Sábado, 06 de maio, 21h40. A família Sélia recebe a notícia da qual não queria ouvir: “Moa está morto”. A tristeza tomou conta de todos e aos poucos os familiares do ex-vereador veneciano Moacyr Sélia Filho, de 60 anos, informavam aos amigos e parentes mais próximos o triste acontecimento.
O portal do jornal Correio9 foi o primeiro veículo de comunicação a anunciar o fato e logo depois a matéria começou a ser replicada nas redes sociais, especialmente pelo aplicativo de mensagens WhatsApp. Ainda na noite de sábado, praticamente toda a cidade já havia recebido a notícia de sua morte.
Moa faleceu no Hospital São Bernardo, em Colatina, por falência múltipla de órgãos. Ele foi internado no último dia 03 de maio na unidade hospitalar e estava na UTI; também estava com pneumonia, não resistiu e veio a óbito.
TRABALHO
No seio de sua família, Moa era sinônimo de batalhador. Ainda jovem nos anos 70, trabalhou com Contabilidade e também exerceu atividades numa fábrica de cama, mesa e banho. Depois foi morar em Vitória. Ele também se aventurou nas áreas de paisagismo e arquitetura. Gostava de artes, chegou a pintar diversos quadros e fazer esculturas. Mas foi como cabeleireiro que descobriu sua real vocação e retornou para Nova Venécia para abrir um salão de beleza. Nos anos 80, construiu uma grande clientela em Nova Venécia e região, pois, além dos cortes femininos e masculinos, se especializou em arrumar noivas e era considerado o melhor na área. No início dos anos 90, deu um salto maior e reinaugurou o ‘Salão do Moa’ onde hoje ainda funciona, no Edifício Grillo, próximo à Ponte Cristiano Dias Lopes. Naquela época, o salão era considerado um dos maiores e mais requintados de todo o Estado (nem na Capital havia luxo igual).
POLÍTICA
Depois de exercer por várias décadas a profissão de cabeleireiro, Moa achou que era hora de fazer algo a mais e resolveu se candidatar para vereador, pois dizia que queria contribuir com o município de Nova Venécia. Em 1996 ele se lança candidato, porém, a votação de pouco mais de 300 votos não foi suficiente para conquistar uma vaga na Câmara. Em 2000, ele tenta novamente e obtém 289 votos e não consegue se eleger. Quatro anos mais tarde, em 2004, e já na terceira tentativa, Moa é eleito vereador com 740 votos. De tanto persistir e lutar pelo que desejava, conquistou seu primeiro cargo eletivo. Em 2008, foi reeleito com 871 votos e em 2012 chegou ao terceiro mandato, com 765 votos.
Neste período de três mandatos como vereador, ele assumiu a presidência do Legislativo veneciano no biênio de 2006 a 2008, quando liderou uma revolução pela transparência e zelo pelo dinheiro público, descobrindo diversas irregularidades na Casa de Leis de Nova Venécia e realizando denúncias ao Ministério Público, que culminaram em condenações.
Em seu mandato como presidente, fez economias no Poder Legislativo e chegou a devolver quase R$ 1 milhão aos cofres da prefeitura, recursos que o Executivo reinvestiu em benfeitorias para a comunidade. Na política, sua marca mais forte foi o combate à corrupção.
VISIBILIDADE
Homossexual assumido, Moa foi um dos pioneiros na luta contra o preconceito de gênero ainda no início dos anos 80, e levantou a bandeira dos direitos LGBT. Por ser o primeiro transexual a assumir a presidência de um Poder Legislativo no Brasil, virou manchete em toda a grande imprensa capixaba e também do país. Reportagens suas já foram publicadas nos jornais O Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Zero Hora e outros. Em 2009, foi entrevistado por Jô Soares em seu programa na Rede Globo de Televisão.
DESPEDIDA
O corpo do ex-vereador chegou ao município de Nova Venécia ainda na madrugada de domingo (07) e foi velado na Capela Mortuária do Município de Nova Venécia (obra que foi erguida devido devolução de recursos da Câmara Municipal em seu mandato como presidente). Durante todo o dia centenas de pessoas passaram por lá para dar o último adeus a Moa. Amigos de longas datas vieram de Colatina, de Linhares, São Mateus e outras cidades para a despedida. Vários vereadores, o prefeito Lubiana Barrigueira e os ex-prefeitos de Nova Venécia, Walter De Prá, Antônio Moreira e Adelson Salvador também estiveram em seu velório, além do senador Magno Malta.
O sepultamento ocorreu às 17 horas, no Cemitério São Marcos e seu corpo foi para o mesmo jazigo onde já descansam seu pai Moacyr Sélia e sua avó Marcelina Bonomo.
FAMÍLIA
Moa não tinha filhos. Ele morava com sua mãe Zaida na Rua Colatina, em Nova Venécia. Moa tinha dois irmãos, Creuza e Roberto, e cinco sobrinhos: Magno, Jorge, Moara, Louise e Thalys.
HOMENAGENS
Em razão do falecimento do ex-vereador, a Câmara Municipal de Nova Venécia suspendeu as atividades legislativas no período de 8 a 10 de maio, portanto, não haverá sessão nesta terça-feira, 09. As bandeiras da Casa de Leis também estão à meio mastro e a Prefeitura de Nova Venécia decretou luto de três dias. Um projeto de lei também foi apresentado para que o prédio da sede do Legislativo Veneciano venha a se chamar ‘Moacyr Sélia Filho’, numa grande e justa homenagem em sua memória.
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