Kim Campos – Correio9

Todo ano no Dia Mundial Sem Tabaco acontecem várias campanhas que tentam conscientizar as pessoas com mensagens sobre os perigos do vício em cigarro, as doenças associadas e o número de mortes que isso causa. Em 2017, o Centro de Oncologia de Colatina (Ceonco) resolveu se apropriar de um foco diferente para propagar a conscientização. Por meio da campanha #LargaDele, comparou o vício de fumar a relações amorosas destrutivas, que fazem mal.
A campanha foi desenvolvida pela agência Target Comunicação, com sede em Colatina e foi inspirada nas músicas sertanejas que abordam relacionamentos ruins e abusivos, que precisam ser superados e deixados de lado. A maioria dos fumantes tem vontade ou já parou de fumar, no mínimo duas vezes, voltando ao vício, por vários motivos, criando com isso uma relação de dependência ainda maior.
Mensagens como: “Paulo, ninguém aguenta mais essa relação. Tá sufocando a gente. #largadele” e “Regina, esquece o prazer, ele só tá enganando você. #largadele” foram espalhadas em outdoors teaser pelas ruas de Colatina, cidade sede da Ceonco para sensibilizar e chamar a atenção da população.
Nas rádios, foi veiculada a versão completa da música de 2 minutos que foi criada pela Agência Target, criando uma interação com o ouvinte, onde ele pode ligar e oferecer a música #LargaDele, para um amigo, um colega de trabalho ou um parente.
Também foram criados seis vídeos curtos para grupos de whatsapp com mensagens descontraídas como, por exemplo:
“Hoje é sexta-feira. Dia de ir pra balada, dia de vestir roupa nova, dia de dar umas bitocas por aí, dia de tomar uma cervejinha. Aproveita essa animação toda pra parar de fumar, que tal?”
“Nosso objetivo principal era fazer uma campanha antitabagismo sem ter que, necessariamente, usar mensagens tristes ou que causassem impacto remetendo à doença ou à morte. O posicionamento de nosso cliente é o contrário disso. Procuramos incentivar, motivar e estar perto das pessoas. Por isso, a importância de uma mensagem mais leve, mas que também se comunicasse com o interlocutor de forma eficiente, falando tanto com os fumantes quanto com as pessoas que se preocupam com eles, para assim fazer com que todos parassem para pensar no assunto”, conta a diretora da Target, Zuliane Campos Pessin.
“O que mais nos preocupa são os altos índices de mortes ocasionadas pelo consumo de tabaco, cada vez mais crescentes. Considerando estas estatísticas, solicitamos que algo fosse feito com o intuito de alertar sobre os danos que o vício pode causar e também tentar, de alguma maneira, despertar no fumante a vontade de parar de fumar”, concluiu o Dr. Francisco Schifller Netto, oncologista do Ceonco, que concedeu entrevista ao Correio9. (Confira mais abaixo)
O Centro de Oncologia de Colatina, presente desde 2006, é especializado em tratamento de alta complexidade, incluindo o câncer e doenças autoimunes. Seu diferencial está no atendimento humanizado ao paciente, sendo a primeira clínica especializada no Norte do Estado do Espírito Santo.

Confira entrevista com o Dr. Francisco Schifller Netto, oncologista do Ceonco
Para marcar a data de 31 de maio, Dia Mundial do Combate ao Tabagismo, oCorreio9 ouviu o Dr. Francisco Schifller Netto, diretor do Centro de Oncologia de Colatina, que desde 2006 é especializado em tratamento de alta complexidade, incluindo o câncer e doenças autoimunes. Confira:
CORREIO9 – Nas embalagens de cigarro há o aviso de que o produto contém milhares de substâncias carregadas de agentes químicos. Quais os danos potenciais que esses agentes podem causar a quem faz o uso deles diariamente?
DR FRANCISCO – O Tabagismo é considerado uma doença de dependência física e psicológica muito parecida com o que ocorre no uso de cocaína e heroína. A substância causadora da dependência é a nicotina nos produtos à base de tabaco. Com o consumo, os fumantes inalam mais de 4.700 substâncias tóxicas, como: monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína, além de mais 40 substâncias comprovadamente cancerígenas, sendo as principais: arsênio, níquel, benzopireno, cádmio, chumbo e resíduos de agrotóxicos.
CORREIO9 – Qual a principal orientação que o senhor passa a quem queira abandonar de vez o cigarro?
DR. FRANCISCO – Em primeiro lugar, temos que ter a consciência que o fumante é um dependente químico, e quando se tenta parar sem um bom planejamento, o paciente se depara com um imenso desconforto físico e psicológico. Entender este sofrimento como parte de uma doença é o passo fundamental para o plano de interrupção do tabagismo. O paciente deve, em minha opinião, buscar um apoio profissional, para que sua decisão de parar de fumar possa ser facilitada com o uso de sintomáticos e medicamentos prescritos por um profissional da área.
CORREIO 9 – Daria para listar os possíveis tipos de câncer que podem ser causados pelo cigarro?
DR. FRANCISCO – O cigarro tem relação com vários tipos de câncer, sendo os mais frequentes os de pulmão, de cabeça e de pescoço. Além destes existem relação direta com muitos outros como esôfago, estômago, pâncreas, bexiga, rins, leucemias, entre outros. Em relação ao risco de câncer não há limite seguro para o uso do tabaco.
CORREIO 9 – Fale sobre o câncer de boca. O fumante, mesmo que entenda não ter nada precisa ir ao médico para examiná-la?
DR. FRANCISCO – O câncer da boca pode ser detectado pelo próprio paciente através da observação de algumas alterações, como feridas na boca ou nos lábios que não cicatrizam, ou manchas na língua, gengivas, lábios e bochechas; nódulos no pescoço e presença de rouquidão duradoura. Em caso de diagnóstico tardio pode ocorrer dor para mastigar e engolir; e alterações na fala. É muito importante salientar, que todos estes sintomas podem ocorrer com muita frequência em doenças benignas, e que o diagnóstico apenas pode ser confirmado por uma biópsia.
CORREIO9 – Há um possível autoexame, isto é, a pessoa examinar a própria boca diante do espelho?
DR. FRANCISCO – Existe a possibilidade – como citado anteriormente – de o paciente notar algumas lesões, que podem ser relacionadas com diagnóstico de câncer da boca. Porém, não há nada que indique que o autoexame da boca seja eficaz como forma de prevenção. As pessoas em geral têm dificuldade em diferenciar lesões potencialmente malignas de outras normais. Nestes casos pode haver negligência em relação a um possível diagnóstico precoce.
CORREIO9 – É possível que o cigarro seja erradicado algum dia da vida de todas as pessoas?
DR. FRANCISCO – Existe o Programa Brasileiro de Controle e Erradicação do Tabagismo, que inclui o Ministério da Fazenda (que define regras de tributação e impostos), o INCA (que estabelece programas para o diagnóstico, acompanhamento e tratamento de doenças relacionadas) e a ANVISA (que faz a análise das substâncias contidas no cigarro , bem como regras associadas à propaganda, exposição e merchandising de cigarros bem como o registro das marcas comercializadas no Brasil). Como em muitos outros países, com programas muito mais efetivos do que os nossos, houve diminuição de consumo, mas em populações não há registro de erradicação de fato.
CORREIO9 – Ao olhar a boca de um fumante já se percebe diferença em relação ao não fumante, em outros quesitos que não seja necessariamente um câncer?
DR. FRANCISCO – Os efeitos do cigarro na saúde bucal, vão muito além dos dentes amarelados e escurecidos do fumante. Além do câncer de boca, que citamos anteriormente, é muito frequente a gengivite e a doença periodontal , que pode levar à perda dental e a halitose.
CORREIO9 – Fale sobre a campanha promovida Target Comunicação, encomendada pela Ceonco.
DR. FRANCISCO – A campanha foi realizada com a intenção de chamar a atenção e esclarecer sobre os malefícios do cigarro, porém, de uma forma mais sutil. Para nós não houve nenhuma surpresa no sucesso e na repercussão da campanha, pois a TARGET tem se caracterizado por um nível de trabalho acima de quaisquer expectativas. Estamos com eles há aproximadamente 3 anos e eles nos surpreendem positivamente em cada projeto proposto.
CORREIO9 – Faça suas considerações finais.
DR. FRANCISCO – O tabaco é um produto consumido mundialmente por homens e mulheres, sem distinção de cor, de renda, de idade ou de qualquer outra classificação. É também um produto responsável por milhões de mortes anuais e problemas relacionados aos hábitos de vida e saúde. Mesmo causando tantos males, as pessoas ainda insistem no consumo e ignoraram os prejuízos que adquirem ao fazer uso do cigarro. Há também aqueles que têm consciência dos danos, mas, como estão presos ao vício devido às substâncias presentes no cigarro, não conseguem abandonar aquilo que os leva, literalmente, para o fundo do poço. Por isso, a necessidade de atentar para esse problema que é urgente. É necessário que os governos e a sociedade trabalhem juntos para desenvolver mais meios de combate à utilização do cigarro e de outras drogas, desconsiderando os valores econômicos envolvidos e dando maior ênfase à produção de uma melhor qualidade de vida e saúde para a humanidade.
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