Por Sandro Tótola
Diz-nos a Sagrada Escritura que Deus, Nosso Senhor, descansou no sábado. Ora, cabem aqui ao menos duas reflexões: primeiro, levando-se em consideração à ótica das religiões vetusto-testamentárias, para as quais o sábado começa às dezoito horas – rectius: pôr-do-sol − da sexta e termina no mesmo horário do Sábado, precisaríamos lançar novas luzes em nosso calendário, pois se entendemos que o sábado começa na sexta à noite e o domingo começa no sábado à noite, os demais dias, numa interpretação extensiva, começaria no dia anterior, às dezoito horas.
Mas, enfim, deixemos isso para lá e cuidemos da vida, porquanto envolveria uma série de discussões que nesse momento não é o propósito desse despretensioso artigo que, na verdade, destina-se a analisar um segundo aspecto sobre o sábado, precisamente, ele, o sábado, como o dia em que Deus descansou, que me parece muito mais importante.
Olhem só que legal, Deus também já ficou cansado e, após trabalhar seis dias na criação, tirou o sétimo dia de folga. Sem dúvida que nosso repouso semanal trabalhista guarda relação com a Bíblia, mais uma prova de como a religião interfere em nosso cotidiano.
Mas, andiamo! Penso eu que Deus descansou não porque estava cansado dos esforços empreendidos na criação do mundo e de todas as coisas, nem fisicamente(?!) e muito menos espiritualmente. Acredito que Deus tenha, na verdade, descansado de ser Deus. Sabe como é, tirar o telefone do gancho − como fazíamos há uns trinta anos − pra não atender aos chatos de plantão.
Na minha opinião, Deus quis descansar de ser Deus. Porque, convenhamos, ser Deus é pedreira! Pô, já pensou, ouvir bilhões de pedidos simultâneos, em inúmeros idiomas diferentes, vinte e quatro horas por dia e, às vezes, pedidos excludentes e contraditórios, como por exemplo dois pedintes clamando uma aprovação em um concurso para uma só vaga? Qual deles seria atendido? E tome trabalho do anjo guardião do livro da vida, pra saber o histórico de cada um, conhecer seus merecimentos para, então, saber a qual prece atenderia. Ainda tem o público que seria afetado pela escolha, o que a torna não somente uma questão de fé e boas obras.
Enfim, Deus descansa porque deve ser um saco ser Deus! Imagina você ali, sendo bajulado o dia inteiro durante uma eternidade, recebendo só elogios, não sendo contrariado em nada, sem ouvir uma piada, sendo a todo momento o Todo-Poderoso. A propósito, nesse aspecto, acredito que o Capeta seja até uma diversão para ele, aquele bichinho-de-pé que mais gostosamente incomoda do que dói. Bem, deixemos isso pra lá para não ferir o pseudo-brio da hipocrisia sensível…
Então Deus, para não entrar em Depressão, tira o sábado para descansar, o que realmente faz do sábado o melhor dia da semana, pois se Deus não trabalha, todas as repartições celestiais também folgam, vale dizer, é feriado no Céu!
E, se é feriado no Céu, é 0800 para tudo! A gente pode ficar à vontade para fazer tudo, sem qualquer remorso! Agora, sempre lembrando que é um dia neutro, e se nada é anotado, dar esmola também não é computado, de forma que, se estiver esperando fazer render seu galardão, não faça investimentos no sábado, pois não cai na conta.
Sob esse olhar, o sábado, na verdade, é o dia do homem o que, a propósito, já deixou claro Nosso Senhor Jesus Cristo, quando disse que “o sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado”!
Sabademos, meus irmãos!
* O autor é advogado, vocalista, baixista e colaborador do Correio9. (Reflexões ‘psicoalcoolgrafadas’ em O Deck, Eunápolis – BA)
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