Por Elias de Lemos – eliasdelemos@correio9.com.br
Com a ascensão da extrema direita ao poder no Brasil, os “liberais” entraram na moda, ao mesmo tempo em que são cada vez mais detestados. Estão sendo conhecidos como “a direita”, cuja característica principal é o desprezo pelos seres humanos devido ao egocentrismo que os leva a terem apreço, apenas, com o seu bem-estar individual. Na medida em que o presidente da República ministros de estado, do atual governo, fazem declarações contrárias às chamadas ‘minorias’ e defendem a elitização do ensino, este egoísmo tem sido associado ao Estado.
As escolas de economia, de negócios e de gestão, ensinam que os focos do gestor devem ser a maximização dos lucros, o aumento da produtividade e a redução os custos. Ele deve ser implacável.
Em geral os gestores no Brasil são pessoas muito ocupadas, confinadas no último andar do prédio, bem afastados do baixo escalão e de visitas com demandas ‘indesejadas’. Eles são inacessíveis e estão sempre com a agenda lotada. Conversar com eles é uma aula de falta de educação. Normalmente atendem ao telefone dez vezes numa conversa de cinco minutos, e quando se consegue conversar com eles, normalmente, eles começam com: “vamos fazer o seguinte, para você não perder tempo”, enquanto na verdade estão dizendo: “não tenho tempo a perder com você”.
São pessoas que foram doutrinadas a pensar que o bom gestor é duro, não exprime sentimentos, não pode ser simpático, nem ter intimidade com seus subordinados, pois precisam ser respeitados. Foram ensinados a administrar para obter resultados expressos em números, e, por acaso, eles têm de lidar com pessoas, e pessoas são chatas e gostam de ter direitos. Eles se esquecem de que sem as pessoas, os resultados não existiram. Infelizmente, o Brasil está cheio desse arcaísmo.
A teoria econômica liberal defende que se todas as pessoas agissem no seu próprio interesse egoísta, seria criada riqueza que seria distribuída pelo mercado a toda a sociedade, e assim, todos desfrutariam dos ganhos gerados. Esta é a tese do filósofo-economista inglês, Adam Smith, este, sim, o Liberal de referência para o mundo.
No entanto, Adam Smith, também, defendeu que o ‘Homem’ tem um carácter de “simpatia natural” pelo mundo e pelo seu semelhante, o que o levava a ter comportamentos sentimentais, sentindo-se feliz por ver a felicidade do outro.
Ele afirmou, também, que o Homem tem a consciência que lhe permite realizar processos de autocrítica. Ao seguir a sua consciência, o ‘Homem’ acaba contribuindo com a sua própria felicidade e com a do outro.
Para Smith, as leis, as punições e as recompensas criadas em sociedade, pelo ‘Homem’, buscam alcançar a felicidade humana, porém elas nunca podem ser tão consistentes e verdadeiras como a consciência ‘Humana’ e as regras de moralidade geradas por natureza.
Será que o ‘Homem’ brasileiro perdeu a sua consciência? Será que o ‘Homem’ político e o ‘Homem’ gestor, com responsabilidades acrescidas, se esqueceram de que têm o dever de dar o exemplo? Será que os mais abastados perderam a sua consciência de forma mais imediata?
As notícias que ouvimos sobre corrupção, conflito de interesses, dualidade entre os argumentos e a prática, levam-me a pensar que no Brasil se perdeu todo e qualquer senso de consciência. Mas se perdemos essa consciência, no que nos tornamos? Animais tentando a todo custo salvar a própria pele? Por que não compreendemos que desse modo vamos levar o sistema social à falência e ao caos?
O Brasil enfrenta muito mais do que uma crise política e econômica, como muitos dizem. Mais do que isso, enfrenta uma crise de identidade profunda que consiste no fato de o país ainda ser gerido por aqueles que há tempos pensam que podem mandar no país, decidir os destinos e as vidas das pessoas.
Alguns dizem que a corrupção acabou! Não conseguem ter a consciência do poço de corrupção moral em que a nação está mergulhada. Não entendem que não conseguirão manipular a todos, como sempre ocorreu.
Precisaríamos de uma nova geração de pessoas dispostas a dar o exemplo, a fazer o que “deve ser feito”, porque “isso é o seu dever”, porque sem uma sociedade em harmonia em que as pessoas se preocupem com as demais, jamais conseguiremos alcançar o desenvolvimento.
O Brasil é um país subdesenvolvido. Precisamos que a nossa consciência nos mostre o quanto somos ignorantes e atrasados.
Precisamos que a nossa consciência nos esclareça que não temos condições de discutir questões do mundo civilizado, pois, definitivamente, um país que não pensa nas pessoas não é um lugar civilizado. Precisamos de ter o mesmo peso e a mesma medida para todos.
Para Smith, precisamos de fazer o bem para conseguir dormir à noite. Isto não é compaixão. Segundo Adam Smith, isso é viver dentro da moral. Para ele, isso é ser ‘Homem’.
“Independentemente do egoísmo que possamos pensar que cada Homem tem, existem evidentemente alguns princípios na sua natureza que fazem com que o Homem se interesse pela fortuna dos outros ficando feliz pela felicidade de outrem, não ganhando nada com isso, a não ser o prazer de ver essa mesma felicidade”. (Adam Smith).
O que é felicidade?
Independente da quantidade de pessoas que responderem a esta pergunta, provavelmente, cada uma apresentará uma resposta própria, pois a felicidade, num certo sentido, é algo individual, pessoal e intransferível. Mas, por outro lado, há uma ideia de felicidade que pertence ao senso comum e é compartilhada pela maioria das pessoas: felicidade é ter saúde, amor, e muito dinheiro. A ideia de felicidade não é uma coisa recente. Com certeza, ela acompanha o ser humano há muito tempo e faz parte de sua história.
Para Tales de Mileto, que viveu entre as últimas décadas do século 7 a.C. e a primeira metade do século 6 a.C., é feliz “quem tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada”. Vale atentar para a expressão “boa sorte”, pois disso dependia a felicidade na visão dos gregos mais antigos.
A felicidade para os gregos
Felicidade, em grego, se diz “eudaimonia”. A palavra é formada pelo prefixo “eu”, que significa “bom”, e pelo termo “daimon”, ou “demônio”, que, para os gregos, é uma espécie de ‘semi-deus’ ou de gênio, que acompanha os seres humanos. Ser feliz seria contar com um “bom demônio”, o que dependeria da sorte de cada um. Quem tivesse um “mau demônio” estaria condenado a ser infeliz.
Entre os séculos 10 a.C. e 5. a.C, a filosofia grega começa a considerar os maus demônios mais frequentes do que os bons e, com esta constatação, começam a apresentar uma visão pessimista da existência humana. Por isso, inventaram a tragédia.
O pessimismo é descrito em um antigo provérbio grego, que diz: “a melhor de todas as coisas é não nascer”.
A felicidade para Sócrates*
Sócrates viveu entre 469 a.C. e 399 a.C. Ele deu novo rumo à compreensão da ideia de felicidade, ao postular que ela não se relacionava, apenas, à satisfação dos desejos e necessidades do corpo; pois, para ele, o homem não era só o corpo, mas, principalmente, a alma. Assim, a felicidade seria o bem da alma, o qual só podia ser atingido por meio de uma conduta virtuosa e justa.
Fundamentalmente, Sócrates defendeu que sofrer uma injustiça seria melhor do que praticá-la e, em razão disso, certo de estar sendo injustiçado, não se intimidou diante da condenação à morte por um tribunal de Atenas. Cercado por seus discípulos, ele bebeu a taça de veneno que lhe foi imposta e parecia feliz a todos os que o assistiram em seus últimos momentos.
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