Por Elias de Lemos – eliasdelemos@correio9.com.br
Era uma terça-feira, dia 4 de julho de 1995. Por volta das 8 horas da manhã o, então, deputado federal Jair Messias Bolsonaro deixou seu apartamento na Barra da Tijuca, bairro da capital carioca. Ele estava em campanha pela reeleição para a Câmara e, naquele dia, faria panfletagem na Zona Norte da cidade. No caminho, ao parar em um semáforo na altura do Bairro Vila Isabel, foi abordado por dois homens armados. Os assaltantes levaram a moto, uma Honda Sahara de 350 cilindradas, e a pistola Glock calibre 380 que ele carregava sob a jaqueta. No dia seguinte, Bolsonaro falou à imprensa e declarou ter se sentido “indefeso” no momento do assalto.
Em 2018, vinte e três anos depois, ao ser entrevistado pelo programa Roda Viva, o, agora, presidente Bolsonaro foi questionado se não via contradição entre a ocorrência dos anos 1990 e a sua intenção de facilitar e ampliar o acesso ao porte de armas no Brasil. Ele declarou: “Eu fui assaltado, sim, eu estava em uma motocicleta, fui rendido, dois caras, um desceu e me pegou por trás, o outro pela frente. Dois dias depois, juntamente com o 9º Batalhão da Polícia Militar, nós recuperamos a arma e a motocicleta e, por coincidência (não é?) o dono da favela lá de Acari, onde foi pega… foi pego lá, lá estava lá, ele apareceu morto, um tempo depois, rápido.”
Em seguida, emendou: “Não matei ninguém, não fui atrás de ninguém, mas aconteceu”.
A tal coincidência citada por Bolsonaro foi a morte de Jorge Luís dos Santos, poderoso traficante da favela de Acari. Ele fora preso oito meses depois do roubo da motocicleta. Até então, ele vivia, confortavelmente, em um condomínio de casas em Salvador. Depois de transferido para o Rio, foi encontrado morto dentro da cela – menos de 24 horas depois da transferência – enforcado com a própria camisa.
O assalto ao deputado foi registrado na 20ª Delegacia Policial (DP), em Vila Isabel. No mesmo dia, a Secretaria de Segurança Pública designou 50 policiais de diversas delegacias e departamentos especializados para localizarem a motocicleta roubada.
O então, secretário de segurança era um ‘velho conhecido’ do deputado. O general Nilton de Albuquerque Cerqueira assumira a pasta um mês e meio antes da ocorrência. Em 1971, em Salvador, ele fora comandante do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), órgão de repressão política da ditadura. Naquele ano, o guerrilheiro Carlos Lamarca foi encurralado e morto durante a Operação Pajussara, no interior da Bahia.
A opção por Cerqueira – para o comando da Segurança – foi feita pelo então governador, Marcello Alencar. A escolha causou muita polêmica com entidades de defesa dos direitos humanos repudiando a nomeação.
Em sua gestão, o militar criou gratificações a policiais por “bravura”. Segundo o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), a partir de então, a Secretaria registrou o maior crescimento no número de homicídios durante a década de 1990, no Estado do Rio de Janeiro.
Em maio de 1990, com o apoio de Bolsonaro, Cerqueira disputou, e venceu, a eleição para a diretoria do Clube Militar, concorrendo com Diogo Figueiredo, irmão do general-presidente João Batista de Oliveira Figueiredo.
No dia do assalto, em 1995, os policiais enviados por Cerqueira seguiram até a favela do Jacarezinho, onde o assaltado supôs que a motocicleta e a arma estivessem. Eles foram coordenados pela delegada Martha Rocha, hoje deputada estadual pelo PDT-RJ. A incursão fracassou e os policiais voltaram à delegacia sem recuperar os objetos roubados. No entanto, três dias depois, integrantes do 9º Batalhão da Polícia Militar encontraram a moto de Bolsonaro, sem placa nem retrovisores, na Praça Roberto Carlos, na favela de Acari, na Zona Norte da cidade.
Na mesma semana do assalto, o secretário de Segurança mandou organizar uma megaoperação contra o narcotráfico em favelas da Zona Norte. Enviou policiais civis e militares — incluindo pessoal do setor administrativo da PM — para a missão. Um chefe do tráfico foi preso na favela Para-Pedro. Quinze quilos de maconha e 10 mil papelotes de cocaína foram apreendidos em Acari. Fuzis e metralhadoras, confiscados no Morro do Turano e no dos Macacos. Um helicóptero da Polícia Civil sobrevoou o Jacarezinho. Apesar do esforço, demorou oito meses para a polícia encontrar na Bahia o líder do tráfico em Acari, Jorge Luís dos Santos.
Ele foi preso em 4 de março de 1996, por volta das 23 horas, em Salvador, na Bahia.
Depois de transferido para a Divisão de Recursos Especiais da Polícia Civil, na Barra da Tijuca, foi encontrado pela manhã com o pescoço enlaçado por uma camisa presa à grade de ferro da saída de ventilação e com os pés suspensos a 12 centímetros do chão.
Na cela, às 5h30 da manhã, os policiais encontraram uma linha de náilon com o nó “lais de guia”, o mesmo usado na forca, como se o traficante tivesse simulado a maneira de suicidar-se. Na ocasião, a polícia disse que ele servira como fuzileiro naval na Marinha e que por isso conhecia o nó.
No inquérito aberto para investigar a morte, conduzido pela 16ª DP, na Barra da Tijuca, além dos policiais que estavam de plantão, a mulher de Santos, Márcia, e a mãe dela, Terezinha Maria Frigues de Lacerda, foram ouvidas. No dia do enterro de Santos, Márcia disse que o marido nunca fora um militar, conforme espalhou-se na época. Ficou uma dúvida: “Jorge Luís jamais foi fuzileiro ou serviu o Exército. Como fez aquele nó da forca?”, disse ela. Um mês depois, ela e a mãe apareceram mortas a tiros às margens da Rodovia Presidente Dutra.
Damares Alves não cansa de passar vergonha
Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos é, sem dúvida, a pessoa mais polêmica do Governo Bolsonaro. Ela vem colecionando declarações que revelam uma mulher retrógrada e machista.
A frase “Meninos vestem azul, e meninas vestem rosa”, dita por ela no mesmo dia em que assumiu o cargo, gerou forte reação nas redes sociais.
Uma gravação, de 2013, mostra a atual ministra lamentando o fato de a igreja evangélica ter perdido espaço “quando deixou a Teoria da Evolução entrar nas escolas”.
Confira (a seguir) algumas das frases ditas por Damares durante coletivas de imprensa e em entrevistas individuais.
Mulher e aborto
“Se a gravidez é um problema que dura só nove meses, o aborto é um problema que caminha a vida inteira com a mulher” – em 06/12/18, após sair de reunião com o presidente eleito.
“A mulher aborta acreditando que está desengravidando (sic), mas não está” – em 06/12/18, após sair de reunião com o presidente eleito.
“Temos projetos interessantes no Congresso. O mais importante que vamos estar trabalhando (sic) é a questão do estatuto do nascituro. Vamos estabelecer políticas públicas para o bebê na barriga da mãe” – em 11/12/18, ao sair de reunião com equipe de transição do novo governo.
“Me preocupo com ausência da mulher de casa” – em 08/03/18, em entrevista a um site do Rio Grande do Norte, o Expresso Nacional.
“A mulher nasceu para ser mãe, é o papel mais especial da mulher” – em 08/03/18, na mesma entrevista ao Expresso Nacional.
“As feministas [estão] levantando uma guerra entre homens e mulheres” – em 08/03/18, também ao Expresso Nacional.
Fundação Nacional do Índio (Funai)
“Funai não é problema neste governo, índio não é problema. O presidente só estava esperando o melhor lugar para colocar a Funai” – em 06/12/18, dia em que foi oficialmente anunciada como ministra.
“O perfil do novo presidente da instituição será de alguém que ame desesperadamente os índios” – em 11/12/18, ao sair de reunião com equipe do governo de transição.
Igreja
“Nenhum direito civil está ameaçado porque uma pastora é ministra” – em 06/12/18, dia em que foi oficialmente anunciada como ministra.
Questões LGBT
“16 anos atrás, dizíamos que íamos ter uma ditadura gay no Brasil. O que nós estamos vivendo hoje? Uma ditadura gay. Há uma imposição, há uma imposição ideológica no Brasil e quem diz que não aceita, é perseguido” – 2014, em seu DVD de palestras “Em defesa da vida e da família”.
Infância
“No momento em que coloco a menina igual o menino na escola, o menino vai pensar: ela é igual, então pode levar porrada. Não, a menina é diferente do menino” – em 11/12/18, quando questionada sobre abuso sexual.
“Vamos tratar meninas como princesas e meninos como príncipes” – também em 11/12/18.
Mantenha o liquidificador no cofre
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, comparou nesta terça-feira (15) uma arma de fogo e um liquidificador em relação ao grau de perigo dos dois objetos para uma criança. O comentário foi feito em uma conversa com jornalistas após a cerimônia em que o decreto que flexibilizou a posse de armas no país foi assinado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Ao ser indagado sobre como seria a fiscalização dos cofres em que as armas devem ser guardadas — exigência da nova legislação para residências com crianças, adolescentes e deficientes mentais — o ministro ressaltou o cuidado “redobrado” que deveria ser tomado e usou como exemplo um acidente doméstico com um liquidificador. Segundo ele, os riscos da criança ter acesso à arma são resolvidos com “educação e orientação”.
“Quem tem criança pequena, adolescentes ou pessoas com deficiência mental tem que ter um cuidado redobrado com arma. Às vezes a gente vê criança pequena que coloca o dedo no liquidificador, liga o liquidificador, vai lá e perde o dedinho. E daí, nós vamos proibir o liquidificador? É uma questão de educação e de orientação. Nós colocamos isso (no texto do decreto) para mais uma vez alertar e proteger as crianças e os adolescentes”, afirmou o ministro Onyx.
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