Por Elias de Lemos – [email protected]
Nesta quinta-feira (30), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2019. Como já era cogitado por analistas e pelo mercado, houve retração de 0,2% no período, na comparação com o último trimestre do ano passado. Em valores absolutos, o PIB totalizou R$ 1,714 trilhão.
É a primeira queda desde o 4º trimestre de 2016, quando caiu 0,6%. Apesar de esperado, o resultado confirma a fraqueza da atividade econômica neste começo de ano e piora das expectativas – que já não eram das melhores – para o ano de 2019.
Mas não é só isso. A queda da produção representa a interrupção da lenta trajetória de recuperação e acende a luz amarela em relação ao risco de volta da recessão, que é caracterizada, tecnicamente, por dois trimestres seguidos de diminuição da produção.
O PIB soma todos os bens e serviços produzidos no país em dado período e serve para medir a evolução da economia.
O PIB do último trimestre de 2018 (0,1%), ainda, não foi revisado, impedindo a verificação de que o país possa já ter entrado em uma recessão técnica, como vinha sendo cogitado. Porém, sempre que é revisada, a taxa é alterada, assim sendo, a economia brasileira já pode estar em recessão.
Comparando o 1º trimestre de 2018, o PIB cresceu 0,5% enquanto o acumulado nos quatro trimestres terminados em março de 2019 soma 0,9%, em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores.
Olhando pelo retrovisor, o resultado mantém a economia brasileira em nível semelhante ao que se encontrava no 1º semestre de 2012.
A perda de ritmo só não levou a um resultado pior porque o consumo das famílias, que representa 64,3% do PIB total, cresceu 0,3% no 1º trimestre, a 9ª alta seguida.
Do lado produtivo, a principal contribuição positiva veio do setor de serviços, que manteve o ritmo de crescimento registrado no trimestre anterior (0,2%). Apesar da alta, vários segmentos registraram queda: o comércio reduziu 0,1%; já o transporte, a armazenagem e o correio minguaram 0,6%, sendo a segunda queda consecutiva.
No entanto, a maior queda foi constatada no setor industrial, com recuo de 0,7%, impactada principalmente pela queda de 6,3% da indústria extrativa mineral, como consequência do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG). Já a agropecuária caiu -0,5% na comparação com o trimestre anterior, enquanto os serviços cresceram 0,2%. Além disso, a extração de petróleo também caiu. Por sua vez, a atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, e atividades de gestão de resíduos cresceram 1,4%.
A Indústria de transformação teve redução de 0,5%, segundo o IBGE. A queda se deve à diminuição da fabricação de equipamentos de transportes, indústria farmacêutica, fabricação de máquinas e equipamentos e fabricação de produtos alimentícios – o que indica queda de investimentos.
Os investimentos produtivos caíram pela segunda vez (-1,7%), enquanto o consumo do governo cresceu 0,4%, após queda de 0,3% no 4º trimestre de 2018.
O percentual de investimento no primeiro trimestre de 2019 foi de 15,5% do PIB, abaixo do observado em 2018, quando alcançou 15,8% e, ainda, bem distante dos mais de 21% registrados em 2013, antes da recessão. Já a taxa de poupança em nível nacional ficou em 13,9% no primeiro trimestre, menos do que os 15,4% no mesmo período de 2018.
Enquanto isso, as exportações de bens e serviços diminuíram 1,9%, enquanto as importações aumentaram 0,5% em relação.
Previsões para o ano não param de cair
Economia em queda livre. Desemprego em alta. Exportações caindo. Incerteza política. Governo sem rumo. Com estes ingredientes, as expectativas em relação ao futuro da economia brasileira são cada vez mais pessimistas.
Na última segunda-feira, o relatório Focus, do Banco Central apresentou a 13ª revisão, para baixo, das previsões do PIB para 2019.
Até a semana anterior, a previsão girava em torno de 1,49%. Já na última segunda-feira, os economistas dos bancos reduziram a estimativa de crescimento para 1,23% para este ano. Foi a 13ª queda seguida na previsão. Parte do mercado, entretanto, já trabalha com a hipótese de uma alta do PIB abaixo de 1%.
Entretanto, a previsão de 1,23% foi feita antes da divulgação do péssimo resultado do primeiro trimestre, de -0,2%. Com isso, o próximo relatório Focus, que será divulgado nesta segunda-feira, provavelmente, trará a 14ª previsão de queda.
Em 2018, a economia brasileira cresceu 1,1%, a mesma de 1,1% em 2017, e retrações de 3,5% em 2015, e 3,3% em 2016.
Para atingir 1% em 2019, o PIB tem de crescer 0,5% – em média – a partir do 2º trimestre. Acontece que se o resultado do quarto trimestre de 2018 tiver sido negativo, aí, a economia já estaria em recessão.
Sem um ‘plano B’ por parte do governo (e ele não tem nem um plano ‘A’), não será surpresa se a economia se arrastar negativamente por todos os trimestres de 2019.
Se tudo permanecer como está, a recessão será um ‘mal menor’. Na prática, o Brasil está a caminho da “depressão”.
Será o ano do Pibinho?
O péssimo resultado do PIB do primeiro trimestre, que murchou a economia em 0,2%, se soma a um cenário que, antes, já não era favorável à economia do país. Agora, conhecido o resultado, o governo precisa adotar medidas para assegurar o crescimento econômico dos próximos anos. Caso contrário a retomada não virá.
O governo mantém o otimismo e, ainda, espera uma melhora do crescimento da economia brasileira neste ano. Mesmo com o ritmo lento e com desempenho aquém do esperado no primeiro trimestre, tanto as projeções governamentais quanto as de mercado indicam crescimento positivo do PIB para 2019. Mas, paradoxalmente, nenhuma ação está sendo tomada neste sentido.
Se o governo continuar sem fazer nada, o desemprego pode ser ainda maior neste ano, que em 2018. Dados da última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) Contínua, mostram que o país contabilizava 12,7% de desempregados no primeiro trimestre deste ano, o que corresponde a 13,4 milhões de pessoas sem ocupação formal.
Antes da divulgação, o ‘pibinho’ do primeiro trimestre a economia estava estagnada. Mas, agora nota-se que ela está saindo da estagnação para a retração sem nenhuma perspectiva de reversão do quadro a curto prazo.
Se confirmar esse resultado de crescimento pífio da economia, é provável que o desemprego médio de 2019 seja maior do que o de 2018. Nesse cenário, o desemprego só poderá começar a cair a partir de 2020, e mesmo assim bem devagar.
As razões do arrefecimento da economia brasileira passam por conjunturas internas e externas. Entre os fatores internos, está o fraco consumo em função do alto índice de desemprego.
Por um lado, a situação do mercado de trabalho afeta diretamente a confiança dos consumidores, que reduzem o nível de consumo em função da incerteza em relação às perspectivas futuras de emprego. Por outo lado, os empresários evitam aumentar os investimentos diante deste cenário nebuloso. Além disso, os atritos entre o governo e o Congresso têm atrasado a tramitação de reformas consideradas essenciais, como a da Previdência.
Um garoto de Chicago
O País caminha para o caos econômico e, mesmo assim, o presidente Bolsonaro não considera que o chefe do Executivo deve governar para todos e não está nem aí para sua tarefa de trabalhar pela criação de empregos para mais de 13 milhões de brasileiros (este é um número oficial, mas nenhuma pesquisa econômica alcança o todo, todas são estimativas. A taxa pode ser muito maior).
O ministro da Economia, Paulo Guedes, é adepto da Escola de Chicago, a qual acredita que os mercados devam operar livremente em qualquer lugar. Acreditam também no rígido controle da moeda – quanto menos moeda em circulação melhor será para o funcionamento da economia. Mercados livres e moeda escassa são os mandamentos da Escola de Chicago, o resto se encaixa como consequência.
Porém, a História econômica se encarregou de derrubar essa ficção – que é obra de fé – mas os adoradores desse modelo insistem em considerá-lo sagrado, como se o modelo fosse um dogma. Mas, na realidade, a “Escola de Chicago” é uma ideologia e não uma teoria econômica, sua aceitação depende de fé tal qual o marxismo, ambos apresentam a mesma pretensão de ciência, sem ser.
Seus ensinamentos foram sepultados pela crise financeira de 2008, quando o capitalismo americano de “mercado perfeito” ruiu e implodiu, sendo salvo pelo Estado. O Tesouro dos EUA despejou US$ 708 bilhões em dinheiro público para salvar o coração desse capitalismo, tanto financeiro, quanto industrial. Salvou seguradoras, a General Motors, maior empresa industrial dos EUA e mais outras 200 empresas e bancos.
Mas, parece que Paulo Guedes não assistiu a isso.
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