* Anderson Barollo Pires Filho
Em meio à crise sanitária, econômica, política e social, seguimos pagando a conta dos nossos “intocáveis” representantes políticos.
Fraudes e faltas de pagamentos do auxílio emergencial; ausência de equipamentos no combate a pandemia; e paralisia de grande parte da educação pública. Nada disso ainda foi motivo do fim dos famosos privilégios dos nossos representantes públicos.
Muito se fala do Brasil pós-pandemia, mas para isso, precisamos resolver nossas antigas mazelas, especialmente a do custo epidêmico de ser brasileiro.
Empresas estão fechando, trabalhadores vêm perdendo seus empregos ou sofrendo redução de jornada – e, consequentemente, salarial –, o “setor dos informais” segue aumentando e a ausência de capital parece atingir a todos.
Em paralelo, a pauta “corte de gastos” para os deputados, senadores, ministros e presidente permanece com pouco enfoque, desacreditado e tratado quase como algo utópico. Alguém apostaria que isso de fato venha acontecer?
Se a resposta for “não”, deveríamos – no mínimo – repensar o que queremos para o “Brasil pós-pandemia”. Não podemos mais normalizar a ausência do que deveria ser o óbvio, elementar, o básico.
Os números made in Brazil
No Brasil, cada deputado federal pode chegar a custar, em média, R$194.000,00 mensais aos cofres públicos.
Esse valor leva em consideração seu salário (R$33.700,00); mais a verba de gabinete (que garante R$111.000,00 para que o parlamentar possa contratar até 25 funcionários); mais o auxílio moradia (R$4.253,00) e, para finalizar, a cota para o exercício da atividade parlamentar ou o famigerado “cotão” (valor que chega a até R$45.000,00 por mês, podendo ser acumulativo).
Já os senadores tem seus valores semelhantes a de um deputado, mas com uma verba de gabinete ainda maior: R$127.000,00 mensais.

Nessa matemática, no fim de cada ano, um parlamentar brasileiro pode custar R$2.3 milhões. Se temos 513 deputados e 81 senadores, o resultado é simples: nossos ilustres representantes custam, a cada ano, R$1.3 bilhões.
Na verdade, o produto desse cálculo é só a ponta do iceberg. A fatura é ainda maior. Nele não foram inclusos outros gastos como, por exemplo, com a previdência; o fundo partidário e fundo eleitoral (que custeiam, com verba pública, partidos privados) e o plano de saúde da Câmara (que, em 2019, teve orçamento previsto de R$117 milhões).

Os números descomunais não são uma característica única do poder legislativo. No ano passado, somente com as despesas executadas do orçamento, a Presidência da República custou R$1,59 bilhões. Já com os homens da toga, não é diferente: quando o assunto gasto é público, eles são veteranos. Em 2016, o Superior Tribunal Federal (STF), que conta com 11 ministros, custou mais de meio bilhão de reais. Isso mesmo: um tribunal; meio bilhão de reais.
Em tempos de pandemia, aqueles que estão na linha de frente do poder político devem – ou deveriam – dar o exemplo e alterar, de uma vez por todas, essa mazela hereditária.
Por fim, cabe se perguntar: Quais são os seus critérios na hora de votar? Com que frequência você fiscaliza os gastos do seus representantes? Você acha que esses números são plausíveis e republicanos?
Pautas como essas não podem ser jogadas para escanteio; adiadas; esquecidas ou até mesmo boicotadas. Se queremos um “Brasil pós-pandemia”, necessitamos de um cataclisma social, cultural e político.
Até lá, esperamos a conta – um dia – fechar.
Acompanhe os gastos de seus representantes! É só acessar os seguintes links:
Câmara do Congresso Federal:
https://www.camara.leg.br/cota-parlamentar/index.jsp
Câmara do Senado Federal:
https://www25.senado.leg.br/web/transparencia/sen/
Portal de Transparência da Presidência da República:
http://www.portaltransparencia.gov.br/orgaos-superiores/20000-presidencia-da-republica
Portal de Transparência do Superior Tribunal Federal:
http://portal.stf.jus.br/transparencia/
* O autor é estudante de Jornalismo, colunista de política na Revista Brado e colaborador do Correio9
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