Antonio Emílio Borges
De alguns anos para cá, especialmente a partir das eleições de 2018, os brasileiros passaram a dar mais importância à Política (com “p” maiúsculo mesmo, de ciência), a perceber o quanto ela influi em nosso cotidiano e a se envolver de maneira mais direta com os assuntos políticos.
Já não era sem tempo! Basta ver que nos dias hoje as pessoas sabem mais os nomes de alguns dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal do que dos onze titulares da Seleção Brasileira de Futebol. Algo inimaginável algumas décadas atrás, quando muitos brasileiros sequer sabiam da existência do STF.
A partir desse maior envolvimento e interesse com as questões políticas, as pessoas também passaram a se identificar ou reconhecer os perfis ideológicos com os quais têm mais afinidade. As famosas diretrizes de Direita/Esquerda/Centro e os partidos que as representam. Até algum tempo era comum – e até justificável, diga-se de passagem -, encontrarmos cidadãos simpáticos a uma linha ideológica e filiados em partidos com ideais contrários aos que acreditam. Hoje não. O amadurecimento da política em âmbito nacional já não permite esses equívocos. As linhas divisórias estão bem perceptíveis e ninguém mais consegue permanecer em erro ou se enganar no caminho que resolver trilhar. Algo que já é notório na sedimentada democracia americana: se alguém é a favor do livre mercado; de um Estado de pequenas proporções; se é conservador, tem viés Republicano. Já se entende que o Estado deve cuidar de quase tudo, inclusive do mercado; se é progressista nos costumes; desarmamentista; por certo sua identificação é com os Democratas, uma linha socialista. Essa definição começou a aparecer de forma mais cristalina em nosso país e isso sem dúvida, é benéfico. Antes de lutar por algo, todos deveriam saber porquê estão defendendo aquilo.
Por outro lado, a grande maioria dos brasileiros ainda não percebeu que essa definição cultural, política e social, esse posicionamento – chamado por muitos a meu ver equivocadamente de polarização – é necessário, coerente, ético e acima de tudo, salutar.
O que não é salutar é não enxergar nessa definição do posicionamento alheio uma característica própria da democracia e do Estado de Direito pluralista em que vivemos. E é necessário muito mais do que “apenas” enxergar: precisamos amadurecer, criar maturidade política para respeitar e conviver com o posicionamento divergente. O que não acontece atualmente. Quem pensa diferente de mim não é meu inimigo. Ao menos deveria ser assim.
Grande parte dessa intolerância atual se deve, acredito, por estarmos diante de uma ruptura ideológica de poder em nível federal após décadas. E mudanças drásticas à qual não estávamos acostumados geralmente são traumáticas. Mas também é um grande aprendizado. Está na hora de aprendermos que a democracia não é feita só com o “meu” ponto de vista e que essa dualidade será realidade no país daqui para a frente.
* O autor é ex-presidente da Câmara Municipal de Nova Venécia
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