CRÔNICA
Rodrigo Neves
Até os 11 anos, Laura, era um doce de menina. Nunca se ouviu falar nada ao seu respeito. Menina de boa educação, bons costumes, etc., etc. Os pais tinham o maior orgulho da filha: “Isso que filha!”. Aos 12 anos o primeiro beijo. Foi uma beijoca, num rapazola que estudava na mesma escola. Daí para frente não parara mais de beijar; beijou Fulano, Sicrano, Beltrano, etc., etc., até um primo, que viera visitá-la, beijou. Com quinze anos estava decidida: “Quero perder a minha virgindade!”. Perdera sua castidade aos 15 anos, foi com um rapaz bem mais velho que ela, ele tinha na faixa dos 25 anos. Foi em uma dessas visitas à casa duma amiga. Laura estava maravilhada com ato consumado. Sentia-se felicíssima, já que era apaixonada por Rogério. Excitada de vaidade, confessou para a sua amiga: “Disse que não era virgem. Que gostava com força!”. Relatou ainda que sentira muita dor no começo; mas depois… “Que homem!”. Não se continha de alegria. Os dois, desde então, encontravam-se todos os dias, às escondidas, parece que era na casa de uma prima de Laura. Os pais nem cogitavam tal ideia da filha. O susto veio depois de três meses passados. Laura passara muito mal na escola; sentia-se enjoada, chegou até vomitar. Foi levada ao hospital. Lá fizeram alguns exames, etc., etc. O médico foi frontal:
— Está grávida!
A mãe deixara a cara cair no chão. Ficou petrificada. A face empalideceu, parece que estava morta. Laura não queria acreditar no que ouviu: “Não pode ser!”. Não acreditava que pudesse está grávida: “Mas tomei tanto cuidado!”. O problema era como ia comunicar a desonra ao pai. A mãe já deu o tom: “Não digo nada. Você que diga!”. Quando o velho soube virou uma fera, já foi berrando: “Quem é o crápula!”. Laura se retraiu, tivera medo do que o pai faria com o amado. No começo hesitou; só chorava. O pai foi categórico:
— Diga logo. Que vou meter uma bala na boca desse cachorro!
Laura apavorada:
— Isso não, papai! Eu o amo.
— Vai ter que casar!
Laura contou toda a história; mas o fizera prometer que não faria nada com Rogério. “Se ele meter a besta, dou-lhe um tiro na boca!”. Seu Amado encontrou-se com Rogério no meio da rua. A conversa foi rápida; não se pode conversar e nem deixar um homem armado nervoso, ainda mais quando o revólver está na sua boca:
— Caso até agora!: — respondeu Rogério.
O casamento
O casamento foi feito às pressas, pois não queria que ninguém soubesse do fato. Uma cerimônia simples, poucos convidados, etc., etc. Casaram-se. Na noite de núpcias nenhuma novidade, apenas fizeram o que já vinham fazendo. Rogério era um bom esposo, eles se amavam. Laura que engordara um pouco: “Já não bastava…”, Rogério a elogiava: “Deixa disso, mulher. Está lindíssima!”. Aí ela se sentia a mulher mais feliz do mundo, e o beijava. O ambiente mudara de pau para cavaco, depois do nascimento do filho. Ele começou a beber, fumar, chegar tarde em casa. Perdeu o rumo. Já se sabia que não gostava do trabalho e, nada que o levasse até ele. A partir daí as coisas mudaram. Começou a bater em Laura, até na frente do filho recém-nascido. Quando a mãe perguntara o que eram aquelas marcas, ela omitia:
— Cai da escada!
— Sei. Aquele canalha anda lhe batendo?
Com o rosto tomado pela vergonha e desespero, não disse nada, apenas acenou com a cabeça que sim. A mãe saltou: “Seu pai ainda mete uma bala na cara daquele canalha!”:
— Isso não, mamãe! Ele anda muito estressado.
Rogério continuou bebendo, fumando, batendo. Só parava quando o dinheiro acabava, aí tratava a esposa bem; beijava-a até lhe faltar o ar, a coitada quase morria sem ar. Quando conseguia o dinheiro, continuava tudo outra vez. A bobinha ficava suspirando: “Ele me ama… eu sei!” Não tinha jeito, uma prima tentou aconselhá-la a arrumar outro homem:
— Não quero outro. Eu gosto só de um, só de Rogério.
Amava-o doentiamente. Nada que dissessem a fazia mudar de ideia. Mas quando o pai ficou sabendo por umas dessas tias mexeriqueiras que a filha apanhava; bravejou que matava o desgraçado.
O fim
O pai de Laura estava enfurecido, chegou à casa de Laura com a arma nas mãos, e foi logo perguntando onde estava o vagabundo. Ela ficou petrificada, não disse uma palavra sequer; estava envergonhada com aquilo tudo.
Tinha medo que o pai matasse o marido, que até desmaiou. O pai foi frontal: “Hoje eu mato aquele biltre!”. Antes tivesse matado quando ainda não tinham casado, disse ele. Quando ela acordou, depois de 2 minutos, chorava como nunca chorara. Disse ao pai o quanto amava o marido, que não conseguiria viver sem ele, que ele ia mudar:
— Ele muda, papai!
— Só morto!
— Ele pode me bater, papai; mas eu sei que me ama. Quando ele me beija sou a mulher mais feliz deste mundo.
* O autor é estudante do curso de licenciatura em Geografia do IFES – Campus Nova Venécia
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