O professor veneciano Wemerson Nogueira é um dos finalistas de mais um prêmio nacional. Depois que seus projetos ambientais lhe renderam o prêmio de Educador Nota 10 do Brasil, e o levaram também ao Global Teacher Prize (considerado o nobel da Educação), Wemerson participa agora do Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade.
Em novembro de 2017 a Fecomercio São Paulo abriu as inscrições para o Prêmio de Sustentabilidade 2018, cujo objetivo era selecionar projetos em nível nacional que atendessem os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, proposto na agenda 2030. As inscrições ocorreram diretamente no site da FecomercioSP no período compreendido entre novembro a dezembro do ano passado. Poderiam participar empresários, professores, alunos e imprensa, desde que tivessem um projeto consolidado voltado para comunidades brasileiras em situações de vulnerabilidade. Entre janeiro a março uma equipe de juízes avaliou as propostas apresentadas para o prêmio e escolheu dentre cada categoria três finalistas, na qual os mesmos participarão de uma cerimônia de premiação em São Paulo no mês de abril, quando será revelado o vencedor em cada categoria, sendo elas: Entidade Empresarial, Jornalismo, Empresa, Academia, Órgão Público e Indústria. Cada vencedor levará para casa um troféu e uma quantia no valor de R$ 15 mil, além de obter o apoio da FecomércioSP no desenvolvimento e continuidade dos seus projetos.
“Eu me sinto muito orgulhoso em poder mais uma vez participar de um prêmio tão importante envolvendo o projeto do Rio Doce. Desde quando precisei retornar para a Universidade e cursar novamente minha graduação, eu não quis abandonar o projeto ‘Filtrando as Lágrimas do Rio Doce’, portanto, transformei o mesmo em uma pesquisa científica e com apoio da UNIP – Universidade Paulista, aprimorei as metodologias e avancei na pesquisa, replicando novos filtros em outras comunidades, inclusive, atualmente realizo palestras em diversos lugares no mundo e todo dinheiro arrecadado desse trabalho parte dele é investido no desenvolvimento do projeto, apoiando novas iniciativas para que de fato alcancemos o maior número de beneficiários com o projeto”, disse Wemerson Nogueira.
“Caso eu ganhe o valor de R$ 15 mil, pretendo destinar a apoiar projetos de sustentabilidade na minha cidade de Nova Venécia, afinal, valorizar sua raiz e origem é fundamental para o crescimento e reconhecimento profissional”, salientou o professor Wemerson.
– Quando surgiu a ideia do projeto e quantos alunos foram envolvidos?
Ao chegar no ensino superior, me deparei diante da oportunidade única de levar conhecimento sobre temas educacionais envolvendo a sustentabilidade para dentro da sala de aula e ajudar muitos profissionais a desenvolverem metodologias curriculares que vão além dos muros da escola. Falar sobre sustentabilidade foi um ponto primordial na minha pesquisa científica envolvendo os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável para 2030, pois envolve práticas lúdicas no ensino e ajuda para transformação social de comunidades veraneável. Após o desastre ambiental de Mariana, ocorrido no ano de 2015 que chocou o Brasil e o mundo, notei o quanto famílias, agricultores, jovens e crianças estavam sofrendo devido à falta de água, já que o Rio Doce estava completamente contaminado com os rejeitos de minérios, mais de 3,5 milhões de pessoas que vivem nos 228 municípios afetados estavam angustiadas, pois a falta de assistência das autoridades era notável. Diante desse exposto nasceu a ideia de envolver jovens estudantes de uma escola pública da cidade de Nova Venécia para aprender conteúdos educacionais de forma prática, tornando cada uma deles verdadeiros cidadãos globais, cujo objetivo está em se colocar no lugar do outro e buscar praticar o bem independente de pertencer a uma comunidade, tribo, raça ou religião. O projeto “Filtrando as Lágrimas do Rio Doce”, no início da sua implantação, envolveu cerca de 30 alunos, depois esse número foi aumentando gradativamente e atualmente contamos com um grupo de mais de 300 alunos de todo o estado do Espírito Santo e Minas Gerais. A simples ideia de criar filtros sustentáveis surgiu após um processo de experimentação, na qual foi permitido compreender que seria possível tornar a água do Rio Doce apropriada para o consumo agrícola e doméstico aliviando a dor e desespero da população.
– Qual é o maior desafio do projeto?
O Brasil é um país na qual a educação recebe muito pouco investimento, infelizmente as crianças, os jovens que estão dentro de uma sala de aula desejam todos os dias uma educação de qualidade, desejam professores que de fato tenham ferramentas diferenciadas para desenvolver suas aulas, porém, não é possível fazer essas ações acontecerem quando falta apoio e incentivo da parte dos nossos governantes. Esse foi o maior desafio que eu enfrentei no meu projeto “Filtrando as Lágrimas do Rio Doce”. Sou grato apenas aos alunos que participaram, pois eles sim foram os protagonistas importantes para a concretização deste sonho em ajudar famílias vítimas do desastre ambiental. Recordo que durante o período de seis meses eu precisei disponibilizar completamente do meu salário para construção dos filtros, pois infelizmente não tive apoio financeiro para desenvolver a ideia, eu não podia parar no meio do caminho. A pesquisa científica já estava em fase final, eu precisava acreditar em mim, nos alunos e principalmente nas comunidades que seriam beneficiadas. Hoje sinto orgulho de olhar para trás e saber que valeu a pena abrir mão do meu sustento financeiro para ajudar pessoas que precisavam não apenas de dinheiro, mais sim assistência e atenção especial.
– Pelas notícias que temos sobre Mariana (MG), as famílias que sofreram com o crime da Samarco ainda aguardam para receberem indenização. Como foi feita a aproximação delas para o Projeto e como elas reagiram?
Quando cheguei em Regência – Linhares (ES) apresentei o projeto “Filtrando as Lágrimas do Rio Doce”, de imediato a comunidade levou um susto e achou que estávamos ali apenas para fazer promessas e não encontrar solução nenhuma, eu senti que isso ocorreu devido ao fato de tantos pesquisadores, empresários e até mesmo governantes irem até o local e prometerem fazer ações acontecer mais nada acontecia. Sendo assim antes de começar o projeto eu procurei conhecer o perfil da comunidade, entrevistei cada um dos moradores da vila, entrei em suas casas e demonstrei atenção. Mostrei para eles que precisamos de empatia no mundo, fazer as pessoas se colocarem no lugar do próximo, sentindo suas dores, alegrias e desejos, isso fez com que ganhássemos respeito, credibilidade no desenvolvimento do projeto, foi então que dois meses depois começamos com a implantação dos filtros de retenção de minérios, ao demonstrar para a comunidade a eficiência do produto, todos os moradores abraçaram a ideia e contribuíram para a implantação. Eles sabiam que nós não tínhamos dinheiro para oferecer a eles, porém, estávamos com o desejo de praticar o bem e foi desta forma que os resultados positivos apareceram em poucas semanas.
– Como vocês conseguem recursos financeiros para implantar os filtros?
Quando comecei o projeto não tinha recurso nenhum, procurei diversos parceiros, empresários e apresentei a ideia do filtro demostrando o desejo de fazer a diferença acontecer na vida das crianças, mas, infelizmente, não tive credibilidade e apoio. Não desisti da pesquisa, foi então que decidi investir meu próprio recurso abrindo mão do meu salário no qual conseguir implantar 55 filtros na comunidade, porém, após reconhecer o projeto em nível nacional e internacional apareceram muitos parceiros para financiarem a ideia e com o dinheiro que ganhei de alguns prêmio de reconhecimento eu mesmo decidi custear a instalação de novos filtros, justamente porque desejo ajudar o próximo independente de qualquer situação.
– Pode explicar de maneira bem didática como esses filtros “transformam” as águas contaminadas em líquido pronto para consumo?
O filtro é simples, usamos apenas um barril de 200 litros e dentro dele adicionamos uma camada de areia fina, areia grossa, pedras e uma areia que passa por um processo de tratamento para oxidação, é esse processo de oxidação que ajuda na retenção do ferro que está em alta concentração na água, no filtro instalamos torneira e encanamento para que a água tenha fluxo de saída. Após coletar a água contaminada no Rio Doce com um balde, o produtor agrícola a passa pelas camadas de areia e em poucos instantes a água sai transparente, própria para o consumo agrícola e doméstico. Não está permitida para o consumo humano, porém, só o fato de ajudar as famílias a reutilizarem a água do Rio Doce para molhar suas plantações que foram devastadas pelo desastre ambiental, já é um grande passo inicial para ajudar as vítimas desta tragédia.
– Se for escolhido vencedor, qual será o destino do dinheiro do Prêmio e qual a importância da chancela da FecomercioSP para a continuidade do projeto?
Estou muito orgulhoso de ser finalista deste Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade, eu sempre costumo dizer que independente do resultado final, chegar até aqui já é uma vitória, pois você passa a ter visibilidade, seu trabalho é apresentado a outras pessoas e isso é muito gratificante, porém, como disse anteriormente, meu projeto é intitulado “Filtrando as Lágrimas do Rio Doce” e ele só aconteceu porque acreditei nos jovens alunos de Nova Venécia e Boa Esperança e principalmente na educação, portanto, nada mais justo que destinar esse dinheiro para apoiar outras iniciativas no meu estado do Espírito Santo. Apesar do valor do prêmio ser insuficiente para ajudar desenvolver tantos projetos maravilhosos que existem pelo nosso país, eu pretendo ajudar 15 escolas no meu estado começando pela minha cidade de Nova Venécia e região norte a qual tenho muito orgulho de destacar nesse reconhecimento. Por fim, eu pretendo muito ter o apoio da FecomercioSP para novas iniciativas pelo Brasil, como por exemplo projetos voltados para os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, assim com certeza construir o futuro que queremos para nossa geração.
Comente este post