Por Elias de Lemos – eliasdelemos@correio9.com.br
Na última terça-feira (14) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do desempenho do setor de serviços, apontando queda de 0,7%, acentuando o temor de que a economia brasileira encolheu nos três primeiros meses do ano. O PIB do primeiro trimestre será divulgado no dia 30 de maio pelo IBGE. Entre bancos e consultorias econômicas, cresce o número daqueles que projetam resultado negativo.
No mesmo dia, foi divulgada a Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), praticamente confirmando o que já vem sendo dito entre economistas do setor privado. A Ata diz: “Os indicadores disponíveis sugerem probabilidade relevante de que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha recuado ligeiramente no primeiro trimestre do ano, na comparação com o trimestre anterior, depois de considerados os padrões sazonais”.
Não se trata de recessão, dado que, tecnicamente, a recessão é caracterizada por quedas em dois trimestres consecutivos, na atividade econômica.
O desempenho econômico no primeiro trimestre foi prejudicado, especialmente pela indústria, que recuou 2,2% no período. Uma das razões para a queda da produção industrial é consequência do rompimento da barragem de Brumadinho, que paralisou a produção de minério de ferro da Vale.
No entanto, o efeito Brumadinho explica, somente, uma parte do problema, porque a situação geral da indústria é crítica há mais tempo. Enquanto isso, o resultado do setor de serviços acumulou queda de 1,7% no trimestre. Por outro lado, o comércio varejista teve uma alta módica, de 0,3%.
Na segunda-feira, o Banco Central divulgou o Relatório Focus, apresentando a 11ª semana seguida de revisão para baixo da projeção de crescimento do PIB para 2019, que antes era de 1,49% e, agora, está em 1,45%. Porém, alguns bancos já trabalham com previsão de 1%, mesmo cenário de 2018 e 2017, quando a expansão foi de 1,1%.
Entretanto, é preciso considerar um ponto importante: em razão do crescimento próximo de 0% – de janeiro a junho – para que a economia cresça 1% este ano será preciso que a produção como um todo reaja, fortemente, no segundo semestre, com crescimento acima de 0,5% a cada trimestre.
O problema para que isso aconteça é que a equipe econômica do governo não dispõe de um plano para a economia. O ministro da Economia, Paulo Guedes, está apostando todas as fichas na Reforma da Previdência.
Além disso, a teoria econômica ensina que em situações de recessão é necessária uma política econômica expansionista. Mas, o governo está fazendo o contrário adotando uma política contracionista com cortes no orçamento e manutenção da taxa de juros em 6,5%.
Se a agenda da equipe econômica malograr, pode confirmar de vez o temor manifesto entre economistas: de que a economia brasileira poderá ter mais uma década perdida. Exemplos para este temor, não faltam, vide o que o país viveu na década de 80 até a implementação do Real em junho de 1994.
A justificativa dos economistas para o desempenho pífio da economia, contrariando todas as expectativas que havia – com a posse de Jair Bolsonaro – é resumida em uma palavra: desconfiança.
A ausência de confiança se dá em razão do grau de incerteza sobre a aprovação da Reforma da Previdência, e como ela será aprovada pelo Congresso. Soma-se a isso o burburinho político que mostra a total desconexão da equipe de governo, que desanima investidores e consumidores.
O futuro é incerto, mas que a economia começou o ano muito mal é um fato. Isto pode impor um fiasco no primeiro ano do governo Bolsonaro.
Estrutura interna e cenário externo
Além da desconfiança, há, também, dúvidas em relação à sustentabilidade fiscal do governo. Aí, mais uma vez, entra a Reforma da Previdência, pois não sabemos qual e quando a Reforma da Previdência será aprovada. Para completar o cenário, a força do governo e da base aliada está sendo testada na Comissão Especial da Câmara, onde a proposta será alterada.
Mas, os problemas não param por aí. Além da desconfiança e dos problemas políticos, a economia sofre de debilidade crônica, baixa produtividade, desajustes do sistema tributário, carência de infraestrutura, insegurança jurídica e pouca abertura para o comércio exterior. Vivemos uma situação de vulnerabilidade tão grande que qualquer coisa derruba o PIB. A falta de ação do governo, também, não ajuda, não tem um foco definido, desperdiça energia com pautas menores e irrelevantes.
Ademais, o cenário internacional representa um desafio a mais para o Brasil. Os riscos associados à normalidade das taxas de juros nas economias mais ricas mostram-se reduzidos no curto e médio prazos. Há, ainda uma possibilidade de desaceleração da economia mundial. Tais incertezas sobre políticas econômicas e de natureza geopolítica podem contribuir para um crescimento global ainda menor.
A boa notícia é que as reservas cambiais superam a soma das dívidas do governo e do empresariado no exterior, o que garante a proteção em caso de ataques à moeda nacional.
Crise jogou mais de 7 milhões na pobreza
Relatório divulgado esta semana pelo Banco Mundial, sobre a influência dos ciclos econômicos nos indicadores sociais, mostra que a pobreza no Brasil aumentou 3% entre 2014 e 2017, totalizando 21% da população, ou 43,5 milhões de brasileiros. Os dados demonstram que mais 7,3 milhões de pessoas passaram a viver com até US$ 5,50 por dia no País. Em 2014, 17,9% da população estavam na pobreza, cerca de 36,2 milhões.
A grande, e duradoura, recessão que o país atravessou a partir do segundo trimestre de 2014, que permaneceu até o fim de 2016, foi a causa da piora nas condições sociais, diz o documento: “Em vista do ritmo de crescimento medíocre da região, em particular da América do Sul, a deterioração dos indicadores sociais não deveria surpreender. No Brasil, que representa um terço da população da América Latina e Caribe, houve aumento da pobreza de cerca de três pontos percentuais entre 2014 e 2017”.
Em outro relatório sobre pobreza o organismo acrescenta que a parcela da população nesta situação vinha caindo há 11 anos.
Filhos e despreparo de Bolsonaro incomodam eleitores
Uma análise dos dados de quatro pesquisas mensais feitas até agora, a diretora-executiva do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari, concluiu que, de janeiro a abril, os índices de avaliação do governo Jair Bolsonaro como ‘ruim e péssimo’ subiram em todos os levantamentos.
Por outro lado, as taxas de ‘ótimo e bom’ caíram, só, até março, e ficaram estáveis em abril. A insatisfação está subindo, mas, para ela, a aprovação pode estar próxima de um piso ou do mínimo.
Governos recém-empossados geram expectativas entre os eleitores – mesmo entre aqueles que não votaram no vencedor. Porém, o que é raro é a “lua de mel” durar tão pouco tempo. A análise indica que o presidente Jair Bolsonaro não conseguiu manter o otimismo por muito tempo, o que é afirmado até por aqueles que votaram nele.
O que tem incomodado mais os apoiadores de Bolsonaro é a intromissão dos filhos no governo. Ele não governa com o Congresso, mas governa com os filhos, tratando a Presidência da República como se fosse propriedade da família.
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