Já há algum tempo que se debate a respeito da tentativa de venda a investidores estrangeiros por parte do atual governo brasileiro do aquífero Guaraní – uma das maiores reservas de água do mundo, que, ao longo de seus 1 milhão e 200 mil quilômetros quadrados de extensão, abrange uma parte dos territórios do Uruguai, Argentina, Paraguai e principalmente do Brasil. 70 por cento de sua área encontra-se no subsolo da região centro-sudoeste do Brasil, em cerca de 840 mil quilômetros quadrados.
Por mais criminosa, absurda e corrupta que a proposta de abertura de tal tesouro nacional para investidores estrangeiros, o fato é que, de forma sorrateira e ardilosa o projeto de venda vai ganhando corpo. A consulta popular a respeito da possibilidade da criação de um mercado privado de águas, aberta recentemente pelo Senado, abre espaço para justamente tal transação.
O projeto de lei não explica com maiores detalhes a criação de tal mercado, e ao que tudo indica, até mesmo o recente (e obsceno) encontro entre Michel Temer e a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lucia – investigado e investigadora em amistoso jantar – tinham a negociata como pano de fundo.
Se a vontade popular e a soberania nacional fossem respeitadas no Brasil, a consulta seria, no entanto, uma boa notícia: até o fechamento dessa matéria, o resultado era acachapante, com 448 votos em apoio à lei, e mais de 46 mil contrários.
Se a água é o ouro do futuro, mais uma vez a célebre frase de Millôr Fernandes confirma sua lamentável condição profética: “No momento em que aumentam as nossas descobertas arqueológicas fica evidente que o Brasil tem um enorme passado pela frente”.
Como a PLS 495/17 disfarça a privatização criando um “mercado” de água:
Embora sites dedicados a desmentidos de boatos, estejam dedicados a, o tempo todo, descredibilizar qualquer veículo que questione a PLS 495/2017, como venda do Aquífero Guarani, é importante continuar interpretando as entrelinhas dessa entrega. O que se deve compreender sobre esse fato, primeiramente, é que não existe nenhum acordo pré-estabelecido entre o Michel Temer e a privatização. Claro! O que acontece fora da agenda presidencial, não tem contrato assinado e o que está nas entrelinhas, quer se esconder.
O que a PLS 495/2017 estabelece, é a criação de um mercado privado de exploração da água no Brasil, regulamentando e abrindo caminho para qualquer privatização de qualquer manancial, no Brasil, como forma de capitalizar o estado e “fomentar” o mercado, “criando empregos”. Note, o negócio mais lucrativo do mundo, depois do petróleo, é a água envasada. Por isso, grandes empresas como a Coca-cola e a Nestlê entraram nesse mercado, pagando nada pela água e, apenas, tendo gasto com a mão de obra e a embalagem. Os lucros são absurdamente altas.
O aquífero guarani, a maior reserva de água doce do mundo, que ocupa diversos estados brasileiros, grandes áreas do Paraguai, Uruguai e Argentina, é um manancial que, obviamente, será regulado por essa lei. Mas, surge a pergunta: Para explorar essa água subterrânea, não teria que haver uma consulta com as nações vizinhas? A resposta é, não. Para isso, basta citar os casos de Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Presidente Prudente, que já utilizam águas subterrâneas para abastecimento de água de seus municípios. De onde vem essa água subterrânea? Não precisa responder.
Com a criação do mercado privado de águas, essas cidades, que já utilizam o aquífero, poderão privatizar a exploração direta desses mananciais, ou seja, a exploração do aquífero guarani. Com isso, surge mais uma pergunta. Qual o interesse de se desmentir o tempo todo, a venda escondida do Aquífero Guarani, por parte de sites dedicados a “boatos”? Seria orientação política?
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