Uma semana depois do conturbado processo de reintegração de posse em Conceição da Barra, no norte do Estado, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) adotou uma estratégia diferente e se retirou de duas fazendas ocupadas em Nova Venécia na véspera da data marcada pela Justiça para a retomada dos terrenos.
Com isso, as 300 famílias que ocupavam os acampamentos Ondina Dias e Antônio Conselheiro, nas fazendas Neblina e Barão Genética, recolheram, na última segunda-feira (17), seus pertences e se transferiram para outra área, próxima, onde, no passado funcionava um indústria de beneficiamento de granito.
No entanto, a mudança não evitou a entrada da polícia no acampamento. De posse de um mandado de busca e apreensão de armas de fogo, emitido pela Comarca de Nova Venécia, a tropa de cavalaria da Polícia Militar foi ao local. A polícia procurou em todos os barracos. Para a coordenação do grupo, “foi uma tentativa de criminalização do movimento”, conforme declarou Ednalva Moreira Gomes, da coordenação estadual do MST. Na tentativa de informar o resultado das buscas, o Correio9 entrou em contato com o 2º Batalhão da Polícia Militar de Nova Venécia, mas não obteve resposta.
Outro militante, Jhony Alex, disse que a intenção ao se transferirem de área foi evitar a de “cenas violentas e desnecessárias”, como as que aconteceram no dia 11 de julho, no Acampamento Fidel Castro, em Braço do Rio, quando a polícia usou trator para destruir mais de 50 hectares de produção de milho, feijão e vários outros itens de alimentação, e usou o fogo para queimar os barracos que abrigaram os camponeses desde dezembro de 2016. Mais de 200 famílias foram despejadas.
Atuação política durante a ocupação
Em Nova Venécia, durante o período em que funcionaram os acampamentos Ondina Dias e Antônio Conselheiro foram realizados diversos trabalhos de comunicação, mobilização e educação, como oficinas de arte; recepção de visitas de escolas da região; Seminário de Agroecologia; manifestação contra a Reforma da Previdência; apoio ao Dia Internacional das Mulheres em São Mateus; e apresentação de um projeto piloto para criação de um Banco Solidário.
Em um manifesto distribuído entre os militantes e apoiadores da Reforma Agrária Popular, o MST destaca que a concentração da terra e da renda são a causa da pobreza e da violência. E que o bloqueio à Reforma Agrária tem se dado, em nível nacional, por meio da aprovação da Medida Provisória 759, “que trata da privatização das terras brasileiras” e “está sendo realizada na esfera política, jurídica, financeira, policial e midiática, em favorecimento ao avanço do agronegócio”.
E cita como “outras medidas que complementam esse cenário a “estrangeirização” das terras, mudanças na legislação do uso de agrotóxico, transgênico, mudança no código florestal e a criminalização dos movimentos sociais no campo”, afirma o manifesto, que se encerra com um pedido de ajuda às famílias despejadas, por meio da doação de alimentos e lonas para a montagem de novos barracos, além de assessoria jurídica.
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