Por Elias de Lemos (Correio9)
A vida da professora Eglieni Trevezani, de 39 anos, seguia cheia de planos. Ela estava às vésperas de seu noivado com Anderson Lucas Zanol. O ano era 2016, o noivado aconteceria no dia 10 de setembro e o casamento em maio do ano seguinte, mas, de uma hora para outra, os planos mudaram. Três dias antes da festa, ela se surpreendeu ao descobrir um nódulo na mama esquerda.
A descoberta foi através do autoexame. Ela disse que ficou preocupada, especialmente porque dois anos antes seu pai tivera câncer pulmonar.
Segundo ela, os sintomas eram coceira e fisgadas na região do tumor, localizado na borda esquerda da mama.
Logo, procurou um mastologista, o qual solicitou uma ultrassonografia. Em seguida, o médico pediu uma biópsia, que foi feita um mês depois e o resultado chegou após três dias, por e-mail.
Eglieni contou que estava na escola trabalhando e foi lá mesmo que ela viu o resultado do exame: “O chão abriu debaixo dos meus pés, mas foi por pouco tempo, acreditei logo que passaria”.
Na sequência da investigação, fez uma ressonância para verificar as glândulas da axila, a qual não acusou nada. O passo seguinte foi a cirurgia para a retirada do nódulo.
Porém, durante a operação, descobriu ramificações da doença em duas glândulas da axila esquerda, o que a obrigou a fazer uma segunda cirurgia, ambas realizadas no Hospital Santa Rita, em Vitória. Apenas o tumor e as ramificações foram retirados, sem causar mudança física.
Ela possuía plano de saúde, mas optou pelo tratamento público oferecido pelo SUS. E ela destaca que foi tudo muito rápido e de qualidade.
Realizadas as cirurgias, o tratamento foi continuado com a realização de quimioterapia e radioterapia.
Daí, o casamento que havia sido adiado, foi remarcado. No entanto, o tratamento e a investigação do caso continuaram.
A médica pediu um mapeamento genético, que para seu alívio, foi todo negativo, portanto, seu organismo não possui predisposição hereditária para a doença. Aí ficou a pergunta: quais fatores teriam desencadeado o processo de formação do câncer? A resposta: fatores externos como, por exemplo, o modo de vida, alimentação, medicamentos que ingeriu ao longo da vida e uso de contraceptivos.
Segundo ela, nesse período o seu maior desgaste foi a busca da cobertura da sua licença médica pelo INSS. “É muita burocracia e a pessoa do outro lado da mesa não sabe o que a gente está passando, que está em uma corrida contra o tempo”.
Outro incômodo foi a pressão médica para a realização de novas cirurgias, mas ela conta que soube lidar com isso.
Como ela enfrentou o processo de tratamento
Eglieni tinha cabelos longos, cujos fios começaram a cair logo que começou o tratamento químico, mas, segundo ela, não ficou preocupada com isso. “Notava que as pessoas nas ruas ficavam mais chocadas do que eu”, contou.
Ela é moradora da cidade de São Domingos do Norte, uma cidade pequena (8.638 habitantes). “Lá todo mundo se conhece ou sabe quem é quem. No dia em que raspei minha cabeça sai de casa e dei uma volta completa pelo centro da cidade, queria que todos vissem logo. Foi um choque para muita gente, principalmente para os homens, mas me senti aliviada”, disse.
Por outro lado, ela ressaltou a solidariedade e cooperação que recebeu em sua cidade. “Além da minha família, meus amigos, vizinhos e conhecidos me apoiaram muito. Não me senti só, me senti acolhida, abraçada”, declarou com lágrimas nos rosto.
Com os longos cabelos que lhe foram retirados ela mandou fazer uma peruca, porém, não se adaptou por causa do calor. Então passou a usar lenços.
Seu casamento com o Anderson aconteceria no dia 27 de maio de 2018, e a data se aproximava; mas havia um porém: Eglieni queria um coque, mas estava “carequinha”. No entanto, como vinha fazendo sempre, mais uma vez ela arranjou uma solução: com os cabelos da peruca, encomendou um mega hair, e o problema foi resolvido.
Depois do casamento, ela doou todo o cabelo para o Hospital Santa Rita, onde realizara o tratamento e passou a visitar frequentemente.
A reação do noivo
Eglieni disse que Anderson recebeu bem o diagnóstico e que esteve ao seu lado em todos os momentos. “Certo dia ele me disse: você está aí, só falta o cabelo”, falou emocionada. E completou: “O nosso casamento foi só a confirmação com o padre, porque já vivíamos na saúde e na doença, na alegria e na tristeza”.
Ela narrou que durante este período, conheceu muitas pessoas na mesma situação. E contou que no hospital encontrou muitas mulheres cujos maridos abandonaram ao saber do diagnóstico, pessoas que enfrentam a situação sem nenhum apoio.
Aliás, a quantidade de pacientes do Sul do Espírito Santo chamou a sua atenção. Ao procurar descobrir a razão disso, foi informada de que a maioria absoluta dos casos estava ligada ao uso de agrotóxicos nas lavouras.
O que mudou durante e depois do tratamento
Ela conta que procurou manter uma vida “normal”, apesar de todas as adversidades. Descobriu um novo modo de se alimentar, deixou de consumir glúten e leite; passou a ingerir alimentos orgânicos e tapioca.
Ao consultar uma nutricionista, recebeu a sugestão para fazer academia e, assim, ganhar massa muscular. Mas, como praticar exercícios físicos com uma cirurgia embaixo do braço? Isto não foi problema.
Na Academia Corpo Ideal, de São Domingos do Norte, ela encontrou os professores Kaique Santana e Roberta Camporez Fávero. Eles elaboraram um programa de exercícios com elástico, sem o uso de pesos e com reduzido esforço físico.
Curiosamente, durante o tratamento, sem longa cabeleira, um amigo lhe convidou para fazer algumas fotografias. Ela aceitou e gostou tanto que passou fotografar e fez um book documentando o período em que esteve doente.
O que mudou na sua vida pós-tratamento
“Acabou a ansiedade. Hoje vivo um dia de cada vez, porque a morte vem para qualquer um e a qualquer hora. As pessoas dão valor ao que não tem valor nenhum”, disse.
Agora, Eglieni está casada e feliz sonhando em ser mãe; para isso, está em processo de preparação.
Às mulheres que estão passando pelo mesmo enfrentamento ela diz: “Tem que confiar, pois tudo na vida é momento e todo momento passa. Entregue a Deus, confia e espera que tudo vai dar certo. O emocional fica muito afetado, mas é preciso encarar com otimismo e alegria”.
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