade?
Seremos reféns ou protagonistas desse futuro? Quem, efetivamente, parou em algum momento para pensar como será a cidade de Nova Venécia dentro de 20, 30 anos? A forma mais indicada para desenvolver uma cidade é traçar um projeto realista de longo prazo. E a melhor maneira de garantir a sua concretização é protegê-lo da vontade política do gestor público; é compreender que não precisamos de nenhum projeto pessoal de um dado gestor, mas, de toda a sociedade.
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
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